terça-feira, 19 de fevereiro de 2019

A crise diplomática envolvendo EUA e a gigante Huawei

Empresa chinesa, detentora do projeto de conectividade intercontinental via fibra óptica entre a África e o Brasil, é acusada pelos Estados Unidos de espionagem e sabotagem cibernética

        Por Jornal GGN

Ren Zhengfei. Reprodução/Vídeo


Jornal GGN – Em entrevista à BBC News o fundador da Huawei, Ren Zhengfei, declarou que “não há a menor possibilidade de os Estados Unidos destruírem” a companhia privada chinesa, considerada hoje a maior fornecedora do mundo de equipamentos para redes de telecomunicações.

“Se as luzes se apagarem no Ocidente, as do Oriente se acenderão. Se as do Norte se apagarem, ainda há as do Sul. Os Estados Unidos não representam o mundo. Os Estados Unidos representam uma parcela do mundo”, afirmou Ren Zhengfei ao jornal britânico

Em dezembro, sua filha e diretora financeira da companhia, Meng Wanzhou, foi detida pela polícia canadense a pedido dos Estados Unidos. Os norte-americanos acusam Meng e a Huawei da prática de lavagem de dinheiro, fraude bancária e roubo de segredos tecnológicos. A executiva foi libertada logo em seguida, mas encontra-se sob vigilância no Canadá enquanto tramita um processo de extradição para os EUA.

Na última semana, Make Pompeo, secretário de Estados dos Estados Unidos, ameaçou os países aliados dizendo que seria “mais difícil manter a parceria” com aqueles que usarem tecnologia da Huawei na implementação de redes 5G.

“Os Estados Unidos gostam de aplicar sanções aos outros. Sempre que há algum problema, eles usam esse tipo de método. Somos contra isso. Mas agora que já estamos nesse caminho vamos esperar a Justiça decidir”, disse Ren.

A Agência de Segurança Nacional dos EUA alegou, ainda, que a Huawei, apesar de privada, pode ajudar o governo chinês a realizar espionagem ou sabotagem cibernética. Segundo os norte-americanos, o risco de usar equipamentos de telecomunicações da chinesa é muito alto e isso terá implicações militares.

Sobre essas alegações, Ren pontuou que jamais permitiria espionagem em favor do governo chinês. “Não vamos arriscar ser alvo do desprezo do nosso país e de nossos consumidores no mundo todo por algo assim. Nossa empresa nunca vai participar de qualquer atividade de espionagem. Se tivermos esse tipo de atividade, então eu fecharei a empresa”, pontuou.

Relatório britânico contraria EUA

Antes da declaração de Make Pompeo e logo após a prisão de Meng, Austrália e Nova Zelândia decidiram proibir a compra de equipamentos da Huawei na implementação da tecnologia 5G em seus territórios. Por outro lado, Alemanha, Reino Unido e Canadá analisam a questão.

Um relatório produzido pela inteligência britânica e divulgado pelo “Financial Times” no domingo (17) concluiu que é possível mitigar o risco de usar equipamentos da chinesa em redes 5G. Segundo o jornal, o relatório britânico é um golpe às intenções dos Estados Unidos de persuadir aliados a não fazerem negócios com a chinesa.

A prisão de Meng causou uma crise diplomática envolvendo China, Estados Unidos e Canadá. Na entrevista à BBC News, Ren Zhengfei ponderou que o ato contra sua filha teve motivações políticas, isso porque a Huawei detém hoje o posto de empresa “mais avançada” do setor.

Ele completou que a decisão dos EUA de banir a empresa do seu território não irá afetar seriamente a companhia. “Sempre podemos reduzir um pouco nossa operação”, ironizou.

Quando perguntado sobre a possibilidade de o Reino Unido seguir a decisão dos norte-americanos, o CEO respondeu: “Ainda confiamos no Reino Unido e esperamos que o Reino Unido confie em nós. Vamos investir ainda mais no Reino Unido. Se os Estados Unidos não confiam em nós, vamos deslocar os investimentos para o Reino Unido numa escala ainda maior.”

Huawei e o Brasil

A empresa chinesa é detentora do projeto Nexans de conectividade intercontinental via fibra óptica entre a África e o Brasil, pelo Atlântico Sul, concluído em setembro de 2018. A Huawei também está em dois projetos mundiais de telecomunicações de alta velocidade.

Em novembro passado, a companhia anunciou no 9º Fórum Global de Banda Larga Móvel a entrega das primeiras 10.000 estações rádio base 5G pelo mundo, a assinatura de novos contratos comerciais e fez demonstrações de banda larga doméstica de 5G.

A Huawei mantém, ainda, desde 2013, uma parceria com o Centro de Pesquisa e Desenvolvimento em Telecomunicações (CPqD), na condução de um laboratório em Campinas (SP) onde são realizados testes para a avaliação de conformidade e certificação de tecnologias como redes ópticas para transmissão de alta velocidade (GPON) e núcleo de rede de alta velocidade.

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