sexta-feira, 26 de abril de 2019

Evilázio Gonzaga: Bolsonaro não é um fascista, mas capitão do mato, pago para manter os brasileiros na senzala

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Evilázio Gonzaga: Bolsonaro não é um fascista, mas capitão do mato, pago para manter os brasileiros na senzala
Rugendas, primeira metade do século 19

BOLSONARO NÃO É UM FASCISTA. É UM CAPITÃO DO MATO.

por Evilázio Gonzaga*, especial para o Viomundo

Bolsonaro e o seu entorno astrológico não são fascistas, eles são capitães do mato.

Os fascistas e nazistas tinham como característica, além do autoritarismo feroz e da visão arcaica do mundo, um forte nacionalismo e o propósito de melhorar a vida das populações étnicas nacionais.

O forte nacionalismo os levava a defender a indústria nacional de seus países, que eram exemplo da superioridade que eles pregavam; e o populismo genuíno fazia com que levassem a sério a melhoria da qualidade de vida material da população.

Adam Tooze, historiador e economista britânico, que se concentrou no estudo dos aspectos econômicos da 2ª Guerra Mundial, registra que o nazismo se empenhou em programas de geração de emprego, através de grandes obras de infraestrutura, como a construção das autobahns, até hoje as melhores rodovias do mundo, assim como em planos de estímulo e apoio aos pequenos produtores rurais.

Com relação à indústria, o governo nazista apoiou a criação da empresa química mais avançada e poderosa do mundo, a IG Farben, assim como incentivou os fabricantes de automóveis, máquinas, aviões, estaleiros e as inovações científicas.

Símbolos dessa época, conforme levantou Tooze, foram o rádio popular, um aparelho barato e eficiente, que poderia ser comprado até pelos cidadãos mais pobres (pelo padrão alemão) e o Volkswagen, o carro popular criado por Ferdinand Porsche.

Os nazistas pretendiam mostrar ao mundo que a indústria alemã era a mais avançada do planeta.

Assim, seus estaleiros começaram a competir com os britânicos e estadunidenses, disputando em quantidade e superando seus rivais em qualidade.

A indústria aeronáutica alemã, ressuscitou da destruição do fim da 1 Guerra Mundial, para se tornar o paradigma mundial, com seus aviões que praticamente criaram o transporte aéreo de média e longa distância.

As primeiras empresas aéreas da América Latina foram criadas por capitais germânicos, com aparelhos de fabricação alemã – um exemplo é o Sindicato Com dor, que veio a se tornar a Varig.

Nesse ambiente, infelizmente antiquado socialmente, autoritário, cruel com as diferenças, preconceituoso, equivocado, repressivo e assassino, a Alemanha (junto com a União Soviética) foi um dos países que mais rapidamente venceram a devastação da crise de 1929, para se colocar entre os que mais cresceram no mundo, ao longo da década de 1930.

Em uma escala muito menor, processos semelhantes ocorreram com o fascismo na Itália.

A indústria nacional foi apoiada, aumentou a oferta de empregos e a qualidade de vida do italiano médio melhorou.
Nada disso, no entanto, exime as lideranças da Alemanha e a Itália, daquela época, dos terríveis crimes cometidos.

O nacionalismo exagerado, obtuso e sem compreender a evolução histórica, aliado à desumanidade e simples perversidade, levou os italianos e alemães a cometerem os maiores crimes contra a humanidade que a história registra.

Bolsonaro e o seu entorno conseguem ser piores do que os nazistas e fascistas europeus, dos anos 1930 e 40.

Eles se equiparam em termos de perversidade e da visão antiquada do mundo, porém os bolsonaristas demonstram um nível intelectual muito inferior e somente expressam os aspectos mais primitivos do autoritarismo derrotado na 2ª Guerra Mundial.

O bolsonarismo, ao contrário dos regimes autoritários da primeira metade do século passado, não é nacionalista, pois não possui nenhum projeto de nação, descarta qualquer preocupação com relação à proteção e ao fortalecimento da indústria brasileira, despreza a ciência e abdica de uma presença independente e soberana do Brasil no mundo.

Sob o governo Bolsonaro, a indústria caminha rapidamente para a extinção, há o projeto de transformar as universidades em escolas técnicas, o dinheiro para a ciência escasseia e nenhum país leva mais a sério a diplomacia brasileira.

Apesar da forte presença de oficiais de alta patente no governo bolsonarista, nem mesmo o parque industrial de tecnologia e defesa (aparentemente tão importante às Forças Armadas) está sendo preservado.

Programas de alto apuro tecnológico, que custaram décadas de formação de cérebros, estudo, pesquisa, desenvolvimento e muito dinheiro estão sendo simplesmente abandonados.

Por exemplo:

*o programa MAR-1, um dos pouquíssimos mísseis antirradiação desenvolvidos no planeta;

*os avançados misseis A-Darter, criados em parceria com a África do Sul;

*o programa de reequipamento da infantaria com modernos fuzis de assalto de concepção local IA-2;

*a venda da Embraer, para a problemática Boeing;

*o descarte do programa de construir uma frota de corvetas Classe Barroso, de projeto brasileiro, substituído pela compra de um modelo alemão desenvolvidos nos anos 1970, assim como diversos outros exemplos.

No plano popular, o bolsonarismo não revela nenhuma sensibilidade com a tragédia que se abate sobre o povo brasileirs, submetido a um desemprego assustador, o crescimento espantoso da informalidade selvagem e angustiante, a queda vertiginosa nos padrões de qualidade da saúde (que registra a volta de doenças antigamente erradicadas), a violenta limitação a um estreito funil do acesso à universidade, o envenenamento em massa da população brasileira pela liberação furiosa dos agrotóxicos (que terá consequências funestas na exportação de commodities alimentares), o assédio criminoso às populações tradicionais e comunidades indígenas, a ameaça a todos os que são diferentes.

Com relação ao nacionalismo tão caro aos antigos fascistas e nazistas, o mínimo que se pode dizer do “patriotismo” do bolsonarismo é que se trata de um produto falsificado.

Na visão dos bolsonaristas e de seu entorno, o Brasil não é um país de verdade, mas uma dependência de um difuso “ocidente”, governado pelos Estados Unidos.

As cenas de subalternidade registradas pelas autoridades brasileiras durante a visita aos Estados Unidos envergonhariam até mesmo qualquer maluco atraído pela ideologia fascista ou nazista.

Bolsonaro e sua quadrilha, com apoio de alguns outros, principalmente Moro, não são figuras que se podem definir ideologicamente.

Eles são prepostos contratados para desorganizar o Brasil, enfraquecer o país (ao operar para extinguir a indústria local e a qualidade das universidades), lançar a população no desespero da luta diária pela sobrevivência (porque assim não há tempo de refletir sobre a vida e a política), dividir os brasileiros, estimulando a homofobia, o racismo, a misoginia, o anti-intelectualíssimo, e todas as formas de conflitos sociais.

Qualquer observador um pouco mais atento pode perceber que há uma intenção e um método sendo implementado para paralisar o Brasil durante décadas.

Portanto, Bolsonaro, Guedes, Moro e seu entorno não têm nenhuma ideologia.

Não são “patriotas”, pois nem gostam do Brasil – o sonho de consumo deles é Miami.

Eles são, na verdade, capitães do mato, pagos e treinados pelos seus senhores, em Washington e Wall Street, para odiar, reprimir, controlar, distrair, enganar, dividir, surrupiar, castigar e espoliar quem vive na senzala: todos nós brasileiros.

O propósito deles é impedir que o Brasil seja um país.
Evilázio Gonzaga é jornalista, publicitário e desenvolvedor de marketing digital

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