terça-feira, 6 de agosto de 2019

Que os arrependidos nos salvem da tentação nazista de Bolsonaro

A grande mídia ignorou literalmente as posições bárbaras de Bolsonaro a respeito de temas morais e políticos. É como se não tivessem existido. Na realidade, a Globo, líder de audiência, normalizou as afirmações radicais e nazistas de Bolsonaro. Tornaram o nazismo dele normal



Jose Carlos de Assis
https://www.brasil247.com/

Há um grupo de eleitores que votaram em Bolsonaro hoje desencantado com sua gestão desastrada. É dele que depende o Brasil no futuro próximo. São os que podem mudar o jogo político. Não ajuda nada no processo de profilaxia do governo que os chamemos de cochinhas. São cidadãos que apoiaram Bolsonaro pela razão fundamental de que foram convencidos pela grande mídia de que o PT era o centro da corrupção no Brasil, que Lula era um ladrão e que a salvação do país estava numa aposta pela direita, esta honestíssima.

Essas pessoas tinham muitas razões para pensar assim. O massacre do PT e de Lula pela mídia, creio eu, não tem paralelo histórico no Brasil e no mundo. Se quisermos entender isso na perspectiva correta, é preciso esclarecer os fundamentos geopolíticos pelos quais nos tornamos um pião no jogo geopolítico entre Estados Unidos e Rússia. Como somos “aliados” históricos dos EUA, Lula incomodou muito com sua estratégia de buscar alternativas para o Brasil com a articulação da Unasul e integração no BRICS, fora da influência norte-americana.

Para bloquear a possibilidade de o Brasil, mesmo politicamente neutro, se aproximar muito da China e da Rússia era preciso liquidar com o “corrupto” Lula e, sobretudo, com seu lastro político no PT. Sérgio Mouro e seus asseclas na procuradoria federal de Curitiba se encarregaram dessa tarefa, em articulação estreita com o Departamento de Estado norte-americano. Mas era preciso o passo definitivo: ganhar as eleições com alguém da direita. Ou melhor. Qualquer alguém que fosse, até mesmo da extrema direita, desde que contra Lula.

Os eleitores hoje arrependidos não tinham qualquer informação a respeito dessa tramóia geopolítica. Poucos tinham. E foram privados, além disso, de informações básicas sobre o próprio candidato que se viabilizava na oposição ao candidato de Lula. A grande mídia ignorou literalmente as posições bárbaras de Bolsonaro a respeito de temas morais e políticos. É como se não tivessem existido. Na realidade, a Globo, líder de audiência, normalizou as afirmações radicais e nazistas de Bolsonaro. Tornaram o nazismo dele normal.

Mas não foi apenas a grande mídia. Foram, também, os luminares da cultura jurídica e a maioria da elite intelectual. Bolsonaro proclamou no plenário da Câmara que uma deputada merecia ser estuprada? Ninguém reclamou, exceto a vítima. Bolsonaro disse que era preciso matar uns 30 mil brasileiros para consertar o Brasil? Viram isso como piada. Bolsonaro estimulou em vídeo a fraude no imposto de renda? Nenhum procurador da República protestou. Bolsonaro protegia milícias? Acharam isso muito natural.

Qual é o limite? Pelos precedentes, não há limites. Ele pode destruir uma instituição respeitável como o INPE e ninguém faz nada. Ele pode estimular o desmatamento da Amazônia, e acham natural. Ele pode anarquizar a política indígena, e ficam em silêncio. Ele pode liquidar a Ancine, e ficam quietos. Ele pode nomear um boçal para a embaixada em Washington, e acham engraçado. A Globo dá alguns palpites contra. Mas não enfrenta o essencial. E o essencial é: que venha o impeachment! Ante Bolsonaro, Mourão não assusta.

As razões são múltiplas, e vou me ater a uma: Bolsonaro, com sua política vingativa contra o Nordeste, por razões eleitorais, está violando a unidade nacional. Isso é crime de responsabilidade do Presidente da República, conforme o Art. 85, item I, da Constituição Federal: “São crimes de responsabilidade atos do Presidente da República que atentem contra a Constituição Federal e, especialmente, contra a existência da União”. Acaso não se enquadra nisso a ordem de Bolsonaro à CEF para não emprestar dinheiro para Estados do Nordeste?

Por culpa exclusiva de Bolsonaro, esses Estados estão próximos de uma situação de rebelião. Acumularam-se contra eles, desde a edição da Constituição, e injustiças financeiras brutais que levaram ao esgotamento das suas finanças. Com Bolsonaro, porém, está havendo um excesso. Ele quer matar de fome os nordestinos porque votaram no PT. Eu não sou nem nunca fui do PT. Mas até as pedras terão de acabar fazendo o que a grande mídia não faz: denunciar abertamente o arrivista, para que não pereçamos todos sob as botas desse aventureiro produzido pelos traidores da Pátria! 

Contudo, sejamos realistas. A sociedade não conseguirá isso senão com a ajuda dos parlamentares que votaram em Bolsonaro sem o conhecerem direito, mas que agora estão arrependidos. E entre eles, espera-se, deverá estar também o que existir de progressistas e nacionalistas nas Forças Armadas.


Jose Carlos de Assis

Economista, doutor em Engenharia de Produção pela Coppe-UFRJ, professor de Economia Internacional da UEPB.

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