
Foto: Reprodução de vídeo
Por que a mídia corporativa brasileira merece as bananas do Jair
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No dia em que o PIB escancara a mediocridade e o desastre da equipe econômica Paulo Guedes, seu Jair apronta mais uma de suas gracinhas.
Para fugir às perguntas inevitáveis sobre o vergonhoso desempenho da economia, cujo resultado foi um pibinho de 1,1%, na já tradicional paradinha à saída do Palácio do Alvorada para cumprimentar a claque, seu Jair chegou com um humorista devidamente “fantasiado” de presidente da República.
O engraçadinho número 2, o sósia, fez “discurso” e distribuiu bananas para os jornalistas cordiais que ali esperavam o engraçadinho número 1 da República.
Como já se tornou tradição, o engraçadinho número 1 que ocupa o Planalto zombou da imprensa.
Desdenhou de quem ali estava tentando repercutir a desgraça da economia refletida no pífio PIB (naquele momento, era só o PIB).
Zombou também da sociedade brasileira, que tem o direito de saber o tamamho da porcaria e como (ou melhor, se) vamos sair dela.
Alguns jornalistas, ao que parece, se retiraram depois.
Mas, ao fim e ao cabo, acho que as bananas foram merecidas. Infelizmente.
Porque a imprensa, desde 2016:
1. Naturalizou um candidato machista, homofóbico, racista, que insulta colegas e faz ode a torturador.
2. Legitimou um golpe contra uma presidente eleita com mais de 54 milhões de votos, sabendo bem que os “pecados” apontados não eram passíveis de impeachment.
3. Durante a eleição em 2018, construiu uma falsa e irresponsável polarização, colocando em polos opostos, no mesmo espectro democrático, um ex-ministro da Educação, professor, responsável pelo Enem, e um ex-capitão que afirma que prefere um filho ladrão a um filho gay.
E insiste na polarização, colocando agora Lula – Bolsonaro como equivalentes nos malefícios ao país.
4. Vendeu para a sociedade uma ideia distorcida de que a reforma da Previdência, como desenhada, seria positiva para a população, omitindo informações cruciais para as pessoas compreenderem os malefícios.
5. Passou – e passa – pano a todo instante para o governo Bolsonaro, apesar de todas as agressões dirigidas aos jornalistas, como o fez recentemente com Vera Magalhães.
6. Desinformou – e continua a desinformar – deliberadamente em relação à economia.
Uma das cretinices mais recentes é a ligação PIB ridículo-coronavirus. Ora, o PIB divulgado no dia 4 de março refere-se a 2019.
O coronavirus como problema chega aqui no final de fevereiro de 2020. E começa a explodir na China e no mundo como problema no final de 2019 e começo de 2020.
Portanto, O VÍRUS NÃO É O CAUSADOR DO DESEMPENHO RIDÍCULO DA ECONOMIA.
Na cobertura de economia, palavras desaparecem magicamente – recessão, desemprego, crise… nada disso existe mais no reino feliz dos motoristas de aplicativo.
7. Apoiou sem restrição o avanço autoritário da Lava Jato, transformando um juiz medíocre em herói acima do bem e do mal, negando-se a ver todos os abusos cometidos contra Lula.
8. Fingiu não ver a arquitetura de fake news que se instalou para a eleição – somente a Folha de S. Paulo, na reta finalíssima da campanha, trouxe matéria a respeito.
9. Tratou como natural a completa ausência de Bolsonaro dos debates durante a campanha.
10. Transformou em “empreendedores” pessoas desalentadas pela falta de emprego que se tornaram escravas dos aplicativos.
11. Criminalizou a política, com a construção bem delineada POLÍTICA = CORRUPÇÃO.
Tal estratégia, cujo objetivo central era tornar viável a eleição de alguém alinhado (centro), mostrou-se infrutífera, dando espaço a aventureiros de toda ordem.
Agora, o que nos resta é assistir ao stand-up grotesco do presidente engraçado, que discute assunto grave com piadinha e distribui bananas aos jornalistas.
P.S 1: Como eu já disse em outro artigo, A IMPRENSA BRASILEIRA GESTOU E PARIU BOLSONARO. Agora não adianta negar o filhote, o estrago está feito.
P.S 2: Ao contrário da mídia corporativa, a imprensa alternativa sempre procurou mostrar quem era Jair e qual era seu projeto para o Brasil. E tentou mostrar que não se brinca com democracia e os perigos para o pleno funcionamento institucional de um impeachment forjado.
Jornalistas, blogs e portais alternativos foram insultados (blog petralha, site comunista), perseguidos e processados.
Mas não arredaram pé e continuaram a fazer as denúncias. Alguns jornalistas da grande imprensa falavam que era “mimimi” e “vitimização”. Pois é, aí está o resultado…
*Eliara Santana é jornalista e doutoranda em Estudos Linguísticos pela PUC Minas/Capes.
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