Foto das redes sociais
A escolha ideal
Não há eleitor inocente nos que produziram a vitória nas urnas
O autor da cafajestada tuiteira que escandaliza as classes média e rica tem todo o direito de estar, ele sim, com o mais sincero e legítimo espanto.
Tudo o que levou a fazê-lo presidente veio de iniciativas dessas classes.
Não por acaso, as mais informadas sobre o tenentinho desordeiro, depois sobre o político estadual defensor da ditadura e das milícias, e logo o deputado federal que enriqueceu as características precedentes com duas demonstrações: a ignorância sem brechas e uma variedade insuperável de atos qualificáveis, desde sempre, como molecagens, cafajestices, falta de decoro e de educação, e daí para pior.
Não cabe falar em deselegância, em falta de sensibilidade.
Foram três décadas de exibição, bem exposta ao país pela comunicação em geral, até que esse personagem anômalo se revelasse o ideal, político e de governante, das classes média e rica para o Brasil.
O direitismo de Geraldo Alckmin e Henrique Meirelles foi desprezado como insignificância diante do “mito”.
O Jair Bolsonaro com título de presidente é o Jair Bolsonaro que todos, mesmo se dotados só de informações mínimas da política, puderam saber quem era, como era e do que se mostrava capaz.
E quem, em 30 anos, não teve sequer esse resíduo de informação, na campanha recebeu do candidato uma síntese bastante fiel da sua sedução pela violência, pela morte alheia, pelas palavras e atos moldados no primarismo feroz.
Não há eleitor ingênuo nesse drama brasileiro, se não for tragédia.
Não há, portanto, eleitor inocente nos que produziram a vitória nas urnas.
Nem mesmo o grande contingente dos evangélicos.
Do qual não se sabe se mais usou ou foi usado pela classe rica, na busca de um poder que só compartilham na aparência, enquanto afiam as lâminas.
Nas responsabilidades da classe média estão as dos militares, em particular a da oficialidade do Exército, ativa e reformada.
É imaginável que seu pudor profissional, já com muitos hematomas, esteja agora envolto em sentimentos misturados que a perplexidade silencia.
Aos olhos da paisanada, a formação do militar do Exército está sob muitas interrogações.
Não só pela figura central, mas também pelo endosso que lhe foi dado e pela associação que, noticiou o “Estado de S. Paulo”, já conta com mais de uma centena de militares em postos do governo.
Aos militares do núcleo de poder há que reconhecer o respeito demonstrado por suas funções, na relação com os cidadãos.
Nada de arroubos, nem de exibicionismo. Apesar de daí decorrer, também, o desconhecimento geral do que pensam esses militares, mesmo que só como definições de políticas públicas. E isso inquieta, porque é quase unânime a percepção do péssimo estado do país. E do que alguns ministros já começaram para piorá-lo.
Má conduta tuiteira tem a ver com o Ministério da Justiça, embora também com a área da comunicação.
O cargo de ministro pode ser um prêmio, ou retribuição, mas isso não dispensa de deveres.
O ex-juiz hoje é tão ministro quanto fugitivo: sempre fugindo de indagações a que não responde porque não disse, nem fez, o que as dispensaria, e era do seu dever.
Na casa de Sergio Moro, a vitória de Jair Bolsonaro teve comemoração, levada por sua mulher às redes sociais.
Prova de identificação que elimina as hipóteses de encontro com o inesperado, por parte de quem renegou a toga para estar ao lado de quem hoje escandaliza.
Moro leva a muitas afirmações de surpresa, entre seus admiradores, mas não pode se surpreender com “o mito”.
Jair Bolsonaro encerrou sua mensagem suja com este pedido: “Comentem e tirem suas conslusões” (sic). No que me cabe, pedido atendido.
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