terça-feira, 23 de abril de 2019

A “historiografia” política de Jair Bolsonaro desde a década de 1980: de Newton Cruz e Amaral Netto a Trump e Netanyahu

Ricardo Moraes - Reuters


À exceção de servir de maneira absolutamente subserviente aos governos imperialistas, imperialistas e terroristas de Donald Trump (o que há de pior no GOP – Grand Old Party) e ao Likud de Benjamin Netanyahu(partido da “União” hebraica). É certo que tanto um quanto o outro financiaram a campanha de Bolsonaro, seja financeira e tecnologicamente dizendo. Os policy makers de Trump e Netanyahu foram decisivos nas estratégias da campanha fraudulenta do candidato vitorioso nas eleições para a presidência do Brasil, em outubro de 2019.

Contudo, a “historiografia” política de Jair Bolsonaro não traz novidade alguma diante do afirmado acima. Senão vejamos, resumidamente, sua trajetória política entre fins da década de 1980 e meados da década seguinte, momento em que começa a insinuar-se de maneira mais contundente pelo país afora.

Bolsonaro está filiado ao seu nono partido político desde 1988, apesar de nunca se filiar aos dois partidos que realmente formaram a sua ideologia de destruição das minorias e da democracia brasileiras (ARENA – ALIANÇA Renovadora Nacional, partido-mãe da ditatura militar, fundado em 1965 e registrado em 1966. Sua dissolução se deu em fins de 1979, dando origem ao PDS (Partido Social Democrático), um arremedo partidário da política autoritária das Forças Armadas do país, baseado no conservadorismo e no liberalismo econômico. Liberalismo, todos nós sabemos para quem!

Já a ARENA compunha seu programa político-partidário baseado nos seguintes princípios: militarismo, conservadorismo, populismo de direita, nacionalismo de farda, anticomunismo e autoritarismo. Seja no PDS ou na ARENA, forma-se a genética política do atual presidente. Nada do que estava presente nos programas políticos de Bolsonaro vão de encontro ao atual governo. É uma cópia absoluta. Não é plágio. É cópia, nua e crua!

Voltando aos partidos que abrigaram o miliciano-presidente desde 1988, prestemos atenção: primeiro: PDC (Partido Democrático Cristão), onde esteve entre 1988 até 1993. Em seguida, filiou-se ao PP (Partido Progressista), uma fusão com o PRP ∕ PST (Partido Progressista Reformador ∕ Partido Social Trabalhista, sucessores dos antigos PDS-ARENA), que ao fundir-se com o PDC, formou o PPB (Partido Progressista Brasileiro). Toda esta salada partidária, advindos da ditatura militar, culminou no PP malufista. O Paulo Maluf da arena e do PDS foi, por algum tempo, referência política para Bolsonaro. Hoje, deixou de sê-lo. O terceiro partido que o atual presidente veio a se filiar foi PRP, já citado, formado por defensores do mais alto grau de “venda de legenda e de obras públicas, através de emendas parlamentares no Congresso Nacional, Assembleias Estaduais e Câmara de vereadores.

A quarta agremiação partidária do miliciano-mor, entre 1995 e 2003, foi o PPB malufista, nome reformado do PDS. Foram oito anos de filiação. Quase um recorde. Jair considerava esse Partido a essência renovada dos anos de chumbo. Em 2003 filiou-se ao PTB (Partido Trabalhista Brasileiro), influenciado por ninguém menos que Roberto Jefferson, em quem enxergava um líder intelectual entre civis, militares e autoritários. Jefferson significava também um exímio advogado criminalista que atuava na defesa não apenas de políticos corruptos, mas de ex-militares milicianos que enfrentavam problemas com a justiça. Durante o ano de 2005, o PFL (Partido da Frente Liberal), sigla que dispensa maiores comentários abrigou por alguns meses o então deputado federal. Por enfrentar problemas na agremiação no Rio de Janeiro, por suas relações claras com o crime organizado, Bolsonaro, ainda em 2005, assina a ficha eleitoral do PP, voltando às hastes malufistas. Falaremos disso abaixo, mas a derrota do general reformado Newton Cruz ao governo do Estado em 2004, tem a ver com tal decisão. 

O oitavo partido que o atual capitão donatário de Donald Trump veio filiar-se foi o PSC (Partido Social Cristão). Foram 11 de militância nesta agremiação. O que estava em jogo já era a aliança entre autoritarismo, corrupção, visão policialesca da sociedade e atuação e crescimento das milícias no que chamamos de “Grande Rio”. Começava a se esboçar um Bolsonaro mais falante, soberbo, violento nas entrevistas e discursos a favor do estupro, contra mulheres, negros, pobres, índios, sem terras e sem tetos. Surge a idéia de uma candidatura ao senado ou ao governo do Rio de Janeiro. Surge também o discurso em defesa da família tradicional, dos valores neopentecostais, reuniões com líderes evangélicos e setores conservadores da igreja católica, sobretudo a fluminense. As associações de pequenos e médios comerciantes, além de grupos de suboficiais militares também entram nesta pauta.

Por fim, em 2018, visando agregar um eleitorado isento, com horror à “velha política”, além da atração de empresários ultraliberais, aparece na vida do “Messias”, seu nono Partido: o PSL (Partido Social Liberal). Uma espécie de salada mista de todos os anteriores. Um PRN (Partido da Reconstrução Nacional) Collorido, bizarro, que reúne todos os adjetivos das outras oito agremiações. Com a falência política do “Tucanato”, mais a aliança Trump- Netanyahu e suas “fake news” políticas, associada às agências de inteligência estadunidenses, representadas no Brasil pela “famiglia Lava Jato”, estava formado o cadinho para a eleição do serviçal lesa Pátria do rei.

Mas para além de Partidos autoritários, do discurso de defesa da tortura e de Brilhante Ustra (e do Golpe de 1964), da defesa contundente do estado militar e dos linchamentos sociais, do apoio à e da banda mais podre da maçonaria nacional, da desconstrução das leis trabalhistas, da seguridade social e do patrimônio econômico, mineral, da fauna e da flora brasileiras, além do discurso de ódio, de divisão da sociedade nacional, há dois personagens abjetos que não podem deixar de ser citados na historiografia de Bolsonaro: o general Newton Cruz e o jornalista Amaral Netto. São seus ídolos.

Newton Cruz foi um antigo membro do SNI (Serviço Nacional de Informações) durante a ditadura militar, Em março de 1985, o ministro do Exército general Leônidas Pires Gonçalves entregou ao presidente José Sarney — vice-presidente em exercício e primeiro civil a exercer a chefia do Executivo federal desde abril de 1964 —, a lista votada pelo alto comando do Exército que continha o nome de sete generais-de-divisão, candidatos às três vagas de general-de-exército existentes. Newton Cruz deveria ser o quinto dessa lista, mas seu nome foi excluído em votação unânime. No mesmo mês, Cruz deu entrada no pedido de transferência para a reserva. Decidido a ingressar na vida política, em maio de 1985 filiou-se ao Partido Democrático Social (PDS), agremiação governista.

Em agosto de 1986, o promotor Murilo Bernardes Miguel entrou com denúncia contra Newton Cruz, acusando-o de ter participado do assassinato do jornalista Alexandre von Baumgarten, de sua mulher e do barqueiro Manuel Pires e encaminhou ao juiz Carlos Augusto Lopes Filho o requerimento para que a Secretaria de Polícia Civil do Rio de Janeiro prosseguisse as investigações sobre o caso. O caso teve como principal testemunha o bailarino Cláudio Verner Polila, que garantiu ter visto Newton Cruz na praça XV de Novembro, na madrugada do sequestro. Em setembro, os advogados de Newton Cruz entraram com um pedido de habeas-corpus, visando obter o trancamento da ação penal, cuja denúncia, segundo o criminalista Clóvis Saione, estava fundamentada unicamente no depoimento de uma testemunha considerada incapaz. Segundo o advogado, Polila tinha problemas mentais. Os desembargadores da 4ª Câmara votaram contra o habeas-corpus, acatando o parecer do procurador Rafael Carneiro, que afirmara que a denúncia estava bastante detalhada e fundamentada e que o depoimento de Cláudio Polila tinha sido válido, pois não existia laudo algum sobre sua sanidade mental no processo. Newton Cruz foi o mentor de Bolsonaro quando este deixa o Exército e decide se aventurar na política. Jamais poderemos nos esquecer disso.

Já o jornalista e político do PDS, Amaral Netto, pai da ideia da pena de morte no Brasil e formador da gênese de jornalistas “policiais” da atualidade, representados por José Luiz Datena (para não citar milhares em todo o país), foi o “pai político civil” de Bolsonaro. Amaral Netto iniciou sua carreira jornalística do jornal Correio da Noite e em 1949 fundou a Tribuna da Imprensa, ao lado do político udenista Carlos Lacerda, com quem combateu os governos nacionalistas-desenvolvimentistas de Getúlio Vargas e de Juscelino Kubitschek. Eleito deputado estadual pela golpista UDN (União Democrática Nacional), pelo Estado da Guanabara em 1960 e deputado federal em 1962, foi para o MDB (Movimento Democrático Brasileiro), tão logo o regime militar de 1964 baixou o Ato Institucional Número Dois, que instituiu o bipartidarismo. Era um udenista no MDB, já percebendo o destino de Carlos Lacerda. Reeleito em 1966, migrou para a ARENA, sendo reeleito em 1970 e 1974, passando a representar o Estado do Rio de Janeiro a partir de 15 de março de 1975. Data deste período o programa “Amaral Netto, o Repórter”, na Rede Globo, em que fez diversas reportagens nas regiões brasileiras, destacando obras do governo militar. Derrotado ao buscar um novo mandato em 1978, ingressou no PDS e foi reeleito em 1982, 1986 e 1990. Candidatou-se a prefeito do Rio de Janeiro nas eleições de 1992, mas foi derrotado. Conquistou seu oitavo mandato pelo PPR em 1994, mas em função de um acidente automobilístico licenciou-se do mandato, e ao falecer estava filiado ao PPB malufista. Sua vaga foi ocupada pelo cantor Agnaldo Timóteo (que hoje defende a soltura de Lula, mas foi um traidor contumaz de Leonel Brizola e aliado ferrenho de Paulo Maluf). Amaral Netto Teve como principal bandeira em sua carreira política a defesa pela adoção da pena de morte no Brasil.

Newton Cruz e Amaral Netto, sumidos do noticiário, precisam ser lembrados como mentores políticos de Jair Bolsonaro. Este, enquanto vereador pela cidade do Rio de Janeiro e deputado federal pelo Estado do mesmo nome, fez questão, até recentemente, de não aparecer tanto na mídia, não apenas por incompetência. Assessores poderiam elaborar projetos por ele. A questão real é que a Bolsonaro interessava mais os negócios escusos com contraventores como Ângelo Maria Longa (Tio Patinhas), Castor de Andrade, Ailton Guimarães Jorge (Capitão Guimarães); Aniz Abraão David (Anísio); Luizinho Drummond, Antônio Petrus Kalil (Turcão), Waldemiro Garcia (Miro), Carlos Teixeira Martins (Carlinhos Maracanã), José Petrus, (Zinho) e irmão de Turcão; Raul Capitão, José Caruzzo Escafura (Piruinha), Haroldo Rodrigues Nunes (Haroldo Saens Pena, Emil Pinheiro, Paulinho de Andrade (filho de Castor de Andrade) e Waldemir Paes Garcia (Maninho, filho de Miro). Bolsonaro não era e nem é “banqueiro do jogo do bicho”. Ao clã Bolsonaro interessa o comércio dos produtos que suas milícias controlam. Brasília sempre foi para ele um subterfúgio. Espécie de um Aécio Neves “menor”, mas nem tanto assim. Analisaremos melhor o tema no próximo artigo.

Nicelio do Amaral Barros

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