terça-feira, 13 de agosto de 2019

A economia no deserto, por Andre Motta Araujo

Esse grupo de pessoas não tem obras publicadas, não tem currículo de administração pública, tem exclusivamente ligações com mercado de bolsa daqui e de Nova York e nenhuma ligação e preocupações com desemprego, saúde, saneamento, educação, assistência social, pesquisa de interesse público.

       Por Andre Motta Araujo

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A economia no deserto
por Andre Motta Araujo

A economia brasileira conhece hoje uma situação inédita, que jamais aconteceu desde 1930. Está no comando da economia brasileira um grupo de pessoas que não tem nenhuma relação com políticas de Estado, com políticas públicas, com um projeto de País no seu sentido geopolítico. Esse grupo de pessoas não tem obras publicadas, não tem currículo de administração pública, tem exclusivamente ligações com mercado de bolsa daqui e de Nova York e nenhuma ligação e preocupações com desemprego, saúde, saneamento, educação, assistência social, pesquisa de interesse público.

Desde 1930 até 2018, quase nove décadas, havia uma visão de progresso e desenvolvimento do País no seu sentido mais amplo, uma visão de Estado e do futuro da população de todas as classes nos dirigentes da economia brasileira, muitos da economia produtiva como Horácio Lafer, Guilherme da Silveira, Sebastião Paes de Almeida, Dilson Funaro ou então homens de Estado como Walter Moreira Salles, Oswaldo Aranha, Jose Maria Whitaker, Lucas Lopes.

Essa visão de País desapareceu completamente no atual grupo de comando da política econômica, ELES TÊM UM PLANO DE MERCADO FINANCEIRO.

A RECESSÃO PRODUZIDA POR FALTA DE DINHEIRO

O Estado tem meios e instrumentos únicos, que só o Estado tem, para alavancar a economia e reduzir crises. Todos os Estados fazem uso dessa ferramenta em situações de guerra, de recessão, de crise social, um manejo que exige inteligência, capacidade operacional, experiência e só pode ser operado por cérebros de primeira ordem.
O Brasil tem vasta capacidade de alavancar a economia porque todos os fatores de produção estão disponíveis dentro do País. Há recursos físicos, mão de obra, capacidade industrial instalada, engenharia e técnica, tudo isso protegido por reservas internacionais folgadas. Por que não fazem? Falta a capacidade intelectual, o uso desse instrumento exige homens além da cartilha.

INVESTIMENTO PRODUZ CRESCIMENTO?

O grupo dirigente da política econômica brasileira aposta que investimentos (estrangeiros de preferência) farão a economia crescer.

Hoje o Brasil deixou de ser um País atraente para investimentos de longo prazo e retorno moderado. A marca BRASIL perdeu atratividade pela notória crise política que se iniciou em 2016. A partir desse ciclo de instabilidade fecharam no Brasil 23.000 indústrias, 270.000 lojas, multinacionais se foram, algumas que aqui estavam há 100 anos estão deixando o País, como Ford e GM. Na infraestrutura os investimentos maturam a longo prazo e o retorno é baixo, só chineses e árabes têm apetite por essa faixa e ambos se consideram malvistos pelo atual governo, virão alguns, mas não em massa.

Restam aqueles que o grupo dirigente da economia gosta e conhece: fundos abutres e fundos especulativos que querem comprar ativos na bacia das almas para revender dois anos depois. Há investidor no mundo para todo tipo de risco, lembro que numa de suas desastrosas crises cambiais a Nigéria, nos anos 80, quebrou e os importadores nigerianos não conseguiam abrir cartas de crédito para importar câmaras frigoríficas do Brasil. O Pais estava no auge da exportação de manufaturados. Três dias depois da moratória declarada da Nigéria, o exportador brasileiro foi procurado por uma trading austríaca, de Viena, oferecendo assumir o risco Nigéria cobrando um sobrepreço nas câmaras frigorificas. Isso é comum em todas as moratórias, há comprador para qualquer risco.

Hoje o Brasil desperta o apetite dos fundos de alto risco, MAS é um péssimo investidor para o Brasil, está na mesma relação de um agiota para a empresa em dificuldade, daí não virá nem emprego e nem crescimento, só bons negócios para alguns.

Achar que investidor para privatização vai gerar crescimento e emprego é uma ilusão. O todo poderoso Ministro da Economia da Argentina Domingo Cavallo (1991-1996), que privatizou até o Jardim Zoológico de Buenos Aires, um fanático neoliberal, produziu um desastre econômico e social privatizando tudo.

São operadores IDEOLÓGICOS e não maestros flexíveis de uma situação de muitas frentes. Trazem soluções simples para situações complexas, são o desastre anunciado, sempre lembrando que disparidades sociais agudas e prolongadas são a antessala das revoluções e cataclismas políticos, que sempre começam pelo desprezo dos dirigentes para a situação aflitiva de famílias sem renda por muito tempo, fermento histórico de mega crise.


Não se vê no Brasil de hoje um gesto, um programa coerente para criar renda rapidamente, isso em um País rico, com mega reservas cambiais, imensos recursos naturais e humanos, hoje temos uma subpolítica que só aumenta a miséria dos já pobres sem um plano gerador de rendas.

INFRAESTRUTURA É A SOLUÇÃO

Para dar saneamento para todo o País, o Brasil precisa investir R$600 bilhões, 8.000 obras paradas podem ser completadas com R$200 bilhões, moradias para 2.000.000 de famílias podem ser construídas com R$200 bilhões. Um plano de R$1 trilhão dividido em 40 meses são R$25 bilhões por mês, nem fará coceira na meta de inflação, uma emissão de Bônus de Infraestrutura tendo como comprador o Banco Central, se os investidores não comprarem segue a política americana onde o Federal Reserve é o maior comprador da dívida pública americana, com US$7 trilhões de títulos em sua carteira, um terço da dívida pública federal. Essa é a função de um banco central, ser o comprador final dos títulos do Tesouro, é o regulador do meio circulante. Os títulos pagos ao Tesouro com emissão de moeda, nosso Banco Central não emite dinheiro há anos, na contramão dos bancos centrais do mundo.

Na infraestrutura se gera emprego rapidamente e desse canteiro sai a renda que movimenta a economia, isso já se sabe há 200 anos.

ANDRE MOTTA ARAUJO

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