
Por Gustavo Conde
O Antídoto para que não se naturalize o escândalo Moro-Dallagnol é justamente a estratégia das publicações a conta-gotas do The Intercept.
Para que não se 'esqueça', 'alonga-se' as informações no tempo.
É muito semiótico.
O Brasil já era estranho antes de tudo isso (agora está grotesco).
Alguém tem que avisar o Glenn que ele está em uma terra trágica, dominada por vilania extrema, sem um pingo de remorso.
Se em países 'normais' o intervalo-antídoto entre uma publicação e outra seria de uma semana, no Brasil esse intervalo precisa ser reduzido à metade.
E não se trata de ansiedade. Trata-se de sobrevivência (do sentido, da narrativa).
O inimigo aqui é monstruoso demais.
O cartel midiático brasileiro é insidioso e ainda tem poder.
A recusa deles em entrar na cobertura do escândalo Moro-Dallagnol, além de estarrecedora, promove, realmente, um efeito de 'retardo'.
Glenn é inteligente e competente, mas seu adversário massacra a verdade há pelo menos 50 anos.
A Rede Globo é mais cancerígena que o sub escalão da morte americano. São mais violentos, mais hegemônicos e mais pusilânimes.
Glenn vai perceber que peitar a NSA, o FBI e a CIA é café pequeno diante da missão de desafiar a Globo.
As agências americanas - por mais incrível que possa parecer e comparativamente - têm ainda um fiapo de caráter e sabem reconhecer uma derrota.
A Globo não.
A semântica política mudou. Mas as pessoas precisam aceitar.
Essa é a singularidade grotesca do bolsonarismo.
Bolsonaristas não aceitam a realidade.
E não é um quadro meramente ligado à saúde mental. É um fenômeno da coletividade, algo talvez inédito para os estudos do comportamento social.
É a aniquilação do próprio funcionamento da linguagem, significante-sentido-discurso.
É uma espécie de novilíngua, como jamais a ciência ou a cultura haviam de fato previsto ou imaginado.
Algo que - se sobrar um mundo depois disso (e não estou exagerando) - certamente deverá ser alvo de estudo científico por longas décadas.
Eu teria até um título para uma tese de doutorado na área de linguística e psicanálise: "Quando a linguagem falhou".
Talvez, seja o primeiro 'vírus' linguístico da história, metáforas à parte.
Vale lembrar: isso jamais seria possível sem a contribuição do nosso cartel midiático, que nos ensinou a mentir e a combater a realidade desde criancinha.
O coquetel Globo-Bolsonaro (e Lava Jato) realmente se mostra o estilhaçamento completo do juízo, da faculdade de pensar e do que restava de soberania intelectual.
A gente percebe um certo orgulho em ser burro nas pessoas que protagonizam esse desastre cognitivo. Bonner, Moro, Bolsonaro, Lobão, FHC e eleitores fascistas ainda soltos por aí.
É brutal.
O escândalo Moro-Dallagnol não provocar um espasmo sequer nesse circuito impostor de tática militar-publicitária de mentiras é realmente algo que choca mais ainda que a própria promiscuidade entre Ministério Público e Vara Criminal de Primeira Instância.
A doença Globo-Bolsonaro ultrapassou o limite do submundo politico para adentrar o terreno do aniquilamento simbólico da espécie.
Nada mais, nada menos do que o nosso maior patrimônio evolutivo e existencial.
Em vista de tudo isso, a impressão que dá é que essa situação de perseguição a Glenn Greenwald ainda vai acabar mal.
Ele foi ameaçado, David Miranda foi ameaçado, filhos, amigos, parentes estão sob ameaça constante de todo tipo: homofóbicas, milicianas e bolsonaras.
O jogo é pesadíssimo.
Vamos esperar uma tragédia para mover um músculo?
A narrativa é de terror: Jean Wyllys sai do país por ameaça de morte, David Miranda assume o cargo de deputado e sofre ameaça de morte.
Esposo de David publica a verdade sobre a Lava Jato e a imprensa brasileira em uníssono se nega a aceitar.
Mais do que isso, parte para ataques a Glenn e subsidia a proliferação de fake news com matérias 'casadas' que destacam a cibersegurança (e não a segurança judicial).
O Brasil se tornou um país de máfia.
É muito tempo para a nossa maior liderança democrática da história continuar presa.
Essa prisão política está dilacerando a nossa capacidade de julgamento moral.
Lula sempre foi nosso maior fiador de sentido, o grande provedor de senso democrático ao país e à sociedade, a referência máxima, a voz do equilíbrio.
O país chega ao seu maior desafio moral de fato, mais ainda que a eleição de 2018, tão truncada e tão espancada pela dimensão miliciana de operação fraudulenta.
A verdade está diante dos nossos olhos, edificada, envernizada e corporificada.
Negar isso a essa altura do campeonato seria aceitar o final hediondo dessa ópera trágica shakespereana jamais feita - pois nem Shakespeare poderia vislumbrar tanta pusilanimidade nos interstícios do poder e do 'humano'.
O Brasil está em seu momento mais perigoso.
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