quarta-feira, 7 de agosto de 2019

Mensagens mostram que governo Bolsonaro pressionou Paraguai para viabilizar esquema de corrupção em Itaipu



O jornal paraguaio ABC traz revelações bombásticas sobre o esquema de corrupção em Itaipu para beneficiar a empresa LEROS e políticos do PSL, partido do Bolsonaro.

O intermediário da LEROS nas negociações secretas foi Alexandre Giordano, suplente do senador do Major Olímpio, do PSL, que é líder do Bolsonaro no Senado.

Essas últimas revelações aprofundam a crise política no país vizinho e poderão levar ao impeachment tanto do presidente como do vice-presidente paraguaio por crime de lesa-pátria.

Na reportagem O presidente sabia tudo sobre o acordo secreto, o jornal ABC afirma que “Mario Abdo Benitez [presidente do Paraguai] recebeu pressões do Brasil para assinar a Ata secreta de 24 de maio” [aqui].

O jornal acessou “comunicações reveladoras”, cujo conteúdo reflete “as pressões e ameaças dos brasileiros, assim como as reações de autoridades e funcionários paraguaios”.

Em mensagem de WhatsApp enviada ao presidente do país em 8 de junho – após, portanto, a assinatura da Ata Bilateral – quando então se discutia os termos da contratação da LEROS em desdobramento à assinatura da Ata, o presidente da ANDE [Administración Nacional de Eletricidad] Pedro Ferreira disse que “estava muito preocupado pelo assinado pelo Brasil, porque havia sido dito que acordaram 12% [de venda de energia paraguaia excedente], porém se depararam com 18%, o que significaria 341 milhões de dólares de sobre custo” para o Paraguai.

A resistência do então presidente da ANDE aos termos lesivos do acordo emperrava o andamento do esquema de corrupção para favorecer a LEROS.

Segundo o ABC, esta contrariedade de Pedro Ferreira causou “mal-estar do governo brasileiro”, fato que fez com que o Itamaraty adotasse a medida extrema, só adotada em momentos de alta tensão e crise entre países, de convocar o embaixador paraguaio no Brasil, Hugo Saguier Caballero no dia 20 de junho.

Caballero reportou a convocação ao diretor-geral de Itaipu pelo lado paraguaio, José Alberto Alderete que, por sua vez, repassou ao presidente do Paraguai a mensagem:

“Me permito escrever-te porque estou sumamente preocupado. Ontem ao meio-dia fui convocado para as 15 hs a uma reunião no Itamaraty. Não sou adivinho, mas supus que o tema era Itaipu. O Secretário-Geral Octavio [Brandelli, vice de Ernesto Araújo] foi chamado ao Planalto pelo mesmo tema e, desculpando-se, me pediu para reunir com a Embaixadora Eugenia, diretora geral de América”.

Na mensagem, Caballero relata que “de fato, o tema era Itaipu e me entregou um “aide-mémoire” que expressa o ‘mal-estar do governo brasileiro’, não[da]Chancelaria”.

É enigmático este registro do ex-embaixador paraguaio no Brasil, de que o mal-estar é do Planalto, não do Itamaraty.

O embaixador relaciona o mal-estar ou a impaciência do Planalto

“à atitude da ANDE de não cumprir os compromissos assumidos na Ata de 24 de maio. O teor do mesmo é realmente grave. Posteriormente envio um documento elaborado pela Itaipu Brasil intitulado ‘Reflexos da falta de regulamentação da Ata Bilateral’, que quantifica os prejuízos. Isto é muito grave”.

Ainda de acordo com o jornal ABC, em

“23 de junho ocorre uma conversa que demonstra que Abdo Benítez estava a par da negociação com o grupo LEROS, a empresa brasileira que está no centro da tormenta por haver sido, presumivelmente, apadrinhada pelo vice-presidente Hugo Velázquez e seu advogado, Joselo Rodríguez.Ferreira disse ao presidente Abdo Benítez que deveria receber 2 grupos brasileiros que viriam do Brasil para comprar energia paraguaia e escreve: ‘o [grupo] que conversamos com o vice-presidente e outro [grupo] que é do conhecimento de Ullón’ [o chefe de gabinete de Abdo]”.

Em mensagem de 4 de julho, Pedro Ferreira alerta outra vez o presidente paraguaio acerca da lesividade do acordo. Ele então disse: “Queria lhe mostrar os números e nossa análise. A prova de que o acordo é claramente inconveniente é que querem que o mantenhamos secreto. Por que os que firmaram e viram a Ata não saem a defendê-la publicamente?”.

No dia 5 de julho, com receio das represálias do governo Bolsonaro caso perdurassem empecilhos ao negócio, o presidente paraguaio Mario Abdo Benítez insistiu e pressionou Pedro Ferreira para que cedesse, e então recebeu a seguinte resposta do ex-titular da ANDE:

“Presidente, se para algo lhe serve, negocia minha cabeça, não a ANDE. Eu entenderei e até aprovarei essa postura. Sei o quanto é difícil o cargo de Presidente, porém eu não posso firmar algo contrário ao meu país, não conscientemente, e, além disso, em algo que creio vai lhe prejudicar muitíssimo”.

Como comentado no artigo É preciso investigar esquema do Bolsonaro e do PSL em Itaipu [aqui], estamos diante de uma suspeita gravíssima de corrupção que, segundo divulga a imprensa paraguaia, pode envolver diretamente Bolsonaro, membros do seu partido, o PSL, e empresa que atua no mercado de energia e na mineração de diamante e nióbio, a LEROS.

Em denúncia anterior, a TV Telefuturo [aqui] mostrou mensagens em que o assessor do vice-presidente paraguaio [i] afirmava que os representantes da LEROS negociavam “em representação da família presidencial do país vizinho” e [ii] recomendava confidencialidade do acordo “devido a que, em conversações com o mais alto posto de mando do Brasil se concluiu que não é o mais favorável” dar publicidade aos seus termos para não prejudicar o negócio da LEROS.

A denúncia do jornal ABC de que [i] o presidente do Paraguai “recebeu pressões do Brasil para assinar a Ata secreta de 24 de maio” e de que [ii] o então embaixador paraguaio no Brasil foi convocado para conhecer o “mal-estar” do Planalto devido à demora no trâmite do contrato que favoreceria negócios corruptos da empresa LEROS, são indícios extremamente sérios de um caso de roubalheira binacional.

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