
Suspeite do noticiário dizendo que determinado político assusta o mercado. Os considerados bons por ele costumam ser um fiasco quando eleitos.
Quase toda eleição é a mesma coisa. Durante o período de campanha eleitoral, os índices das bolsas de valores têm variação positiva quando os candidatos desejados pelo capital sobem nas pesquisas e variação negativa quando os candidatos não desejados pelo capital sobem nas pesquisas. Quando um candidato desejado pelo capital vence a eleição, há uma grande elevação do índice da bolsa de valores no dia seguinte. Quando o candidato não desejado pelo capital vence a eleição, há uma grande queda do índice da bolsa de valores no dia seguinte. Normalmente, os candidatos desejados pelo capital, que fazem a bolsa subir, são aqueles localizados à direita no espectro político. Há exceções, como nos Estados Unidos em 2016, quando o mercado financeiro “votou” na Hillary Clinton contra Donald Trump. Em países periféricos, como o Brasil, as eleições têm efeito não apenas na bolsa de valores, como no mercado de câmbio. A moeda nacional valoriza quando candidatos desejados pelo capital sobem nas pesquisas ou são eleitos, e desvaloriza quando candidatos não desejados pelo capital sobem nas pesquisas ou são eleitos. A imprensa ligada ao mercado financeiro superexplora este acontecimento, dando manchetes enormes para notícias sobre variações dos índices decorrentes de pesquisas eleitorais. É uma forma de intimidar os eleitores a votar nos candidatos favoritos do capital. Passar o recado “olha aí, se você não votar no candidato que a gente gosta, você vai bagunçar a economia”. Quer dizer que quem vota em candidatos não desejados pelo capital está bagunçando a economia? Não, pois as oscilações dos índices do mercado financeiro pouco têm a ver com a variação da produção e do emprego. Quem decide comprar uma ação depois de ver o candidato pró-capital subindo nas pesquisas não faz isso necessariamente porque enxerga que a empresa que emitiu a ação vai vender mais e ter mais lucro para distribuir aos acionistas, mas sim porque acha que o preço da ação vai subir por saber que outros farão o mesmo, já que as consultorias, as agências classificadoras de risco e a imprensa disseram que o preço da ação vai subir. Quando isso acontece, é possível vender a ação posteriormente e obter ganho. Imprensa, consultorias e agências classificadoras de risco são capazes de produzir profecias autorrealizáveis. Além disso, o mercado financeiro não é uma democracia, na qual cada cidadão tem um único título de eleitor. Do mercado financeiro, a maioria pobre não participa, a classe média participa com uns trocados, e o movimento do dinheiro dos ricos faz variar os índices. E, muitas vezes, os índices do mercado financeiro não são eleitores muito inteligentes. Confira a seguir os cinco péssimos votos praticados pelas bolsas.
O mercado mostrou pessimismo com o Lula e mostra otimismo com Bolsonaro…
Assim como houve casos de líderes que, quando eleitos, geraram otimismo no mercado financeiro, e, posteriormente, mostraram que as previsões otimistas eram furadas, houve líderes que geraram pessimismo no mercado financeiro, e, posteriormente, deixaram as previsões pessimistas furadas. É o caso de Lula. O ano de 2002 começou com o Ibovespa em 14 mil pontos. Em outubro de 2002, com a perspectiva de Lula ser eleito, o Ibovespa chegou a estar em 8 mil pontos. Em 2010, quando Lula deixou o Planalto, o Ibovespa estava em 70 mil pontos. O dólar, que alcançou R$4,00 em 2002, recuou para R$1,60 em 2010. O mercado também mostra otimismo com os atuais presidenciáveis, no caso Jair Bolsonaro. É de conhecimento geral o seu posicionamento político conservador extremista, chegando ao ponto de definir como “herói” o torturador da ditadura civil-militar Carlos Brilhante Ustra e demonstrar total desprezo em relação às vítimas mortas pela ditadura e seus familiares quando declarou que “quem procura osso é cachorro”, referindo-se aos desaparecidos do Araguaia. O extremismo de direita de Bolsonaro não causa repúdio no mercado, muito pelo contrário. Desde que Bolsonaro anunciou o economista liberal Paulo Guedes, o mercado acena positivamente para sua candidatura e encara com otimismo a possibilidade dele ser presidente. O ânimo do mercado em relação ao Bolsonaro ficou ainda maior quando o presidenciável sofreu uma tentativa de assassinato, ficando gravemente ferido com uma facada. Investidores interpretaram que o incidente prejudicará os candidatos de esquerda e pode aumentar as chances de Bolsonaro se tornar presidente. Como podemos notar, os políticos que caem nas graças do tal “mercado” muito dificilmente se tornam governantes competentes e comprometidos com desenvolvimento econômico e principalmente o social. Portanto, encare com muito ceticismo quando William Bonner no Jornal Nacional fizer cara séria dizendo que determinado candidato assusta o “mercado” ou fizer cara de satisfação dizendo que determinado candidato agrada o “mercado”. Os interesses do mercado são bem diferentes dos da maioria da população e contemplam apenas uma minoria do sistema financeiro, logo o seu “humor” não pode ser usado como critério para nada, a não ser que você possua milhões e deseje governos que apliquem políticas a favor do crescimento do seu dinheiro em detrimento da maioria da população. Os eleitores devem ter cuidado com as tentativas de votar com base no medo ventilado pela imprensa sobre mercados financeiros. Existe o risco de elegerem um novo Hitler, um novo Hoover, um novo Collor, um novo Major, um novo Temer, um novo Macri. Quem poderia ser chamado de “o novo Hitler” nós já sabemos!
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