
O presidente Jair Bolsonaro (PSL) faz piada com turista japonês ao passar pelo aeroporto de Manaus (AM) a caminho de Dallas (EUA) – Reprodução
Da Folha:
Em junho de 1961, Jânio Quadros decidiu regular peitos e bundas.
O então presidente da República proibiu o uso de biquíni nas praias e piscinas do país. Mas, como ele renunciou apenas dois meses depois, a determinação teve vida curta.
“O que ninguém sabe é que eu atendi a um abaixo-assinado de milhares de damas de São Paulo”, disse um Jânio exaltado ao programa Globo Repórter duas décadas depois.
Jânio Quadros e Jair Bolsonaro se assemelham, entre outras coisas, na indignação contra o que veem como depravação sexual, mas uma diferença anatômica os separa. O presidente do “varre, varre, vassourinha” preocupou-se com seios e nádegas enquanto Bolsonaro parece mais atento ao pênis —em que pese a preferência por citações anais de seu ideólogo-mor, Olavo de Carvalho.
Diferentemente de Jânio, o atual ocupante do Planalto ainda não levou suas convicções sobre a sexualidade a decretos e medidas provisórias. Mas o repertório da genitália está presente em encontros com admiradores e postagens nas redes sociais desde antes da campanha. Assuntos das esferas pública e privada se misturam, sem mediação.
O episódio mais recente, revelador dessa inclinação presidencial, aconteceu no dia 15 de maio, quando Bolsonaro foi abordado por um estrangeiro de feições asiáticas no aeroporto de Manaus.
Entre sorrisos e abraços, o homem disse apenas “Brasil” e “gostoso”. Ao ouvir o adjetivo, o presidente soltou um “opa!” e levantou os braços, sem quebrar o clima de descontração. Em seguida, aproximou o polegar do dedo indicador e perguntou ao rapaz: “Tudo pequenininho aí?”. Os assessores riram.
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O psicanalista e colunista da Folha Contardo Calligaris diz que “se Bolsonaro se sentiu abismado com aquela situação, é porque algo ressoa nele. Não que ele tenha a fantasia de fazer isso [o golden shower], mas a dimensão sexual possível daquilo lhe apareceu em algum lugar a ponto de ouriçá-lo”.
“O que a gente reprime no mundo exterior é o que a gente precisa reprimir dentro de nós. É quase uma lei do funcionamento psíquico”, afirma Maria Lúcia Homem, psicanalista e professora da Faap.
Ela enfatiza, porém, que essas associações não podem ser feitas de maneira mecânica. Seria impreciso, portanto, dizer que quem não gosta de homossexuais é necessariamente gay enrustido. “Em alguma medida, todos somos [bissexuais], segundo Freud, porque a pulsão é acéfala”, explica a psicanalista. “Mas pode ser algo mais amplo, como uma defesa para preservar certa visão do macho alfa branco, que tem poder e autoridade”.
(…)
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