Introdução * 1. Argumentação fundamental * 2. Dimensões em que o novo radicalismo de direita se manifesta * 2.1 Economia * 2.2 Análise de classe obsoleta * 2.3 Partidos, política e radicalismo de direita * 2.4 Aparelho de violência: forças armadas e polícia * 2.5 Os de 1968 e o novo radicalismo de direita * 2.6 Relações de género e feminismo * 2.7 Porque tem o país de se modificar...? * 3. Resumo: A democracia devora os seus filhos – hoje * 3.1 Continuidades e rupturas * 3.2 ‘Frente transversal em toda a parte!’? * Bibliografia
Introdução
Amigos brasileiros pediram-me para escrever um prefácio para a tradução portuguesa do texto de Robert Kurz "A democracia devora os seus filhos" (Kurz 1993a). Para mim, esta foi a ocasião para analisar até que ponto a argumentação de Robert Kurz pode resistir às realidades actuais, especialmente porque, para alguns nos nossos círculos, como Daniel Späth, parece que os desenvolvimentos de direita dos últimos anos são, basicamente, algo completamente novo. Analiso a argumentação de Robert Kurz em pormenor e comparo-a com a situação actual. Neste contexto, concluo abordando criticamente o artigo de Daniel Späth "Frente transversal em toda a parte!" (final de 2017). DDF surge no texto como abreviatura de "A democracia devora os seus filhos", NC para o meu novo comentário sobre desenvolvimentos recentes.
1. Argumentação fundamental
DDF: Kurz em seu ensaio vira-se contra a ideia de que a democracia e o fascismo/nacional-socialismo são opostos. Em vez disso, apresenta a tese de que o NS é o reverso da democracia e brota das suas contradições. Ele defende uma abordagem sistémica da teoria da modernização, baseada no universalismo da forma de mercadoria. A democracia é, por assim dizer, a forma de organização social da sociedade produtora de mercadorias. O NS teve aqui uma função modernizadora. Foi uma etapa na implementação da produção de mercadorias universalizando-se até hoje, ou seja, também: a economia de mercado é o núcleo repressivo da democracia, e é por isso que a democracia não é o oposto da economia de mercado, com pensa a esquerda normalizada. Assim, todas as decisões são sempre tomadas dentro da forma de mercadoria. A liberdade já está sempre embutida na figura do sujeito da mercadoria. Não se pode ser apenas um ser humano. Em vez disso, todos têm de curvar-se a esta forma. "A democracia é a liberdade de morrer, pelo menos para uma maioria crescente de pessoas", escreve Kurz (Kurz 1993a, 21). Também as figuras de Lázaro são o que são neste sentido. O princípio da concorrência obriga todos a submeterem-se ao fetichismo como iguais. Kurz escreve que, embora tenha sido "uma grande conquista histórica emancipatória da democracia que todos os seres humanos tenham podido tornar-se um 'eu' sem barreiras corporativas, pouco a pouco descobriu-se que esse 'tornar-se eu' tinha um preço terrível. Em vez de submissão desde o nascimento a um 'senhor' pessoal, houve submissão ao domínio impessoal e muito mais total do dinheiro" (ibid., 20, destaque no original). Hoje, a racionalidade está a transformar-se em irracionalidade, e entrámos na fase final da emancipação ocidental. O radicalismo de direita é uma "última rebelião de falsa crítica imanente, obstinadamente irracional" (ibid., 21). Portanto, não se trata de realizar a "democracia" numa sociedade pós-capitalista, mas de emancipar-se dela.
O fascismo histórico e o NS histórico são assim "parte do continuum da modernidade produtora de mercadorias" (ibid., 24). Neste sentido, o NS iniciou mudanças sociais estruturais como pré-requisito para o progresso posterior da modernidade. Outros poderiam ter assumido esta função, mas até os sociais-democratas adoptaram estruturas guilherminas. (Kurz lida intensamente com a disputa dos historiadores então furiosa, e também discute e critica Nolte & Cª, sobre o que não vou entrar em mais detalhes aqui, ibid., 27s.) Estruturalmente, diz Kurz, o NS promoveu a igualdade e a liberdade para essas relações, apesar de toda a conversa sobre a "comunidade" do povo. O universalismo, portanto, desde o início se fundiu com uma "particularidade de ordem superior" já no século XVIII. O "povo" perante o Führer não deveria mais ser submetido a estruturas especiais que tinham crescido na República de Weimar como resultado de privilégios de nascimento, a um conjunto de notáveis. "Assim, o universalismo reteve e desenvolveu uma forma não universalista, a igualdade distinguiu-se da 'outra' igualdade; e a liberdade da 'outra' liberdade; a concorrência reteve um momento formador da não concorrência, mas um momento ele próprio derivado da metaconcorrência nacional" (ibid., 33). O alinhamento totalitário das pessoas assim alcançado poderia “funcionar ‘por si só’ após o NS, porque o tratamento foi bem sucedido" (ibid., 34). O momento "totalitário" foi transformado na "autodisciplina interior" dos sujeitos desenvolvidos. No entanto, o NS e a democracia da RFA certamente não são o mesmo: "A identidade não é imediata, mas historicamente genética". Assim, segundo Kurz, o nacional-socialismo histórico não pode ser repetido, o que não significa que podemos ficar descansados. "Hoje, por outro lado", diz Kurz, "depois de uma fase de prosperidade fordista no pós-guerra e da conclusão das estruturas democráticas [...] temos de lidar com a desintegração bárbara da democracia da economia de mercado, que atinge os seus limites absolutos" (ibid., 31). O trabalho, o povo e a nação já não podem assegurar hoje a coerência do sistema. Globalização é a palavras-chave. "Todas as ideologias, formas políticas, objectivos, programas e procedimentos da história da modernização podem experimentar algum tipo de revivalismo, tudo é tentado novamente, mas nada mais pode ser inflado a hegemonia da sociedade como um todo, tudo permanece no estado de particularidade (mais ou menos casual e estressante) [....] Não se pode falar de um ‘retorno da nação’ [...], mas apenas do retorno do nacionalismo numa forma particular completamente diferente, no terreno da guerra de distribuição selvagem. Os slogans etnonacionalistas e populistas, bem como a invocação da 'honra do trabalho' já só podem fazer avançar a explosão das economias nacionais, desenvolver elementos de desestabilização e dar formas de desenvolvimento à crise" (ibid., 43s.). Além do radicalismo de direita, também ocorrem o racismo e o anti-semitismo, os movimentos religiosos sectários, a formação de gangues, o domínio da máfia, o esoterismo, a toxicodependência, etc. "O Holocausto", diz Kurz, "como extermínio industrial de seres humanos organizado com os meios mais modernos, não pode mais ser ultrapassado, e não será mais repetido nessa forma; nesse sentido, o nacional-socialismo tem em si algo de singular. Mas, no que diz respeito à barbárie em geral, seus elementos podem ser encontrados em todas as fases de imposição da história da modernização [...] fossem quais fossem as suas motivações racionalistas" (ibid., 45). A barbárie aparece assim como "função da concorrência democrática tornada selvagem" e nos "subsistemas de reprodução da economia de mercado" (ibid., 46).
NC: Kurz apresenta aqui um grande esboço teórico que, ao contrário da prática esquerdista, não considera a democracia e o NS/fascismo como opostos, mas reflecte a conexão sistémica entre os dois, que ele vê na forma de mercadoria. Este ponto de vista é, sem dúvida, correcto e não foi desenvolvido em nenhum outro lugar. No entanto, pergunta-se por que o Holocausto ocorreu na Alemanha. Kurz, no artigo em questão, já indica que é importante examinar o processo de modernização na Alemanha. Ele faz isso depois com mais detalhe no Livro Negro do Capitalismo. Em contraste com outros países, onde o anti-semitismo também existiu durante a fase fordista, a eliminação dos judeus no Holocausto foi um fim em si mesmo (Kurz 1999, 478s.). Não posso adiantar mais sobre isso aqui. Sua análise não é, portanto, de modo algum meramente funcionalista, como algumas pessoas assumem. Ainda assim, é verdadeira a objeção de que Kurz, como Postone, negligencia a dimensão cultural-simbólica e psicossocial dos perpetradores alemães, como objecta Günther Jacob (Jacob 2000). Para muitos que argumentam desse modo – incluindo Günther Jacob – no entanto, o "geral” fica perdido, seja em relação à história da modernização ou no sentido da história alemã. Tragicamente, porém, a ênfase unilateral de Jacob na acção dos indivíduos anti-semitas alemães revela até mesmo um sentimento contra a generalidade abrangente e a abstracção que, como sabemos pelo menos desde Postone, é em si mesmo um momento central do anti-semitismo. Em vez disso, seria importante relacionar entre si tanto a forma geral da socialização como a sua história específica na Alemanha – bem como os lado cultural, psicológico e psicossocial do indivíduo. Este último fica para trás tanto em Postone como em Kurz (ver também Scholz 2005). Deve-se também mencionar que a avaliação de Kurz mudou desde então, que nem todos estão submetidos à liberdade e igualdade, incluindo os famintos, mas que desde o início houve uma relação dialéctica no capitalismo entre democracia, igualdade, liberdade e estado de excepção (Kurz 2003, mas também já em "Die Aufhebung der Gerechtigkeit [A superação da justiça]", Kurz 1993c). Ele também deixa claro em outros ensaios que um contexto sistémico não exonera os indivíduos da responsabilidade (Kurz 1993b; "A história como aporia", Kurz 2007).
Nas suas observações no ensaio em debate, Kurz insiste, com razão, na percepção das diferenças em relação à República de Weimar, à era nazi e aos dias de hoje, afirmando que os movimentos de direita e os desenvolvimentos actuais andam de mãos dadas com tendências de asselvajamento na desintegração do capitalismo, ou seja, que não podemos assumir aqui uma posição estática. No entanto, as transmissões transgeracionais são por ele deixadas pelo caminho e não podem mais ser vistas contra o seu fundo epistemológico se for assumida uma completa alteridade de NS e capitalismo da globalização. Em vez disso, a continuidade na ruptura teria de ser examinada igualmente aqui, até à decadência e ao asselvajamento do próprio radicalismo/nacionalismo de direita. Assim, Israel está hoje novamente exposto às tentativas de destruição, sobretudo por causa da ameaça nuclear do Irão, ainda que as condições de hoje sejam diferentes das dos dias do nacional-socialismo, precisamente porque hoje vivemos em "tempos de colapso" (ver, sobre isso, "A guerra contra os judeus", Kurz 2009).
No entanto, tem de se levar em conta que o próprio NS/fascismo tem um carácter universal até aos dias de hoje no capitalismo patriarcal, o que o próprio Kurz diz em várias obras. A ideia alemã de nação deu a volta ao mundo, e os símbolos nazis são utilizados pela direita de forma particularista em países cuja população, por exemplo na Europa de Leste, foi declarada pelos nacional-socialistas como sub-humana. Isto, naturalmente, aponta para uma dialéctica de universalismo e NS, em que a "ideologia alemã" se aplica a certas partes do mundo, mas não a outras. Aqui um "colapso da modernização" (Robert Kurz) está tomando outros caminhos, por exemplo, em muitas regiões do chamado Terceiro Mundo.
2. Dimensões em que o novo radicalismo de direita se manifesta
2.1 Economia
DDF: Contra o pano de fundo da sua crítica à democracia, Kurz aponta então os vários níveis, momentos e potenciais do novo radicalismo de direita, "reino do mal" que se desenvolve a partir da própria "democracia civilizada". Primeiro ele nomeia a crise económica. Assim, o colapso do bloco de Leste e os relatos dos países em desenvolvimento criaram um clima de medo que só foi laboriosamente mascarado pelo clima de festa na década de 1990. O desemprego estrutural em massa é um solo em que o radicalismo de direita pode emergir, embora não necessariamente, e os representantes políticos e económicos mostram que não têm solução no sistema de mercado. No entanto, isso agora leva a que os critérios do sistema sejam mantidos ainda mais firmemente nas perdas e, por vezes, defendidos de forma agressiva. Neste contexto, Kurz também critica os hipócritas intelectuais democráticos que fingem que o radicalismo de direita não tem nada a ver com a democracia de mercado: "A perfídia liberal, que declarou o mercado como o único deus salvador, mas ao mesmo tempo tem a audácia de esperar que uma massa crescente de pessoas já não comercializáveis se submeta 'civilizadamente' ao seu destino e à administração estatal da pobreza, lança gasolina no fogo do racismo e do radicalismo de direita" (Kurz 1993a, 48). Mesmo neste momento de crise fundamental, que se tornou particularmente visível no Leste após a queda do Muro de Berlim, muitos migrantes vieram do antigo Bloco de Leste, o que, diz Kurz, mostra que "[...] por um lado, o suposto modelo ocidental vencedor é teimosamente recomendado ou mesmo imposto com pressões económicas e políticas, por outro lado, não se pode lidar com as consequências sociais catastróficas" (ibid., 49). No Ocidente, esta vaga de imigração está, na verdade, a conduzir ao dumping salarial, à tensão no mercado imobiliário, etc. Há também concorrência nos sectores dos salários elevados. Além disso, a capacidade das economias da Europa de Leste para importar está a diminuir devido à falta de competitividade, e os produtos de exportação são vendidos a preços de dumping. Kurz refere também distorções na UE, bem como na Europa de Leste com as suas opções de baixos salários, que não podem ser aqui discutidas em pormenor. Ele também menciona o custo e a pressão competitiva do Japão, do sul da China e dos Tigres Asiáticos. A lean production, vinda do Japão e muito debatida no início dos anos 90, levou a que até mesmo gerentes fossem postos na rua.
NC: Passaram vários anos desde 1993. Os "Tigres Asiáticos" caíram, a crise das dotcom ocorreu, o Hartz IV foi introduzido na Alemanha, um anti-semitismo (estrutural) tornou-se visível e foi lamentada uma "praga de gafanhotos" de capital estrangeiro, especuladores e capital financeiro foram denunciados como parasitas e assassinos do capitalismo, houve uma crise financeira fundamental em 2007/8, como previa Kurz. Pacotes de resgate foram embalados, houve uma crise grega e uma crise massiva em outros países do Mediterrâneo, um gigantesco conflito por procuração no Médio Oriente, uma crise de refugiados em 2015, uma viragem maciça para a direita etc.; o mais tardar desde Trump, foi sugerido que medidas protecionistas, bem como exclusões maciças e grandes muros poderiam manter e até mesmo melhorar o status quo actual. Embora no decurso das tendências da globalização tenha havido inicialmente a deslocalização de actividades produtivas e serviços para países com baixos salários, no decurso da indústria 4.0 e da correspondente racionalização o trabalho ameaça tornar-se cada vez mais escasso. Certas empresas podem então regressar aos seus países de origem, mas apenas porque isso vale a pena em termos de medidas de racionalização, que não criam empregos (ou apenas empregos temporários, por exemplo, no sector das TI), mas, de um modo geral, reduzem as despesas de mão-de-obra. A redução de impostos para empresas, como as previstas por Trump, atrai empresas estrangeiras, mesmo que medidas protecionistas reduzam as exportações. Na economia mundial tudo está entrelaçado. Numa guerra comercial, as empresas também se mudam para outros países com opções de baixos salários porque se tornam demasiado caras no seu "país de origem" (ver a Harley Davidson, por exemplo). A tributação de componentes provenientes do estrangeiro para a indústria automóvel dos EUA trouxe muitas críticas a Trump porque gera custos adicionais, porque também significa a perda de postos de trabalho e impostos para os consumidores nos EUA. Trump & Cª obviamente não deram muita atenção às cadeias de valor, muito menos às bolhas financeiras e de liquidez.
Na segunda metade da primeira década de 2000, teve lugar o alargamento da UE para Leste, trazendo consigo um afluxo de mão-de-obra que por vezes não pode ser absorvida (o que, no caso da própria mão-de-obra nacional, só é possível devido à precariedade e às condições de Hartz IV). Por outro lado, os trabalhadores estrangeiros com baixos salários são tacitamente tolerados, ou mesmo recrutados, nos sectores da construção e da prestação de cuidados, por exemplo, que já não geram qualquer valor acrescentado, sem o que uma sobrevivência superficial do sistema não teria sido possível (e teria caído há muito tempo) (não se deve ficar impressionado com os controlos tímidos na construção civil). Entretanto, pessoas de todo o mundo podem ser encontradas na Europa. Um aparente paradoxo torna-se visível quando os gestores são cada vez mais desapossados, trocados e acusados, mas, por outro lado, as figuras neoliberais, que já falharam uma vez devido a critérios capitalistas-neoliberais, voltam agora ao palco purificado pelo proteccionismo nacionalista, como é o caso de Trump.
Enquanto isso, nas camadas médias em queda, cada vez mais atenção está sendo dada à categoria de classe; as pessoas identificam-se com o proletariado industrial, que já não existe ou está ameaçado. A desclassificação não deve ser permitida; em vez disso, mesmo nos tempos pós-fordistas, pretende-se ser um bom trabalhador industrial que já foi altamente valorizado nos tempos fordistas. Sob nenhuma circunstância, porém, as pessoas das camadas médias pós-modernas devem ir absolutamente às profundezas da existência de pária. Os estudos sobre o anticiganismo permitem-nos olhar para os abismos do capitalismo (não posso entrar aqui em mais detalhes, cf. Scholz 2007). Enquanto o paradigma de individualização de Ulrich Beck dominou bem na década de 1990, e nos anos 2000 o paradigma da classe média e a atitude perante a maionese e as batatas fritas foram usados como meios de distinção, hoje volta-se novamente ao trabalhador industrial honesto como figura de identificação (que nunca foi realmente abandonada) com quem a classe média (em queda) agora se dá bem, como se apenas este tivesse eleito Trump e a AfD, e se tivesse de seguir a sua miséria. Os eleitores de direita, no entanto, atravessam todos os estratos e grupos da população, como se verifica frequentemente.
2.2 Análise de classe obsoleta
DDF: Já no início da década de 1990, o medo da queda também foi sentido por aqueles que ainda não eram/são directamente afectados. Tais situações dão origem ao ressentimento. Estão agora a ser construídos Outros, por assim dizer, cresce um "nacionalismo desesperado" sem base, que não tem hipótese de ser implementado, como no processo de ascensão da modernização. Tal atitude é, de acordo com Kurz, característica especialmente de trabalhadores industriais em queda e da sua "juventude moralmente assselvajada" – ainda que os mais velhos possam apoiar-se num "bacon fordista", não estando ainda ameaçados nem insultando os "Outros" nesta base (ibid., 54). Os trabalhadores mais jovens e qualificados mostram ainda mais medo porque ficaram ainda mais endividados através das ofertas de consumo. Um guarda avançado das classes mais baixas decaído corresponde mais ao ressentimento contra os outros, que se encaixam melhor no critério social darwinista do supérfluo. Existem sobreposições entre uma "solidão desorientada" e actos de violência racista/anti-semita. "O surto aberto de violência extremista de direita aponta, assim, tanto para a deformação psicológica geral do sujeito da mercadoria, forçado a uma permanente auto-afirmação abstracta, quanto encontra a sua causa quase conjuntural e o seu terreno de reprodução social nos principais sectores em crise do trabalho assalariado fordista subalterno" (ibid., 55).
Tal neonacionalismo, no entanto, entra em contradição com o grande capital. A globalização irreversível impede uma cooperação harmoniosa entre capital e trabalho, como no período entre guerras. Por parte do capital internacional, não é tanto a exclusão dos estrangeiros que está em curso, mas sim a dos trabalhadores industriais inflexíveis e supérfluos. "O novo radicalismo de direita realmente ganha seu potencial social, mas não a sua capacidade de imposição social, que teria que estar na linha do desenvolvimento capitalista, com uma consciência compatível com o sistema (ou seja, na forma de mercadoria). Torna-se o fermento da decadência social e das guerras de distribuição sem perspectivas" (ibid., 56).
Também no meio alternativo de esquerda, semi-educado, pode crescer um ressentimento cínico devido a desilusões, sinais de fadiga, falta de perspectivas, problemas financeiros (por exemplo, através de empréstimos), combinados com uma "frivolidade maliciosa" (ibid., 57). Mas aqui há uma diferença em relação às "existências falhadas" dos anos de 1920. Naquela época, uma geração inteira foi cortada do planeamento da vida burguesa e afins pela Primeira Guerra Mundial e, portanto, desenraizada; hoje, os indivíduos per se já estão destradicionalizados e desenraizados. Já não têm uma ideia uniforme da vida (família, actividade ao longo da vida na mesma profissão, orgulho do trabalhador qualificado, etc.), mas o seu critério é o sucesso no mercado. Na realidade, têm pouco a ver com a família, a disciplina militar, etc., e uma atitude nacionalista parece bastante artificial (cf. ibid., 58). Seu medo é o colapso das classes médias, às quais se sentem pertencer (sendo que Kurz, naquela época, mencionou as classes médias em si apenas de passagem), colapso que decorre da desvalorização do valor historico-dinamicamente num desenvolvimento posterior.
NC: Tudo isto ainda é verdade. Mas, entretanto, ocorreu uma regressão precisamente em contextos de crítica do valor recrutados a partir das novas classes médias. Embora originalmente fosse consenso que um entendimento direitista é problemático do ponto de vista da crítica social, há muito tempo tem sido exigida uma solução imediata no contexto da "preocupação". O colapso da Krisis foi alimentado também pelo facto de que alguns queriam ser "normais" novamente, e queriam fugir para uma crise biedermeier, à la economia solidária, open source, pequenas redes sociais, etc., onde a prosa da tranquilidade das Streifzüge é eloquente (cf. Kurz 2010). Por outro lado, há também tendências para garantir um cargo na universidade ou em algumas fundações com a crítica da dissociação e do valor – preparada academicamente. É previsível o fracasso, ou a integração no capitalismo decadente com a sua administração da crise (cf. Scholz 2014). Projectos ecológicos de direita existem há muito tempo, o pensamento comunitário e a consciência ecológica fazem tradicionalmente parte do pensamento de direita. Isto apenas de passagem.
Hoje em dia, muitas pessoas idosas que "estão a aumentar" estão, de facto, a viver em situação de pobreza na velhice. O "bacon fordista" continua a derreter e isso é agora ainda mais um húmus para o ressentimento racista e anti-semita. Do mesmo modo, os amoques, assassinos, etc. não têm de vir simplesmente do meio industrial da classe trabalhadora em perigo, mas também podem vir de meios da classe média. De facto, a "solidão desorientada" pode coincidir com actos de violência racista, anti-semita e sexista (ódio às mulheres) em auto-afirmação narcisista. O hip-hop, por exemplo, já nos anos de 1980 era um reduto do anti-semitismo e do desprezo pela mulher entre os jovens de classe baixa, mas não só entre eles (cf. Jacob 1992). Então este não é um fenómeno novo, mas algo culmina aqui. Também o novo neonacionalismo autoritário surge hoje numa forma asselvajada. De acordo com as análises da Kurz, apenas se verificaram aqui diferenciações de crescimento no sentido dos correspondentes desenvolvimentos bárbaros.
2.3 Partidos, política e radicalismo de direita
DDF: Também o anti-semitismo que necessariamente surge só pode levar à farsa hooligan depois da tragédia histórica, o que já é suficientemente ruim. As dimensões sociais são suficientemente grandes para que a ideologia de direita se estenda da direita até ao centro e a classe política tenha uma mudança de opinião. Isto aplica-se a todos os partidos (Kurz 1993a, 59, destaque no original) Em contraste com a gestão, a política tem de ter sempre em conta o humor dos eleitores e apresentar propostas de solução que, no entanto, já não podem funcionar, uma vez que esta é uma crise fundamental da democracia da economia de mercado. "Até no PDS [...], que é classificado como 'radical de esquerda', há declarações que competem com os representantes do sistema na invocação de 'interesses económicos nacionais [...] contra a integração da CE’." Assim, às vezes há vozes, até mesmo de "estrelas em ascensão da geração yuppie" no SPD e na CDU, que chamam os gestores de "jornaleiros sem pátria" (ibid..., 60). "Não pode haver qualquer dúvida de que a maior parte da classe política, juntamente com o seu séquito jornalístico, na ausência de conceitos reais de solução, está num processo de transformação da política em geral num 'reino do mal', ou seja, numa função mediada do novo radicalismo de direita" (ibid., 61, destaque no original). Houve uma reprimenda capitalista também na República de Weimar, mas hoje há uma barreira estrutural à intervenção política como um todo, atingida pelo limite da financiabilidade. Palavras-chave: Falta de absorção de fundos através de impostos, ou de crédito estatal (ibid., 62) No entanto, não se pode voltar para a nação, porque as restrições do capital globalizado e do sistema democrático de mercado são eficazes. Deste modo, as leis não podem passar ao lado do processo de mercado sem sujeito, caso contrário não irão a lado nenhum.
NC: Mais: como podemos ver hoje, as tarifas aduaneiras punitivas ainda agravam mais a crise. Por outro lado, mais política de cimeiras, acordos de comércio livre, acordos internacionais, etc., como era habitual no período pré-Trump, também não poderiam ter travado a crise. Teriam igualmente conduzido ao dumping salarial, a uma nova regressão da legislação social e afins. Provavelmente, só poderiam ter adiado o curso e os crashes dos mercados financeiros por um curto período de tempo, no máximo. A política está aqui num dilema – para não falar do facto de que os processos de racionalização (indústria 4.0) não podem ser travados – e as indústrias, como já foi referido, mesmo que regressem aos seus países de origem através de reduções fiscais, é ainda mais provável que se registem lucros nos mercados financeiros do que na economia produtiva/real e, no que diz respeito à produção, as cadeias criação de valor são de qualquer modo ignoradas pela política de Trump & Cª.
Por conseguinte, as análises de Kurz continuam correctas, embora o curso da crise não possa ser previsto. Depois do governo Schröder e das suas leis Hartz IV, Angela Merkel parecia entrar numa fase de equilíbrio. Mamã Merkel já estaria a endireitar as coisas, embora se possa ter falado dos "gafanhotos" (Müntefering) do capital financeiro internacional; o que Kurz ainda não tinha em mente sistematicamente na altura era o anti-semitismo estrutural (mas cf. Scholz 1995). Em todo o caso, um "reino do mal" radical de direita parecia ter sido banido por algum tempo. A situação de crise fora apaziguada, o essencial já fora feito pela social-democracia (Hartz IV). A Alemanha começou por se regenerar, baixando os custos não salariais do trabalho à custa da sua própria população e dos Estados europeus (vizinhos). No início, a Alemanha foi capaz de se afirmar dentro de um capitalismo globalizado. A propósito, os media não tomaram simplesmente o partido do capital internacional; pelo contrário, a repreensão dos especuladores foi sempre inerente a eles, e não foram responsáveis por qualquer propaganda do estrangeiro. Os yuppies teutónicos, como Alice Weidel, hoje regressam abertamente ao seu teutonismo (cf. também Scholz 1995). Deve-se lembrar que Trump já foi um ícone do neoliberalismo, para quem o sucesso do mercado era primordial. Em conjunção com condições de precariedade e problemas existenciais em constante evolução, prevaleceu um positivismo do quotidiano que se intensificou na crise, hoje ainda mais veementemente numa perspectiva nacionalista e particularista do que no início dos anos de 1990. É precisamente quando as opções políticas no quadro do mercado e do Estado são largamente obsoletas que as pessoas mais confiam nelas e as invocam. A política do passado e o Estado devem agora dirigir de novo, sobretudo para aqueles que uma vez apostaram no capitalismo (de casino). Mas isto faz deles uma farsa e um fermento de barbárie. A política roda em falso e é mais uma vez invocada na sua obsolescência pelo populismo de direita. Trump é a novela de si mesmo (já realizou com sucesso um reality show), tentando impor um interesse nacional mais uma vez dentro dos limites da economia empresarial para remediar a miséria, o que, é claro, numa sociedade mundial em rede, não tem base e, na melhor das hipóteses, apenas faz sentido momentaneamente para o superficial entendimento quotidiano e corresponde ao actual espírito do tempo. No entanto, o capitalismo não se esgota numa lógica empresarial, como Kurz demonstrou precisamente em Dinheiro sem Valor, já que, entre outras coisas, os capitais individuais obedecem ao princípio da concorrência e, portanto, são determinados pela "contradição em processo" como um todo (cf. Kurz 1986; Kurz 2012).
2.4 Aparelho de violência: forças armadas e polícia
DDF: O esvaziamento das medidas democráticas é, portanto, o "núcleo mais íntimo da violência e, ao mesmo tempo, a ultima ratio da democracia da economia de mercado". Agora apela-se ao monopólio estatal do uso da força, à polícia e às forças armadas. Estas também podem, segundo Kurz, "ficar fora de controle" (ibid., 63s., destaque no original). Os militares sempre tiveram uma afinidade com a ideologia de direita. Acresce que soldados e polícia são mal pagos. Tal como no caso da cultura e dos assuntos sociais, também no aparelho de violência se poupa dinheiro. Uma certa autonomização do aparelho de violência já não pode deixar de ser vista, diz Kurz – como ficou claro na acção unilateral contra a esquerda, por exemplo, em operações de grande escala contra o movimento de oposição às centrais nucleares, etc., enquanto a violência de direita muitas vezes não é combatida. Apesar das subjectividades pós-modernas, o aparelho estatal de violência foi apenas ligeiramente influenciado pela revolta cultural de 1968. As imagens do inimigo tornam-se cambiantes, porque dentro e fora ficam desfocadas e as "velhas e claras linhas da frente se confundem" (ibid., 65).
A polícia cada vez mais corre o risco de se tornar acólito da violência contra os fracos, os sem-abrigo, os gays, os requerentes de asilo e os estrangeiros. No Brasil, por exemplo, o fenómeno de crianças de rua serem mortas como actividade secundária à ordem de comerciantes já existe há muito tempo. No entanto, a coerência do sistema já não pode ser alcançada deste modo. Mesmo na sua forma totalitária, o aparelho de violência torna-se independente nas próprias formas asselvajadas. Isso também é apoiado pela corrupção, pelo enredamento com a máfia, com o tráfico de droga, e não apenas na América Latina. “Seja com ou sem golpe de Estado e ditadura militar, o aparelho de violência tornar-se-á, de qualquer modo, independente numa fase avançada da crise", mas não mais no sentido de "estruturas coerentes. Uma vez que o novo radicalismo de direita não é, em qualquer caso, ideologicamente elaborado, sendo constantemente autocontraditório, ele, presumivelmente, também pode viver subjectivamente com a contradição da 'ideologia da ordem' e do comportamento criminoso de gangues com fantasias saqueadoras, assim como [...] as máfias e os assassinos são muitas vezes altamente religiosos" (ibid., 67). Para os países do chamado Terceiro Mundo, da Europa de Leste, etc., isso já não é novidade, e tais tendências também estão a espalhar-se nos países ocidentais (A relação entre negócios e crime é tratada do nosso lado por Gerd Bedszent em particular; veja-se, no entanto, a crítica de Meyer 2017).
NC: Tais avaliações de Kurz também foram amplamente confirmadas e podem ser identificadas em tendências mais recentes. Evidentemente, o NSU-Komplex deve ser aqui mencionado, embora haja indicações de que o próprio Gabinete para a Protecção da Constituição esteve aqui envolvido; pelo contrário, foram tomadas medidas maciças contra manifestantes de esquerda em Hamburgo. Por outro lado, porém, os ataques igualmente infundados estão a aumentar não só contra agentes da polícia, mas também contra auxiliares e paramédicos. Também aqui se pode ver o asselvajamento das relações sociais, como Hans Magnus Enzensberger já demonstrou no seu ensaio Perpectivas da guerra civil (1993) para algumas regiões do chamado Terceiro Mundo, onde são destruídas sem sentido e de forma irresponsável as clínicas de cuja ajuda os próprios destruidores poderão um dia necessitar.
Nas forças armadas, cada vez mais ligações de direita estão a tornar-se evidentes nos quartéis, onde as alianças masculinas tradicionais de estruturas de direita se misturam com novas orientações de direita. A mudança dos nomes dos quartéis e uma orientação diferente das tradições por parte da mulher dos escombros Ursula von der Leyen apontam nessa direção, assim como as consideráveis tensões entre von der Leyen e os titulares do aparelho militar (não apenas os superiores) que se tornaram visíveis. Também não houve qualquer alteração no pagamento insuficiente da polícia e das forças armadas, o que não prejudicará a tendência para a corrupção. Deste modo, há sobreposições com o meio criminal, por exemplo, por parte da polícia. Ao mesmo tempo, estão a ser tomadas cada vez mais medidas contra pessoas supérfluas e marginais. Basta pensar na violência "desproporcionada" contra os negros nos EUA, mas também aqui o aparelho de violência está a atacar violentamente os requerentes de asilo, por exemplo, os Roma do Leste. Os não brancos são mais controlados do que os brancos. A diferença entre o Estado de direito e o estado de excepção tornou-se ténue – para não falar da vigilância vídeo e digital, dos bilhetes de identidade fisiométricos e afins. Trump já foi associado a contactos mafiosos, e há muito que o mesmo acontece com Putin, sendo que no passado se tinha falado da Gazprom. Não é raro que aqueles da classe política que lutaram contra a corrupção sejam acusados desse crime. No Brasil, Dilma e Lula estão agora sob este veredicto e são acusados por forças elas mesmas duvidosas. A produção de papoila está a florescer no Afeganistão militarmente supervisionado. Os conflitos no Médio Oriente, enquanto guerras por procuração de diferentes "potências mundiais", ameaçam fugir ao controlo, pelo que é provável que tenham surgido acordos "informais" entre governos oficiais e, por exemplo, o EI. Há algum tempo atrás, havia rumores de que entregas de petróleo à Turquia por camião tinham sido feitas legal ou ilegalmente. Há, portanto, muitos sinais de que o aparelho de violência está agora a tornar-se independente de uma forma excessivamente desenvolvida. Outros conflitos no mundo, como no Mali, são apenas relatados incidentalmente nos meios de comunicação; o foco está em relatos de conflitos que nos afectam directamente e que podem ser perigosos para nós. Esquecemos também a guerra civil no Congo Oriental, que tem a ver sobretudo com a violação de mulheres, numa região onde nenhuma agência das Nações Unidas se atreve a entrar. Duterte das Filipinas, ao contrário de "nós", é sobretudo apresentado como um vilão que desrespeita todas as regras democráticas. Deste modo, a própria barbaridade genuína da democracia pode ser desviada como um exterior a "nós". Também no caso de Duterte se abstrai do facto de que os radicais de direita são muitas vezes democraticamente eleitos e legitimados.
Cada vez mais se torna tão visível que as frentes de conflito se confundem ou se abrem contradições inextricáveis, tanto no cenário político mundial como nos níveis meso e micro: os islamistas lutam contra os islamistas (Arábia Saudita sunita contra o Irão xiita, sendo o Iémen a vítima). Vários grupos étnicos subalternos fora da branca "cultura dominante" (Birgit Rommelspacher) estão lutando entre si, os esforços de independência estão ocorrendo dentro dos Estados-nação existentes, por exemplo, escoceses contra ingleses, catalães contra espanhóis, etc., mas há mais: gays, por exemplo, também podem ser xenófobos, mulheres brancas oprimidas podem ser contra estrangeiros supostamente ainda mais sexistas. Negros e latinos podem ser fãs de Trump e assim por diante. Há muitas diferenças que justificam a raiva e que distraem do patriarcado capitalista, e tornam possíveis alianças transversais, entre outras coisas, como Robert Kurz (ver acima) já afirmou: Só hoje isto se está tornando plenamente efectivo. É claro que isto também constitui uma diferença para com a República de Weimar. Uma noção pós-moderna de identidade em contextos da nova direita é expressa precisamente em contradições como os gays na AfD, ou mesmo quando um militante da AfD se converte ao Islão. Neste país, também, muito aponta para uma terceiromundização que se avizinha, sendo que se pretende que isso deve ser controlado pela polícia e pelo aparelho militar, o que irá criar ainda mais caos. Vivemos, portanto, numa época autoritária e anárquica. Com figuras como Trump, o bode é transformado em jardineiro. Aqui misturam-se também, como Kurz constata, amoques “normais” com razões etnofundamentalistas, como mostra o perpetrador do amoque de Munique, que tem raízes iranianas, se definiu como "ariano" e que provavelmente tinha problemas psicológicos enormes.
2.5 Os de 1968 e o novo radicalismo de direita
DDF: Kurz também contradiz veementemente posições que vêem no antiautoritarismo dos de 1968 as causas de um novo radicalismo de direita (sobretudo jovem). Ele polemiza contra os antiautoritários de 1968 autocríticos, que quase querem reintroduzir o cacete como os próprios jovens violentos de direita. Escreve ele: "Nenhum dos antigos analistas antiautoritários parece perceber que não é o impulso crítico e radical de 1968, mas a contradição, incompletude, mesquinhez e descrença do projecto de democratização antiautoritária, que voltou atrás para o mundo burguês, que contribuiu mais ou menos significativamente para a ideologização radical de direita ou para a barbárie sem palavras dos jovens de hoje. Parte dessa contradição é que a institucionalização democrática do antiautoritarismo [...] assumiu traços altamente autoritários e repressivos. No domínio abstracto e sem sujeito da democracia da economia de mercado, cujo carácter nem sequer tinha sido minimamente reflectido pelos teoremas de 1968, o impulso antiautoritário só podia ser realizado como um subsistema institucional (correspondente aos indivíduos socializados sob a forma de mercadoria), ou seja, sob a forma da burocracia adicional do Estado social e da educação, dos peritos em ajuda, do mercado psico e terapêutico, da gestão motivacional [...] etc. [...] Eles (os de 1968, RS) representam apenas o acordo elaborado com os critérios do sistema que não podem mais ser preenchidos pelos jovens […] Nessa medida o novo radicalismo de direita dos jovens é realmente uma reação ao antiautoritarismo dos de 1968 [...] É claro que não é uma reação consciente", diz Kurz, "caso contrário, seus protagonistas hoje bateriam nos Leggewie & Cª (ou seja, os de 1968 que se tornaram conformistas com o sistema, RS) em vez de baterem nas crianças estrangeiras" (ibid.., 70s.).
NC: Com efeito, há muito tempo que existem análises altamente plausíveis que mostram que os de 1968 contribuíram muito para o "novo espírito do capitalismo", ao incorporar as suas intenções nas próprias filosofias de gestão (Boltanski/Chiapello 2003).
Um marxismo de Lacan à la Zizek afirma que os de 1968, com seu antiautoritarismo e correspondentes imperativos de auto-realização, assumiram em si mesmos autoridades anteriormente externas, e agora estão condenados a ser os seus próprios mestres (cf. Soiland 2013). Kurz também diz, a propósito, que as pessoas de hoje são o seu próprio "Hitler ou Estaline" (Kurz 1993a, 34). No entanto, as declarações de Zizek, embora contraditórias, apontam para um fazer da ordem em princípio à maneira de Carl Schmitt com proveniência de esquerda (e ao fazê-lo refere-se meio-ironicamente a Estaline e a Lenine) (cf. Zizek 2002, criticamente sobre isto: Scholz 2005). Heinz Bude afirma em relação aos de 1968 que a sua verdadeira revolução ocorreu com Hartz-IV etc. na coligação verde-rubra (Bude 2018).
Kurz fica aqui, por assim dizer, subjectivistamente a meio caminho, acusando os de 1968 de traírem as suas próprias intenções. Por trás disso, no entanto, está o reconhecimento de que os de 1968 tiveram uma função de modernização do capitalismo em decadência / pós-fordismo de um ponto de vista sistémico crítico do capitalismo, e é precisamente por isso que Kurz denuncia a Nova Esquerda (da qual ele próprio fazia parte) e o seu conformismo. Assim, a nova esquerda ajudou a criar as bases para um novo radicalismo de direita, que agora quer combater "democraticamente", com uma atitude de mea culpa para com o seu radicalismo supostamente antiautoritário. No entanto, deve-se considerar aqui que, no esboço antiautoritário abstracto, a "sublimação repressiva" tornou-se "dessublimação repressiva" (ver Marcuse 1967) – ao serviço do sistema capitalista em decadência, com sua ilusão de vida eterna própria, mediada também por uma ilusão política. A este respeito, a intenção antiautoritária dessa época não pode ser simplesmente defendida como tal. Hoje temos o problema dos "sujeitos do dinheiro sem dinheiro", como diz o próprio Kurz em outras das suas obras. Isto cria uma contradição entre permissividade e autoritarismo, quando as correspondentes possibilidades de consumo já não existem. O resultado é um pensamento de direita, um radicalismo de direita, que na realidade, no entanto, se dissolve num autoritarismo de abandono, como já foi dito (cf. Wissen 2017). Se já não é possível uma batalha eleitoral em torno dos privilégios (ou se tal situação está em risco), então também rapidamente a pessoa se pode tornar nazi.
A democracia e a sua ilusão política, que remonta aos anos de 1968, têm efectivamente de ser questionadas, como diz Kurz. A propósito, em relação a Leggewies & Cª, no início dos anos 90 a perda da mãe ainda estava em primeiro plano, para justificar as actividades radicais de direita (actividade profissional das mulheres, os cuidados infantis anónimos nas creches da RDA), mas hoje é a crise da masculinidade, que, na dicção conservadora, é por sua vez considerada responsável pela pilhagem da sociedade, razão pela qual os meios experimentados e testados devem ser a restauração da masculinidade, a fim de ainda garantir ordem e coerência. Por conseguinte, seria completamente errado comportarmo-nos de modo antiautoritário em relação a um novo autoritarismo, ignorando o facto de que ambos são condicionados um pelo outro.
2.6 Relações de género e feminismo
DDF: Kurz vê que no feminismo foram feitos tantos esforços de ajustamento como entre os de 1968 podendo aí constatar-se a estagnação. Prevaleceu um feminismo carreirista que esqueceu a massa de mulheres, o que é fatal na medida em que o sistema produtor de mercadorias e a democracia da economia de mercado são "estruturalmente determinados como masculinos" e como tal conotados. O resultado é um roll back masculinista, uma "dominação social masculina [...] com mulheres modelo emancipadas capitalistamente" (Kurz 1993a, 72). Neste contexto, emerge um novo potencial de radicalismo de direita: "Mas o limite histórico absoluto do sistema é também o limite da sua reprodução social. A autocontradição imanentemente insolúvel da democracia da economia de mercado também se mostra no facto de que, por um lado, o papel feminino inferior, flanqueador e não completamente burocratizável nem completamente monetarizável constitui a sua tácita ‘condição de possibilidade’ estrutural, mas, por outro lado, a mulher como sujeito da mercadoria torna-se ela mesma um indivíduo abstracto e já não suporta suficientemente o papel estabilizador do sistema" (ibid., 73). O novo radicalismo de direita está agora a tentar restituir as constantes sexuais para evitar a desintegração da família tradicional, a negligência da educação, etc. É por isso que, segundo Kurz, também se aplica aqui que "o novo radicalismo de direita ganha força, mas não ganha força social". A mudança estrutural social não pode ser invertida, tal como a abolição da coerência económica nacional do capital e a obsolescência do "trabalho" não podem ser invertidas. Sob as condições de vida modificadas da democracia da economia de mercado tardia, as mulheres não podem mais retornar à inquestionabilidade do velho papel de género [...] O roll back masculinista, que invoca como legitimação os déficits de uma emancipação sistémica das mulheres que permaneceu bloqueada, quer descarregar implicitamente o peso da crise sobre as mulheres em todos os aspectos. Como isso praticamente não é mais possível à maneira antiga, a reacção é literalmente uma orgia de violência nos poros da vida quotidiana capitalista contra mulheres e crianças. Essa violência quotidiana masculina é mediada com a violência de extrema-direita nas ruas e, sem dúvida, há também um secreto regozijo masculino perante os estupros em massa nas guerras civis na Jugoslávia e no Cáucaso" (ibid., 74, destaque no original). A propósito, as mulheres do Leste não eram mais emancipadas. Apesar de terem participado no processo de produção em pé de igualdade, o que se deveu à "industrialização atrasada", foram naturalmente responsáveis pelo agregado familiar e pelas crianças, apesar dos cuidados infantis estatais, etc. Psicossocialmente, segundo Kurz, os papéis de género foram, de certo modo, mais preservados do que no Ocidente.
Kurz observa em geral que, apesar da "afinidade das estruturas internas atrasadas com a ideologia neonacionalista de 'direita' [...] é claro que os países do antigo bloco de Leste são ainda menos capazes de reverter o processo de globalização capitalista do que os países ocidentais [...] A renacionalização ideológica, que é particularmente forte devido ao seu atraso capitalista, está a caminhar contra a parede economicamente e é tão incapaz de formar estruturas reprodutivas coerentes como o Ocidente" (ibid., 77, destaque no original).
NC: A opressão das mulheres e a violência contra as mulheres estão novamente a aumentar e continuam a ser descartadas como uma mera contradição secundária. Tudo pode ser, mas as relações de género é que nunca podem constituir uma estrutura contraditória essencial. Isto reflectiu-se também no tratamento da chamada questão das mulheres nos anos 90, em que foi apenas reconhecida como uma das muitas disparidades sociais, ou em que o feminismo queer, com a sua desconstrução da bissexualidade, contribuiu para que a relação hierárquica de género deixasse de ser mencionada (ver Scholz 2011). Kurz assume de facto a "ideia de dissociação", mas, como outros, ainda não avança para a forma fundamental de dissociação-valor. Ele prefere agarrá-la num plano descritivo. Em 1993, no entanto, a elaboração categorial da crítica da dissociação e do valor ainda estava tudo menos avançada. Assim ele também não chegou, naquele momento, ao diagnóstico do tempo do asselvajamento do patriarcado (cf. Scholz 2000/2011).
Entretanto, porém, também ficou claro que as mulheres como "duplamente socializadas" (Becker-Schmidt) não se encaixam simplesmente no seu destino como administradoras da crise sem resistência. Depois de uma fase de latência do desconstrutivismo, não é por acaso que o feminismo está a experimentar um renascimento. A questão também pode ser formulada em termos estruturalistas: Um patriarcado capitalista em decadência não pode mais permitir-se uma dominação masculina tradicional, mesmo no sentido simbólico, se as mulheres (têm de) se tornar administradoras da crise. A actual luta de género deve, portanto, ser entendida a partir desta perspectiva. Perante os movimentos de direitos dos homens e do novo feminismo, as contradições sociais do próprio patriarcado capitalista tornam-se evidentes, mas em vista delas ainda há a esperança de solução da crise dentro das condições patriarcais capitalistas dadas, e é por isso que o homem "transformado em dona de casa" também ataca, para recuperar o seu estatuto desbotado. Uma tão estranha esperança imanente também se aplica às mulheres, mesmo se uma masculinidade destradicionalizada ainda é mais evidente hoje em dia na barbárie, e as mulheres têm de acabar por ser de facto, talvez até com uma criança, completamente "independentes". Portanto, não se deve de modo nenhum confiar, de modo barato e superficial, no romantismo da fábula da mulher, no sentido de esperança numa mudança social mundial, para já não falar em transcendência, como se a esperança de "Estende o teu manto, Maria" tivesse mesmo sido cumprida.
2.7 Porque tem o país de se modificar...?
DDF: No final do seu artigo, Kurz resume brevemente a sua avaliação mais uma vez, com base no manifesto "Weil das Land sich ändern muss" ("Porque tem o país de se modificar"), que teve um grande impacto no início dos anos de 1990 (Dönhoff et al. 1993). Ele acredita que manifestações, cadeias de luzes, etc. contra a direita são "credíveis e capazes de desenvolvimento", mas devem ter uma visão dos problemas da democracia da economia de mercado e reconhecer que não se pode tão simplesmente invocá-la. Ao fazê-lo, volta a referir-se à "interacção (não) secreta do discurso democrático e do assassino terrorismo de direita". Assim era conduzido o debate sobre o asilo na época, mesmo por políticos altamente democráticos. A crise deve ser superada à custa dos mais fracos. "Topo e fundo" complementam-se esplendidamente. A crise que fique de fora. O "discurso democrático [...] em si mesmo tem a tarefa de definir a população a ser excluída em cada caso [...] e de enevoar este empreendimento vil com frases humanistas" (Kurz 1993a, 79).
"A actividade incendiária assassina de bandos de arruaceiros primitivos contém assim uma importante função de ilibação para o discurso democrático, que agora pode prosseguir o mesmo objectivo de maneira moderada, formalizada e eficiente, ao mesmo tempo que dá livre curso à sua indignação em palavras claras, separadas e alienadas das suas próprias acções" (ibid., 80, destaque no original). Kurz fala de "hipocrisia democrática" (ibid., 80). "Os gloriosos manifestantes querem opor-se ao radicalismo de direita emergente; mas nem sequer notam que são exactamente o seu sermão e os seus conceitos que há muito se encontram literalmente nos tratados do próprio radicalismo de direita, que como eles se opõe superficialmente ao ‘egocentrismo’ tardo-moderno para inverter regressivamente a crise do sistema produtor de mercadorias (a aparente eliminação da lógica nua e crua do dinheiro na re-imaginação do nacional), e é precisamente neste contexto que ele desenvolve a sua energia criminosa" (ibid., 82). Segundo Kurz, porém, os sujeitos só seguem a democracia em seu vazio de conteúdo, que é exterior a qualquer moral ou ética. As virtudes e os valores há muito esquecidos devem, portanto, ser reactivados em conjunto com ideias de direita e de direita radical. Os sujeitos de hoje internalizaram a "razão instrumental" mais do que nos tempos do NS, quando ela tinha acabado de ser implantada repressivamente neles (um desenvolvimento que, em sentido mais estrito, já tinha começado no século XIX) (ibid., 82).
Além disso, um apelo às velhas virtudes e à imposição da poupança ignora a contradição fundamental do capitalismo que culmina hoje: As "pessoas (devem) ser ao mesmo tempo egoístas e altruístas, ao mesmo tempo assertivas e cooperativas; competitivas e solidárias [...] ao mesmo tempo [...] devem ser [...] pobres e ricas, [...] económicas e esbanjadoras, [...] gordas e magras, ascéticas e hedonistas” (ibid., 84).
Depois de a maioria da esquerda se ter envolvido na conformidade do sistema e na administração da crise, é substituída pelo radicalismo de direita, que acelera a transição da economia de mercado para a barbárie.
Uma conclusão de Kurz é: "O critério destrutivo da rentabilidade económica tem de ser rompido; os recursos essenciais devem ser libertados dos mecanismos de controle do mercado e do Estado (dinheiro e poder), tanto a nível internacional como a nível regional. A superação dos Estados-nação tem de ser institucionalizada, tal como a superação da família de sangue burguesa. O universalismo abstracto do Ocidente, que está agora a desenvolver o seu lado repressivo como crise global, deve ser substituído por uma ‘razão sensível’, que diversifique concretamente, de acordo com critérios sociais e ecológicos, sem seleccionar ‘nacionalista’ e irracionalistamente” (ibid., 86).
NC: Enquanto isso, o "imperialismo da exclusão" (Kurz 2003) tornou-se atrevido no sentido de Trump, por exemplo, e já nem precisa de invocar uma democracia universal. A ligação entre o radicalismo de direita e a democracia tornou-se hoje muito clara, uma vez que as fronteiras da Europa e entre os diferentes Estados-nação europeus estão agora a ser fechadas mais firmemente após os grandes movimentos de refugiados de 2015/16. Espera-se que os refugiados permaneçam na Turquia, com capangas como Erdogan, ou nas condições selvagens da Líbia, onde a barbárie já está mais avançada. A fim de superar a situação global devastadora, Kurz faz sugestões de mudança (imanente) nas quais ele mesmo provavelmente não acredita; mas isso acontece quando alguém é exposto à constante pressão "Dê-nos ideias, mostre-nos o que devemos fazer". Então recorre-se a pseudoconcepções, mesmo que se saiba que estas não podem realmente levar longe.
Depois destas observações, não é mais necessário mencionar especificamente que o hodierno discurso sobre a regressão não compreende adequadamente a situação actual, como se uma globalização problemática, assente nos fundamentos de um universalismo repressivo, tivesse sido melhor. Em vez disso, é preciso assumir que esta alegada "regressão" resulta dos processos de globalização e das próprias estruturas democráticas, quando o capitalismo atinge os seus limites. De um ponto de vista emancipatório seria preciso, pelo contrário, lutar por um novo universalismo, para além do velho universalismo patriarcal capitalista, e por um novo particularismo do nacional e do regional, longe de falsas mediações abstractamente particulares, que fazem de uma mera "preocupação" o ponto de partida.
3. Resumo: A democracia devora os seus filhos – hoje
3.1 Continuidades e rupturas
Em suma, pode dizer-se que as previsões de Kurz foram confirmadas, desde o declínio dos Tigres Asiáticos, passando pela crise das dotcom, até ao colapso financeiro de 2008 (com a probabilidade de novas quedas), bem como um maciço desenvolvimento da direita, no contexto de um novo asselvajamento e barbarização da situação. Pode ser constatada uma dialéctica de caos e ordem, o que ajuda a acelerar a desintegração do capitalismo, quando hoje se tenta a administração da crise no âmbito nacional e local, como se pode observar muitas vezes (ver Trump, Erdogan, Orban etc.) (cf. Scholz 2006). Kurz mostra aqui as diferenças entre a República de Weimar e hoje (ou seja, no início da década de 1990). O que é decisivo é que, o mais tardar desde o início da década de 1990 (se não desde a década de 1970), já estamos no declínio do processo da modernização que ainda hoje continua. Partindo daqui, os novos desenvolvimentos de direita, pelo menos desde o final da década de 1980 até hoje, devem ser analisados em contraste com os da República de Weimar/NS, que se situam na fase ascendente do capitalismo. Depois do largamente inesperado crash de 2008 (aqueles que antes se atreveram a fazer tal previsão foram declarados loucos), estamos agora a entrar numa segunda fase do "colapso da modernização". Na sua crítica ao manifesto "Porque tem o país de se modificar", Kurz mostra como o pensamento de direita e o democrático-burguês se podem misturar, uma tendência que é mais visível hoje do que nunca. Como mostra o texto de Kurz, faz pouco sentido considerar o início dos desenvolvimentos de direita com AfD, Pegida etc., como faz Daniel Späth em seu texto "Frente transversal em toda a parte! Ou: A 'novíssima direita', a 'novíssima esquerda' e o fim da transcendência na crítica social” (Späth 2017). Embora estes desenvolvimentos de direita se voltem a formar hoje em dia, estão também a ganhar uma nova qualidade. Mas eles não caíram do céu. A liberdade negativa pós-moderna sempre andou de mãos dadas com as tendências de direita, como supostas contrapartes, o que se tornou evidente, o mais tardar, desde o final da década de 1980. Já naquela época se reconheciam estruturas e contradições correspondentes (ver o trabalho de Wilhelm Heitmeyer, entre outros, nas últimas décadas). No entanto, estranhamente, Späth evita esta fase, tendo em vista uma viragem à direita hoje.
Em vez disso, seria importante definir o posterior desenvolvimento da estrutura delineada por Kurz, da relatividade da democracia e das ideologias de direita nos últimos 25 anos desde situação da década de 1990, como fiz em poucas palavras. Na minha opinião, as continuidades e rupturas devem ser enfatizadas o mais tardar desde a República de Weimar (se não desde o Romantismo) passando pela pós-modernidade, até aos nossos dias.
Hoje, o metanível do "colapso da modernização", um mesonível específico do país e uma dimensão piscossocial da transmissão transgeracional, especialmente na Alemanha, teriam de ser distinguidos na sua interligação e separatividade no que diz respeito ao Holocausto (mas não só – pense-se na herança colonial de outros países, visto que a ideologia populista não está de modo nenhum limitada à Alemanha). A este respeito, nem todas as relações sociais mundiais podem ser iludidas em termos de lógica da identidade, ainda que uma tendência para o asselvajamento seja comum a todos hoje em dia. É também tal herança que forma a base psicodinâmica, e é por isso que ela permite que as ideias de direita surjam da "alma popular", por assim dizer, especialmente em situações de crise.
3.2 ‘Frente transversal em toda a parte!’?
Neste complexo contexto, ao contrário de Daniel Späth, as diferenças entre as actuais tendências de frente transversal e a actual "restituição", sobretudo da "soberania nacional" (Späth), teriam de ser evidenciadas. A propósito, já houve tendências de frente transversal desde a República de Weimar, o que ele apenas menciona numa nota de rodapé, e Späth também parece nada saber sobre um etnopluralismo pós-moderno (como contrapartida do multiculturalismo esquerdista) de um Benoist da Nouvelle Droite, uma perspectiva que até ocupou a ideia de Europa da direita, para já não falar da Jungen Freiheit, que existe desde 1986 e pretende repetidamente apropriar-se de ideias de esquerda, tendo repetidamente pegado em discussões da exit! e coisas semelhantes. A seguir, entrarei em detalhes sobre o artigo acima mencionado de Daniel Späth. A expressão "frente transvesal" é geralmente entendida como significando a sobreposição de posições de direita e de esquerda e estratégias correspondentes. Späth, no entanto, usa esse termo para a confusão de diferentes posições políticas e correspondentes distorções em relação às interfaces com a direita, especialmente entre conteúdos neoliberais e de direita. Se se escreve sobre um tema, é preciso primeiro informar-se sobre ele. Isto aplica-se ao texto de Späth como um todo. Diz-se em Späth que as misturas esquerda-direita serão desenvolvidas em futuros textos. Aqui o conceito de frente transversal, que já aparece no título, teria que ser esclarecido, e não deveria ter sido usado incorretamente em quase 120 páginas da exit! Quaisquer extensões deste termo deveriam ter sido explicitadas. Teria sido igualmente necessário esclarecer o que é uma nova esquerda e uma nova direita quando falamos da novíssima esquerda e da novíssima direita. Não está muito claro qual é o ponto de vista de Späth. Há várias décadas que se fala de uma nova direita, não apenas na Alemanha. O artigo de Kurz aqui em questão também testemunha isso do ponto de vista da crítica do valor.
Desenvolvimentos em torno da Alemanha há anos, ou mesmo décadas, como o "Freiheitliche" na Áustria, Le Pen em França, Wilders nos Países Baixos, etc., são completamente ignorados por Späth. Evita tais tendências, embora esteja preocupado com a Europa.
Particularmente no contexto das observações de Kurz, não há necessidade de provar e voltar a provar meticulosamente que uma "restituição da soberania" está sendo tentada hoje e que isso é ao mesmo tempo inútil. Isso já é inerente às observações de Kurz e, além disso, evidente e banal por observação directa. Späth está assim a reinventar a roda quando já há auto-estradas em toda a parte (cf. Kurz 2007). Por outro lado, ele deita ao vento a anterior crítica da dissociação e do valor quando escreve: "A compressão do horizonte temporal, forçada pelos surtos de desvalorização cada vez mais frequentes, liberta apenas mais inquietação paranóica, que prepara o terreno para uma nova politização do público europeu. Se o espaço público político e mediático, desde o "fim da história", se queixava em toda a parte da despolitização da Europa, desde a crise financeira surgiram novos movimentos sociais e partidos, que frequentemente se consolidaram como multidões maciças, em meses ou até semanas. A viragem imanente pós-moderna é também uma viragem da consciência fetichista e das suas formas de pensamento." (Späth 2017, 96). Späth fala aqui seriamente de uma repolitização, em vez de colocar a emergência de movimentos de direita e novos partidos de direita no contexto da crise, com a erosão e esvaziamento da democracia e da política, ou seja, um processo que Kurz apreende no diagnóstico de que "A democracia devora os seus filhos" e que de facto entrou numa nova etapa desde o crash de 2007/8. Em vez de "repolitização", poderia ser assumida aqui uma antipolítica de direita. Em vez disso, fica-se com a impressão de que, com Späth, os desenvolvimentos de direita e os partidos de direita nos caem em cima como um "evento". O facto de a viragem à direita dos últimos anos ter uma primeira abordagem no passado recente é realmente mencionado uma vez por Späth, mas ele permanece alheio às suas análises (ibid., 134s.) [Nt. 34]. As quais não são tidas sistematicamente em conta na análise global. Embora Späth rejeite o discurso do "evento" neste contexto (ibid., 150), ele deixa de lado os desenvolvimentos de direita das últimas décadas a-historicamente, derivando-os directamente da ideologia do sangue alemã, no contexto de uma argumentação de essência e aparência, deixando de lado a totalidade concreta em relação aos desenvolvimentos de direita nas últimas décadas. Também não está claro o que ele quer dizer quando fala de uma viragem imanente pós-moderna. Os desenvolvimentos discutidos por Späth falam antes do facto de que estamos na época do esvaziamento da pós-modernidade, ou mesmo do fim da pós-modernidade, o mais tardar desde o crash financeiro 2007/8, e aqui tem lugar uma mudança duma nova qualidade. Como ponto de partida, Späth escolhe a imagem de uma "Europa pacífica" que foi recentemente abandonada.
Na realidade, a Europa nunca tinha realmente chegado “ao fundo”. A imagem de uma "Europa pacífica" sempre foi uma noção ideológica, apesar de não ter havido uma grande guerra em solo europeu desde 1945 (o que é de bom grado referido).
É o que prova, por exemplo, ressentimento contra os trabalhadores convidados, passando pela crítica ao degenerado porco do euro-padrão quimicamente injectado, até à transição para o euro, que primeiro teve de ser apresentado ao gosto dos alemães através da publicidade (o marco alemão vai, o euro vem), sendo que o euro foi criticado como factor de inflação depois da sua introdução, e muito mais. Não está claro se Späth cita esta imagem ironicamente. Há formulações que sugerem que ele está a levá-la a sério, porque desde 2008 houve uma mudança fundamental: "Mas os tempos mudaram consideravelmente. Com a chamada crise financeira de 2008, desencadeou-se um movimento de erosão, cuja dinâmica de crise gradualmente desmoronou todos os elementos da identidade europeia e os declarou obsoletos. Seja o ditado da prosperidade europeia, o da justiça social ou a autoconfiança de uma Europa pacífica: Tal como o desemprego em massa e a dívida pública exorbitante de toda a Europa, além do envolvimento europeu na "luta contra o terrorismo" do imperialismo de crise, finalmente também a guerra na Ucrânia zombou dos ideais do velho continente, cujo elogio redundante tem sido agora posto timidamente e com um sentimento de nostalgia." (ibid., 96).
Ao asselvajamento da sociedade mundial patriarcal capitalista corresponde o asselvajamento da consciência correspondente. Está tudo uma confusão. Esta visão teria de ser prioritária numa análise da nova direita. Tal circunstância levou-a às suas formas mais recentes, um estado ao qual tenta reagir com um desamparado fazer da ordem, mas com o que promove tendências precisamente correspondentes e uma nova barbarização no contexto da administração da crise, ainda com tendências de deformação dentro de si. A pré-história capitalista desde a idade moderna poderia ter sido apresentada por Späth com uma brevidade apropriada; não se tem que começar estendendo-se até Adão e Eva, quando o verdadeiro tema é chamado "Frente transversal em toda a parte" hoje mais a "novíssima direita" e a "novíssima esquerda". Perante as tendências radicais de direita, Kurz, ao contrário do entendimento da velha esquerda, é levado a evidenciar a globalização e o pós-modernismo como uma nova fase, como fase de decadência do capitalismo. No entanto, Späth ignora esta fase e aparentemente acredita que, com a ocorrência do crash financeiro previsto por Kurz e suas consequências, este desenvolvimento tem de ser credenciado como o mais novo dos novos.
Späth pretende conectar uma lógica geral com a realidade empírica concreta (totalidade concreta), e propõe-se examinar várias orientações de direita hoje em dia à maneira de coca-bichinhos. Ele tenta classificar vários programas de direita e autocontraditórios de acordo com a relação entre a administração da crise interna e externa, interesses de classe média, universalismo negativo e particularismo nacional, etc., sendo que em princípio não há nada contra isso.
O "não-idêntico" também deve ser aqui tido em conta, desvendando diferentes vertentes. Podemos dar-nos a esse trabalho, no entanto há exames suficientes disponíveis, que mostram a confusão da direita e os movimentos de direita como "amontoados em fermentação" (Gauland). Este já era o caso antes dos Pegida e da AfD). Pelo contrário, a nossa tarefa seria decifrar esta confusão e os correspondentes movimentos actuais (de frente transversal), mesmo na sua diversidade, como uma fase avançada do "colapso da modernização", em que parece estar a espalhar-se uma confusão babilónica da linguagem (e, por outro lado, um renascimento de Marx, não apenas em relação à luta de classes, mas também com uma crítica formal do fetichismo academicamente bem ordenada, que abstrai da processualidade dos desenvolvimentos sociais reais, e agora, após o declínio da ciência, ainda mais pensa em reclamar pseudoconceptualmente consagrações científicas em sua lógica formal). Späth alega pretender uma formação de conceitos que neutralize a confusão babilónica da linguagem. Ele também tenta dominar isso com o rótulo da "dialéctica das ideologias" e o conceito sem sentido de um "contexto condicional" (exit! nº 14, Editorial, 17), onde não está muito claro o que ele quer realmente dizer. No final, as suas observações ficam presas no empirismo e permanecem sem conceito perante as tendências contraditórias que lhes correspondem.
Algumas citações teriam sido suficientes para ilustrar as actuais ideologias contraditórias de direita. Para estabelecer uma referência à totalidade concreta e ao empirismo, seria de recorrer, entre outros, aos estudos de Heitmeyer de há anos sobre extremismo de direita, racismo, violência e desintegração social, que teriam ajudado a esclarecer o pano de fundo das tendências racistas e de direita, bem como a nova regressão de direita hoje (ainda que estes estudos não apresentem qualquer referência à crítica da dissociação e do valor). Em vez disso, Späth segue diagnósticos temporais superficiais, de modo que se cria a impressão de que surgiram amplos movimentos e partidos de direita num evento relâmpago (trabalhos críticos do valor e da dissociação sobre este assunto também existem há mais de duas décadas – ver Kurz 1999, 762s.; Scholz 1995; Scholz 2006; Scholz 2007). Há passagens nas explicações de Späth que sugerem uma pré-história (Späth 2017, 175), mas então ele teria que se distanciar da afirmação de uma mudança semelhante a um deslizamento de terras (cf. ibid., 140) nos últimos anos. O seu raciocínio é, pois, contraditório. Pode também dizer-se que o que foi elaborado em contextos de crítica do valor e de crítica da dissociação e do valor nos anos de 1990 e 2000 só agora se torna realmente visível. Isto poderia ter sido apresentado num texto/ensaio muito mais curto. Späth começa estendendo-se até ao princípio do capitalismo, Bodin, etc., mas significativamente ignora análises óbvias no actual contexto de crítica da dissociação e do valor; estas precisamente é que não lhe parecem valer a pena implementar.
Apesar de todas as operações com a terminologia de Kurz, Späth dá a impressão de fazer malabarismos com termos abstractos da crítica da dissociação e do valor, e que um estilo de escrita vigoroso e autoconfiante pretende distrair da deficiência com que não consegue lidar com o empirismo contraditório e os diversos níveis. Ele precisa constantemente de assegurar-se disso e, mais uma vez, desdobrar e compilar o que há muito está presente na elaboração e análise da teoria crítica da dissociação e do valor, supostamente gerando algo novo através de pensamento próprio. O volume do texto é antes um sinal de que não está sendo feita justiça ao objecto a ser editado. Menos teria sido mais. As alterações desde 2008 também deviam ser clarificadas. Assim, por exemplo, talvez valha a pena considerar se é possível falar de administração da crise como administração do estado de necessidade, e da transição da decomposição para a desintegração da soberania nacional, no contexto duma concorrência global continuada e de uma nova desvalorização do valor desde 2008 (cf. ibid., 135). Em detalhe, de modo nenhum todas as análises de Späth estão simplesmente erradas.
Mas, quando Späth tenta relacionar diferentes níveis entre si (economia, política, Alemanha, Europa, neoliberalismo, globalização, estratificação social, etc.), ele é incapaz de efectuar a respectiva mediação no seu conjunto. Estes níveis são antes objecto de uma montagem apressada e muitas vezes em curto-circuito. Talvez seja isso que ele entende por "contexto condicional" (ver acima)? O texto dele parece mais uma rã-touro inchada. Rodeia o seu objecto constante e redundantemente, tentando incluir todos os níveis e dimensões possíveis. Sua confusão é particularmente evidente na conclusão do ensaio "Die 'neuestes Rechte’ im Widerspruch" ("A ‘novíssima direita’ em contradição"). O discurso da identidade e da não-identidade das ideologias de direita esbate tanto a essência das ideologias de direita como a sua diversidade no seu actual asselvajamento (ibid., 179s.). Apresentar com todos os pormenores a "não-identidade" das posições de direita não ajuda aqui, porque é bastante óbvio que estas (e não só) se confundem, como Kurz já constatou em 1993 (ver acima). Se o mundo já é um mundo confuso de qualquer maneira, este estado não deve ser enobrecido novamente com o rótulo de "não-identidade", mas deve ser nomeado como tal. Em minha opinião, isto é o que exige o objecto concreto da socialização mundial em desintegração, no sentido de Adorno, especialmente com todas as diferenças de hoje e uma imanente pseudo-variedade de pós-modernismo que pode ser encontrada em toda parte. A "não-identidade" deveria ser encontrada fora deste estado, à distância desta falsa situação. O texto de Späth representa assim uma solução provisória, é antes um trabalho preliminar para textos ainda por elaborar. Como já mencionado, o artigo oferece algumas boas análises baseadas em Kurz, por exemplo, na "história da formação e desenvolvimento da 'ideologia alemã'" (ibid., 101s.). Tais definições, por outro lado, vão de par com diagnósticos imaturos, especialmente do presente, como já foi dito.
Por último, gostaria de fazer notar sobre o quadro geral: por razões de apresentação, não considerei explicitamente a forma da dissociação-valor, que, como disse, teria de ser hoje tomada como base com todas as suas distorções, nem a viragem de Kurz do fetiche da mercadoria para o fetiche do capital. Teria sido impossível incluir tudo isso. A nível fenomenológico, seria ainda de acrescentar que o 11 de Setembro de 2001, a crise na Ucrânia, a crise na Grécia, na Itália, e outros desenvolvimentos desse tipo poderão ser incluídos no futuro. Minha principal preocupação aqui foi delinear a lógica de decadência da actual socialização (mundial) patriarcal capitalista como processo, em sua forma histórica de desenvolvimento até ao presente. Assim, hoje em dia, torna-se ainda mais visível que "a democracia devora os seus filhos".
Roswitha Scholz, Junho de 2018.
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Original 'Die Demokratie frisst immer noch ihre Kinder' – heute erst recht! Überlegungen zu einem 25 Jahre alten Text und einige kritische Bemerkungen zu dem Artikel von Daniel Späth ‘Querfront allerorten!’ in exit! nº 16, Maio de 2019, p. 30-60. Tradução de Boaventura Antunes
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