Trump foi uma resposta errada a um problema real, a globalização financeira que enriqueceu bilionários e empobreceu a grande classe média americana, através de uma nunca vista concentração de riqueza.
Depois de Trump: a elite americana e o futuro do império
por André Motta Araujo
O Presidente Donald Trump é um ponto fora da curva na Presidência dos EUA. Um homem intelectualmente despreparado, sem visão de História. Produto do baixo marquetismo dos “reality shows” e dos “concursos de miss”, Trump foi empresário desses entretenimentos popularescos.
Trump foi uma resposta errada a um problema real, a globalização financeira que enriqueceu bilionários e empobreceu a grande classe média americana, através de uma nunca vista concentração de riqueza. A globalização financeira foi ótima para os mercados financeiros e péssima para grande parte da população, o que em todo o mundo abriu caminho para populismos, a maioria curiosamente de direita, que ao fim do dia são a favor e não contra o processo de globalização financeira e concentração de renda.
A população votou então em quem vai piorar e não melhorar sua situação, o discurso dos populistas são falsos no mundo inteiro, eles não vão combater a globalização, vão aprofunda-la e aumentar a pobreza .
OS SEIS HOMENS SÁBIOS QUE CONSTRUÍRAM O IMPÉRIO AMERICANO
O célebre livro de Walter Isaacson mostra o papel central da elite tradicional dos EUA na construção do Império que se seguiu ao fim da Segunda Guerra.
Os “seis homens sábios” foram Dean Acheson, Secretário de Estado de Truman; Charles Bohlen, Embaixador em Moscou no governo Eisenhower; W.Averrel Harriman, Secretário do Comércio, Governador de Nova York e Embaixador em Moscou durante vários governos; George Kennan, Embaixador em Moscou e principal estrategista do Departamento de Estado; Robert Lovett, Secretário de Defesa no governo Truman; John Mc Cloy, Alto Comissário na Alemanha ocupada após a Guerra.
Todos esses homens tinham espirito público elevado, faziam parte de uma elite intelectual e social que podia-se chamar de uma aristocracia de Estado, algo que despareceu do mapa políico atual, onde um empresário aventureiro da “lumpen burguesia” e sem qualquer lastro intelectual, gabarito social, qualquer ato conhecido de filantropia, não consta que tenha alguma vez na vida sido caridoso, com riqueza construída com chicanas, cassinos, trapaças imobiliárias, calotes em série, dirige como um motorista doido os Estados Unidos, usando o marquetismo populista de baixa extração como ferramenta, sem qualquer noção da grande geopolítica, de estratégia de longo prazo, de construção de alianças duradouras, vivendo de manchetes cavadas dia a dia, como encontros improvisados com o ditador norte-coreano sem agenda prévia negociada, em uma situação limite.
AS GRANDES FAMÍLIAS
No Século XX os Estados Unidos elevaram ao poder grupos familiares como um sucedâneo da nobreza britânica, classe que sempre fascinou os americanos.
Os Roosevelt foram a primeira aristocracia no poder americano no Século XX, Theodore e depois Franklin, já na segunda metade do Século os Kennedy, de origem irlandesa de imigração recente, depois os Bush, herdeiros de Prescott Bush, sócio do tradicionalíssimo banco Brown Brothers & Harriman, de dois séculos, já de origem humilde mas com excelente formação cultural Bill Clinton formou sua família política com a esposa.
Todas essas famílias fizeram parte do “establishment” político, os novos se integrando ao sistema. Já Trump nunca foi, nunca se integrou e nunca foi aceito pelo “establishment” político por ser um populista que se julga escolhido diretamente por seus eleitores, sem a intermediação do “establishment”. Trump é tolerado e usado pelo Partido Republicano mas jamais fez parte do “core” do partido, é e sempre será um ponto fora da curva, um estranho no ninho.
A aristocracia americana está presente no Congresso em larga escala, figuras como o falecido Senador McCain, como John Kerry, nos militares em grandes nomes como MacArthur, cujo pai foi governador das Filipinas, o General Mac Arhur foi o Comandante da guerra no Pacifico e depois Governador do Japão, o General George Marshall, grande comandante americano da Segunda Guerra, homem sofisticado e brilhante estrategista, foram esses os homens que construíram o Império Americano que hoje Trump cuida de desmontar, diminuindo seu papel histórico em todos os campos e continentes.
Haverá um “revival”, um renascimento dos EUA como Império? Há outros impérios em confronto e ascensão, estamos entrando em nova fase do mundo.
Há na História momentos de inflexão, cruzamento de inúmeras e profundas variáveis cuja compreensão exige um entendimento de suas causas próximas e remotas mas nada surge sem que placas tectônicas sociais e políticas tenham antes se movimentado para gerar o efeito na superfície, fenômenos aparentemente inexplicáveis como Trump, Brexit, Macron, Savini, tem suas sementes em cataclismas anteriores, foram plantadas muito antes.
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