domingo, 2 de fevereiro de 2020

Chile continua fervendo




Estive no Chile na semana passada. A revolta popular continuava latente. Presenciei manifestações. O pixo, sinal da revolta, cobria várias cidades.

No último dia 29/01, segundo a imprensa local, " o Chile experimentó la noche más violenta de los últimos 77 días. Una persona fallecida, otra con muerte cerebral, 46 carabineros lesionados, seis saqueos, 96 desórdenes, tres gobernaciones dañadas y 124 detenidos. Todo, en una noche, a nivel país."

Faço os seguintes registros de viagem e sobre a situação política no Chile:

1. Todos os dias, no final da tarde, jovens ocupam e se manifestam na Praça Itália e são reprimidos pelos "pacos" (os policiais que são acusados de assassinatos, estupros e várias violações de direitos humanos). Um taxista me informou: há um movimento que pretende mudar o nome daquela praça para "Plaza Dignidad". A revolução é juvenil, feminina, popular...

2.Toda a cidade de Santiago, principalmente a área central, está tomada pelo pixo (dizeres) contra o neoliberalismo, o ditador serviçal do capitalismo, Piñera e sua polícia truculenta. Encontrei várias dessas manifestações contra Bolsonaro. No interior do país as cidades também estão cobertas de frases, desenhos, versos... expressando a revolta popular. Apesar das milhares de detenções, dos cegos pela violência policial, seguem as reivindicações e as mobilizações, enquanto se discute uma nova Constituinte.

3. É impressionante, em Santiago, o Museu da Memória e dos Direitos Humanos. Põe à pelo a ditadura sanguinária chilena. A história contada sem medo, apontando o dedo para o sanguinário Pinochet e sua trupe militar assassina. O horror da ditadura é mostrado com verdade nua e crua. É uma obra da ex-presidenta Michele Bachelet, atual Comissária dos Direitos Humanos da ONU.

4. Por fim, acompanhei um debate pela TV Senado. Líderes de movimentos sociais discutiam no Parlamento (em Valparaíso) uma lei da verdade e da justiça para punir a violência estatal que assola o país e proteger líderes de tais movimentos.

Uma conclusão: Piñera não cai (apesar das evidentes violações aos direitos humanos e da revolta popular), nem é golpeado pelas Forças Armadas Chilenas, porque está a serviço do capitalismo internacional, da elite chilena e dos interesses estadunidenses. Se fosse de esquerda já teria sido golpeado (como ocorreu com Dilma).

O passeio no Chile foi um aprendizado de civismo, resistência, luta. De certa maneira, um estímulo revigorante para quem sempre esteve e está na trincheira dos direitos humanos.

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