quinta-feira, 12 de setembro de 2019

Nossa mentalidade escravocrata, por Henrique Matthiesen

Vivemos mais de 388 anos com a escravidão, oficializada pela força de nossos colonizadores, e depois pela própria força estatal.

       Por Jornal GGN
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Nossa mentalidade escravocrata

por Henrique Matthiesen 

Uma das características basilares de parte de nossa classe dominante é o seu ideário escravocrata. Não evoluiu civilizatoriamente e carrega em seu DNA as gêneses de seus antepassados senhores de escravos.

Vivemos mais de 388 anos com a escravidão, oficializada pela força de nossos colonizadores, e depois pela própria força estatal.

A despersonalização étnica que ensejou a formação do povo brasileiro, seja na desconstrução indígena, africana ou européia, contribuiu para a formação de uma classe dominante peculiar de outras classes dominantes em outras nações.

Segundo sua obra prima “O povo Brasileiro”, o grande antropólogo, Darcy Ribeiro, leciona de forma magistral:

“Surgimos da confluência do entrechoque e do caldeamento do invasor português com índios silvícolas e campineiros e com negros africanos, uns e outros aliciados como escravos.”

Esta junção cultural, étnica e ideológica resultou na nossa luta de classes através do entrechoque civilizatório que desde nossa formação segregou e estabeleceu paradigmas até hoje refletidos em nossa sociedade.

Um destes paradigmas é a mentalidade de colonizados; e outro é o ideário escravagista que parte de nossa classe dominante insiste em seguir.

As ditas “reformas” que o neoliberalismo há anos tentar aprovar no Brasil, seja no governo de FHC, Michel Temer e agora de Jair Bolsonaro atendem um desejo de retrocesso no qual a nossa classe dominante se associa docilmente.

O desmantelamento do legado trabalhista criado por Getúlio Vargas, quem melhor compreendeu nossa luta de classes nas áreas do trabalho, é o desejo impudico e imoral desta classe.

Ressalta-se que o Ministério do Trabalho – extinto pelo atual governo – é um órgão “capitalista” que regula a conturbada relação capital e trabalho, e que seu fim é a senha alvissareira para os herdeiros escravocratas.

Até porque a contemporaneidade avançou em formas mais rebuscadas de escravização, inclusive com a condescendência dócil dos escravos atuais e o fim das leis trabalhistas, que são a sofisticação da escravização do século XXI.

Enfim, estamos quase na escravidão voluntária.

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