Ele, o mentiroso.
The Intercept Brasil
Vocês que assinam nossa newsletter souberam antes de todo mundo: o ministro do Meio Ambiente Ricardo Salles era apresentado por aí desde 2012 como “mestre em Direito Público pela Universidade Yale”. Nós corremos atrás dessa informação por dias até que Yale nos respondeu: nenhum registro dele por lá. A assessoria de Salles no ministério simplesmente se negou a nos dar qualquer informação antes que publicássemos a matéria.
Mas o ministro foi forçado a admitir publicamente: seu título de Yale jamais existiu, é uma farsa.
Depois de sete anos fazendo carreira, conquistando cargos e ganhando dinheiro em cima de uma mentira, Ricardo Salles finalmente foi desmascarado.
Salles só fez isso por causa da repercussão: o assunto foi trending topic no Twitter e vocês, nossos leitores, pressionaram Vossa Excelência com muita força – já que quase toda a equipe do TIB está bloqueada por ele, por diversos outros ministros, pelo presidente Jair Bolsonaro e por seus filhos. Vocês perguntaram durante horas seguidas no Twitter se o título dele era verdadeiro, pediram para que ele postasse seu currículo, trocaram até seus nomes no Twitter por “Fulano com mestrado em Yale”.
Ricardo Salles não suportou.
Mas seguiu a cartilha do governo do qual faz parte, que tem entre seus principais predicados a covardia. Mesmo admitindo que não estudou em Yale, Salles usou uma nota mambembe da TV Cultura para se escorar – a emissora é controlada historicamente pelo PSDB no qual Salles se criou – e no fim das contas culpou sua “assessoria” pela mentira. Sabe-se lá se Salles sequer tinha assessores à época.
No meio do caminho, o excelentíssimo nos chamou de “jornaLIXOS”. Jornalismo bom, pra ele, é o subserviente que publica notas sob encomenda ou faz entrevistas de joelhos. Se o parâmetro for esse, por favor, vamos manter o TIB no lixo, onde é nosso lugar.
A natureza do trabalho jornalístico é cruel: por mais confiável que a fonte seja, ela nunca é confiável o suficiente. A mentira do título de Yale se espalhou depois que a Folha de S. Paulo publicou — sem checar — um artigo de Salles no qual ele assinava como mestre em direito. O jornal não publicou o currículo por maldade: ele apenas acreditou em Salles (ou em seu assessor hshs). E, confiando na credibilidade da Folha, o maior jornal do país, vários sites erraram ao reproduzir o factoide sem confirmação independente.
É justamente por coisas como essa que o jornalismo custa cada vez mais caro. Aqui no TIB, investimos em uma política de checagem de fatos, feita sempre antes da publicação de nossas matérias: nomes, datas, documentos, declarações – tudo o que for passível de checagem passa por uma varredura. E isso depois que ao menos dois de nossos editores leram as matérias e fizeram tudo para desacreditar as informações, para derrubar as reportagens. Se depois de todo esse bombardeio elas param em pé e são publicadas no site, é porque são sólidas. Mas mesmo assim, é o tipo de erro que também nós somos suscetíveis a cometer. O jornalismo é uma profissão difícil e laboriosa. É preciso ser eternamente vigilante. Atalhos acabam às vezes dando a volta para te morder. Infelizmente os cortes de recursos nas redações oferecem cada vez mais atalhos com dentes perigosos.
O TIB tem a sorte de ter financiamento. Mas nosso caixa é limitado anualmente, e se queremos trabalhos melhores e ainda mais fortes por aqui, temos que ir atrás de outras fontes de receita. Por isso contamos com você. Se você acredita que nosso trabalho é importante e que devemos continuar, ajude o TIB e seja parte da nossa história.
Editor Executivo
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