terça-feira, 13 de agosto de 2019

Não dá para esperar um ano ou dois, Guedes


Por Helena Chagas

A semana começou mal para o governo, com a ampla vitória kirchnerista nas primárias argentinas e a divulgação do IBC-Br apontando recuo de 0,13% na atividade econômica do segundo trimestre – tecnicamente, marcando um estado de recessão. A pressão sobre o Planalto vai aumentar exponencialmente, a quase um ano das eleições municipais. Jair Bolsonaro, porém, prefere falar sobre o cocozinho petrificado dos índios e já mostrou sua estratégia: jogar a bola quadrada no colo de Paulo Guedes.

Assim foi, mais uma vez, ao ser confrontado com a piora da maioria dos indicadores econômicos depois de sua posse: “pergunta pro Guedes”. Perguntaram, e o Guedes, que não faz milagres, respondeu até dentro da lógica, dizendo que o atual governo não pode ser responsabilizado por todos os males da economia.

Guedes pode estar certo, mas quando entrou no jogo já sabia que não funciona assim. Ao pedir “um ano ou dois” para os indicadores da economia melhorarem, errou. Falou como tecnocrata, mostrando pouca sensibilidade com os milhões que estão na fila do desemprego, inadimplentes em suas dívidas, vendo os já precários serviços de saúde e educação piorarem ainda mais.

Não dá para esperar um ano ou dois, Guedes. É preciso dar sinais concretos de crescimento aos que foram às urnas no ano passado – e começam a ficar muito assustados com o que fizeram. E também no andar de cima. Passada a euforia inicial do establishment econômico com a aprovação da reforma da Previdência, esses setores voltam à dura – mas óbvia – realidade: a Previdência não é panaceia nem produz resultados no curto prazo. O que os economistas dizem, aliás, é que tem efeitos recessivos num primeiro momento.

É nesse momento que todos olham para a Argentina. A economia explica o fracasso de Mauricio Macri e da direita no país vizinho – e mostra que as alardeadas receitas recessivas podem dar muito errado. Ainda que a direita de Macri seja do modelito “limpinha e cheirosa”, bem menos radical do que a tosca direita de Bolsonaro, trata-se do mesmo remédio.

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