Nonato Menezes
São dezoito horas e cinquenta
minutos, de segunda-feira do dia 06 de abril de 2020. Acaba de ser divulgado os
números do último balanço das vítimas do Corona Vírus. Em todo Brasil, já são 553
pessoas mortas e 12.056 infectadas. Afora, creio, os que ainda não foram
contabilizados; e que talvez jamais o serão.
Ao dia-a-dia dos infectados,
se junta, além da dor e das preocupações de seus familiares, os temores e a
insegurança da maioria da sociedade, provenientes do agravamento diário do
quadro pandêmico no Brasil e no mundo. Enquanto isso, a crise se aprofunda e
alimenta uma confusão sem precedentes, que beira ao caos.
Muitos ainda serão infectados
e outros tantos morrerão. As atividades econômicas estão parcialmente
paralisadas e as – ações políticas –, aquelas que poderiam evitar mais mortes e
infecção de mais pessoas, não são implementadas com a devida celeridade que o
enfrentamento da crise exige. As autoridades e a burocracia brasileiras parecem
não se dar conta de que esta pandemia estabeleceu uma nova noção de tempo, quer
queiram eles ou não, aceite ou não. A perene escala que o Estado brasileiro
guarda para dimensionar o tempo de suas ações, de há muito caduca, pelo menos
nesse momento sombrio de nossa história, tem que ser jogada fora. Com um índice
de contaminação crescendo quase que em progressão geométrica, a tão conhecida
fragilidade de atendimento do nosso serviço de saúde e a absoluta precariedade
da estrutura de saneamento básico em todo o território nacional, cada hora,
cada dia que se deixa de realizar ações concretas de prevenção e socorro às vítimas
nos aproxima, inexoravelmente, de um tempo de suplícios quase que dantescos.
Como se dizia na recente crise
da falta de água que acometeu mais da metade do país “cada gota conta”, aqui,
cada hora conta, pois pode ser a diferença entre salva uma vida ou perde-la
para a moléstia.
Não há dúvidas de que o
Isolamento social é a medida mais eficaz para conter a proliferação do Covide19.
Todos os países que o adotaram, a tempo e a hora, como estratégia de prevenção,
comprovaram sua eficácia. E mais, os países que postergaram, por variados
motivos, destaque-se aqui o econômico-financeiro, estão pagando caro pela
negligência de seus dirigentes. Infelizmente o preço mais alto e doloroso tem
sido a vida de seus cidadãos.
E no Brasil, como estamos
lidando com a pandemia?
Aqui, a despeito do número
crescente de vítimas, os governantes, sobretudo os do executivo federal, esfera
sobre a qual recai a maior responsabilidade pelo planejamento estratégico das
políticas de combate à pandemia e pelo provimento de recursos as demais esferas
administrativas, o que se vê é muita exposição à mídia, muito bate-boca entre
as autoridades dos três poderes e dos três entes federativos, mas,
infelizmente, pouca ação e menos proatividade ainda. Isto para não falar da velha
e consagrada mania que tem nossos políticos e gestoras de se aproveitarem das tragédias
e flagelos do país para tirarem vantagens da desgraça do povo.
Em fim, dá-se coletiva demais,
divulga-se planejamentos demais, anuncia-se medidas de urgência demais,
arroga-se heroísmo demais, mas o que se tem mesmo é ações concretas de menos,
compromisso de menos, seriedade de menos, solidariedade de menos, atuação de
menos. Enquanto isto os ônibus, os metrôs, os supermercados, os hospitais
continuam abarrotados de trabalhadores que têm que ir a seu emprego, que buscam
atendimento de saúde.
Não bastasse ter que conviver
com tal situação, temos ainda que assistir a esta nova raça, “os bolsominos”,
promover carreatas e passeatas absolutamente inoportunas e irresponsáveis, que
só podem ser tentativa de exterminar o povo. A única explicação plausível para
tal comportamento é a de que ao se darem conta de que o fim de sua “espécie”
está próximo acreditam que são iguais ou melhores do que o resto dos brasileiros.
Esse é um dos efeitos da demência e ignorância.
De maneira geral nossas
autoridades ainda não se entenderam sobre o que fazer para conter o vírus e
evitar mais infecções e mortes. E por mais bizarro que pareça, “o pomo da
discórdia” reside na definição da posição geométrica que deve nortear o isolamento.
O primeiro a se pronunciar,
como não poderia deixar de ser, foi o ministro da saúde.
Dele veio a ideia do
isolamento horizontal, a mesma já adotada por vários países.
Essa estratégia consiste no
distanciamento de todos, sem distinção entre grupos de risco ou não. Ou seja,
todos em casa.
Em discordância com seu
próprio ministro, o presidente apresentou a ideia do isolamento vertical.
Aquele que implica em selecionar os grupos de risco.
Nada demais o chefe discordar
do seu subordinado se a discordância tivesse sido numa reunião ou em outro
momento qualquer na busca de se definir a melhor e mais adequada medida para
conter o vírus. Ocorre, no entanto, que a questão, pela forma desastrada como
foi conduzida, ganhou ares de western e só faltou o desafio de uma das
partes para um “duelo ao sol” na Esplanada.
Um dos ministros do Supremo
Tribunal Federal, talvez com intensão de não deixar pontos de linhas soltos no
discurso sobre que medida tomar para conter o vírus, apresentou uma alternativa
possível, propondo um isolamento diagonal. Registre-se aqui que se pode falar
muita coisa do chefe de nossa Corte Maior, só não se pode acusá-lo de
beligerante. Sua sugestão é claramente uma tentativa de pôr “panos quentes” na
contenda. É preciso, é necessário, é imperativo resguardar a harmonia entre –
os poderes da república – para salvaguardar esta “republiqueta” que esses senhores,
todos “mui honrados” conseguiram construir em espaço de tempo tão curto.
O golpe de 2016 mal
experimentou a metade de sua primeira infância.
O desmazelo, a negligência e a
falta de humanidade da grande maioria de nossas autoridades atingiram níveis
insuportáveis e inadmissíveis para o cidadão, chegando ao risível. O debate
posto a público parece querer nos convencer de que o êxito das campanhas de
combate ao Covid19 se reduz a mera questão de geometria.
Raramente se viu um debate tão
fuleiro sobre um assunto tão grave e sério para a vida do povo.
Seguindo o raciocínio dessa
gente, basta ligarmos, através destas linhas gnósticas, as três opiniões para
termos a figura geometricamente perfeita de um triângulo, aliás, é oportuno
lembrar que tal representação é análoga à figura geométrica com que se pode
representar do golpe perpetrado em 2016.
Não devemos desconsiderar a participação
efetiva e interesseira do “quarto poder” no golpe sobre o qual recai a
responsabilidade de seduzir corações a apoiarem àquele crime, no que nos
confere o direito de desenhar um quadrado para melhor representar a ópera bufa
que assistimos.
Apesar da avareza e
desonestidade da quase totalidade dos empresários do Brasil, que se aproveita
da crise para dobrar o preço de um botijão de gás, triplicar o valor álcool gel
e das máscaras higiênicas, reduzir o número de ônibus do transporte coletivo,
obrigando o povo a se acotovelar dentro deles.
Apesar da incompetência de
parte dos governantes que prefere aproveitar a aflição e desgraça do povo para posar
de “Chapolin Colorado” e tentar marcar posição de herói visando atender seus
projetos eleitoreiros sem nada de efetivo fazer. Apesar dos “bolsominions”, os chefes
e os lambe-botas desfilarem suas ignorâncias com atitudes estúpidas pelas ruas
e praças, colocando em risco a segurança higiênica e as estratégias adequadas para
nos salvar, será o povo, em sua sabedoria, que vai superar todas essas
adversidades.
Concluindo, acreditamos
firmemente que exista saída e será a que o povo escolher para frear o ataque feroz
dessa doença contagiosa, pois ele sabe o papel a exercer nesta guerra.
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