O deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) conseguiu proteger o pai contra uma tentativa de botar Alexandre Giordano, empresário e suplente de senador pelo PSL paulista, para falar no Congresso sobre o caso Itaipu, que quase derrubou o governo paraguaio e envolve o clã Bolsonaro
Eduardo Bolsonaro (Foto: Câmara dos Deputados)
Tentativa de ouvir o empresário foi barrada em votação atípica na comissão da Câmara dirigida pelo deputado
O deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) conseguiu proteger o pai contra uma tentativa de botar Alexandre Giordano, empresário e suplente de senador pelo PSL paulista, para falar no Congresso sobre o caso Itaipu.
À frente da Comissão de Relações Exteriores da Câmara, ele comandou a derrota, em uma votação inusitada, da proposta de realizar uma audiência pública com Giordano.
O episódio aconteceu na última quarta-feira, dia 11. Eduardo realizou a votação durante uma hora e meia. Votar por tanto tempo assim é inusual em comissões no Congresso.
Nesse período, o filho de Jair Bolsonaro saiu à caça de governistas membros da comissão, via celular, para que fossem votar contra a audiência pública. A proposta de fato foi rejeitada.
Giordano é personagem do escândalo que ameaça de impeachment o presidente do Paraguai, Mario Abdo Benítez, devido a um acordo selado e desfeito este ano sobre a usina de Itaipu.
Foi citado como alguém que teria se apresentado, em reunião com autoridades paraguaias, como representante da família Bolsonaro.
Giordano esteve no Palácio do Planalto em 27 de fevereiro de 2019, informação oficial do GSI, o Gabinete de Segurança Institucional.
Um dia antes, Jair Bolsonaro tinha viajado a Foz do Iguaçu, a cidade-sede de Itaipu, para empossar o novo diretor-geral da usina, pelo lado brasileiro, o general Joaquim Silva e Luna. Benitez participara da cerimônia.
A ida do empresário ao Planalto foi descoberta pelo líder do PSOL na Câmara, Ivan Valente (SP), junto ao GSI.
Foi Valente quem propôs a audiência pública, a fim de buscar esclarecimentos sobre uma história com lacunas e informações esquisitas por parte do governo.
Queria que a audiência tivesse ainda o presidente da CPI paraguaia aberta sobre o caso Itaipu.
“Giordano intermediou o acordo de venda de energia. Isso é tráfico de influência”, disse Valente, durante a votação de sua proposta.
A CartaCapital, ele comentou que acredita que o empresário “foi ao Palácio atrás de informação privilegiada, tentar saber se havia espaço para algum tipo de atuação privada nas negociações e no futuro acordo”.
Segundo Eduardo, se Giordano falou em nome de seu pai, “estava falando de maneira desautorizada, isso daí não tem como evitar que pessoas falem o nome do presidente”.
E disse que não via razão para debater o assunto no Congresso. “Isso não é matéria para ser apreciada aqui, é para o poder Judiciário, com o devido processo legal, ampla defesa”, afirmou.
Informações desencontradas
A passagem de Giordano pelo Planalto é motivo de informações desencontradas do governo.
O GSI disse a CartaCapital, via assessoria de imprensa, que o empresário teve “como destino a Secom”, ao entrar no Palácio.
Secom é a Secretaria de Comunicação Social da Presidência.
A Secretaria disse à reportagem que “não houve agenda ou outro compromisso” de Giordano “com representantes da Secom”.
Após CartaCapital revelar, em 26 de agosto, a ida de Giordano ao Planalto, o Estadão ouviu o empresário a respeito.
Comentário dele: “Fui lá para conhecer o chefe da Secom, sempre na minha carreira solo como empresário. Não tem nada, absolutamente nada a ver com Itaipu”.
Ao jornal, a Secretaria mandou a seguinte nota: “A Secom informa que o encontro não ocorreu. O então secretário de Comunicação Social, Floriano Amorim, não conhece tal pessoa e nunca o recebeu”.
No dia em que Giordano foi ao Planalto, a Secom era teoricamente subordinada à Secretaria de Governo da Presidência
. O chefe dessa Secretaria na época era um general que também tem o nome de Floriano (Floriano Peixoto). Na manhã de 27 de fevereiro, Peixoto não estava em Brasília.
Tinha ido ao Rio, participar, às 8h, do evento “Doing Business 2020 – melhoria no ambiente de negócios”.
O empresário entrou no Planalto às 8h59, segundo o GSI. Este recusa-se, porém, a informar a que horas Giordano saiu, o que não permite saber se alguém o recebeu.
Jair Bolsonaro não estava no Planalto naquela manhã, mas em um hospital em São Paulo. Voltaria a Brasília à tarde.
A Secom, responsável pela área de comunicação de toda a Presidência, recusa-se a informar se Giordano esteve em alguma repartição palaciana em 27 de fevereiro, já que com Floriano Amorim não foi.
PS do Viomundo: Giordano atuou como lobista da Léros, a empresa interessada em quebrar o monopólio para comercializar energia produzida por Itaipu no Brasil, um negócio altamente rentável. A quebra do monopólio estava prevista em protocolo assinado pelos governos do Paraguai e do Brasil. Jair Bolsonaro assinou do lado de cá. Quando o negócio veio a público, o presidente Mario Abdo Benítez escapou por um fio do impeachment. Filho do secretário particular do ladrão, traficante, contrabandista, pedófilo e assassino Alfredo Stroessner, que governou o Paraguai de 1954 a 1989, Benítez é um oligarca da “nova política”. Chegou a ser aliado do neto do ditador. No Itaipugate, não se sabe ainda quem ia levar quanto pela picaretagam. Importante lembrar que depois de “muito refletir”, Bolsonaro manteve o probo ex-ministro Carlos Marun, indicado por Michel Temer, no conselho de Itaipu. De acordo com cálculos do colunista Elio Gaspari, no Itaipugate alguém ia comprar energia por R$ 24 o megawatt e vender por R$ 119.
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