Filho de Marinho e Huck (Foto: Reprodução)
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Toda vez que dou uma lida no manifesto "Estamos Juntos" eu dou risada e penso: "meu deus, que coisa ridícula".
Me digam se não:
"Como aconteceu no movimento Diretas Já, é hora de deixar de lado velhas disputas em busca do bem comum. Esquerda, centro e direita unidos para defender a lei, a ordem, a política, a ética, as famílias, o voto, a ciência, a verdade, o respeito e a valorização da diversidade, a liberdade de imprensa, a importância da arte, a preservação do meio ambiente e a responsabilidade na economia."
Pedir para acreditar nessa miséria demagógica é continuar chamando o brasileiro trabalhador de idiota.
Intelectuais caem que nem patinhos (intelectual é uma espécie de tilápia de pesqueiro: você põe uma minhoca morta no anzol e ele morde).
São os primeirões (e os idealizadores-donos). Depois do mico classista, deliberam a quatro portas: "a gente precisa achar alguns trabalhadores, negros e mulheres para assinar o manifesto. Alguém conhece?"
C médium. Eles habitam outro mundo, o mundo das ideias mortas e dos sentidos embolorados
Essa gente está morta.
Converse com um deles e sinta-se um médium. Eles habitam outro mundo, o mundo das ideias velhas e dos sentidos cansados.
Como diz o garotinho do Sexto Sentido: "eu vejo gente morta". Foi o que eu disse quando vi o manifesto pela primeira vez.
Mas é claro: é preciso uma explicação técnica.
Para ser breve: o Brasil sempre repetiu essa fraude da frente ampla. Quando a elite erra (e erra sempre), o país se inviabiliza e nasce como que por mágica um sentimento coletivo de necessidade de união (fraudulento, óbvio) para superar a catástrofe.
Esse sentimento sempre nasce de cima para baixo. São empresários, intelectuais e herdeiros profissionais. Para entrar no "clube", muitos políticos e artistas compram a ideia, até que ela se torne razoavelmente "popular".
Por fim,os veículos de comunicação hegemônicos que ajudaram a passar a lista se apresentam como defensores da democracia. Vejam bem: "defensores da democracia". Algo tão vago quando o sintagma 'frente ampla".
Mas isso é a cultura brasileira. Tem intelectual que não entende, coitado. Diz que a elite brasileira é violenta e escravocrata, mas vai lá assinar um documento com ela (intelectual precisa viver e pagar as contas... Shhh... Não contem isso pra ninguém).
É nessa ferida que Lula pôs o seu dedo.
Mas, o problema é ainda mais estrutural.
A educação formal, da pré-escola à pós graduação é uma conquista social, mas isolada da realidade do mundo do trabalho, ela transforma o pensamento numa entidade morta e enterrada.
Marx já tinha dito isso há 150 anos, com palavras um pouco mais bem educadas.
Pois bem.
Há uma prepotência insuportável nessas iniciativas classistas de tutelar o povo. Eles repetem os mantras de que o povo não sabe votar, não sabe pensar e que movimentos de massa são perigosos.
Detestam o povo.
Por isso não suportam Lula.
Por isso Lula não poderia assinar essa fraude.
Intelectuais, empresários, herdeiros, acham que sabem das coisas, que representam a sociedade melhor do que o povo rústico que vive na imundície.
A engrenagem de coleta de assinaturas para esses manifestos é a boa e velha troca de favores entre velhos amigos. É a famosa "social". É a venda de uma marca, uma chance para gente que nunca fez nada pelo país comprar uma inserção nos livros de história.
O manifesto é vazio semanticamente exatamente por causa disso: se ele enunciar algo mais denso e verdadeiro, ele afugenta os patrões.
É por isso que eu aderi a um outro manifesto: o #NãoVaiTerConciliação
Derrotar Bolsonaro todos juntos? Todos quem, cara pálida?
Essa mania de a sociedade brasileira se conciliar toda vez que a catástrofe aparece só nos causou mais dor, mais atraso e mais catástrofe.
O Brasil precisa se libertar dessa síndrome de Estocolmo, dessa mania de lamber a casa grande como se os sinhôs e sinhás fossem repartir o seu patrimônios com o povo e como se eles tivessem qualquer espécie de sentimento cívico.
Essa conciliação fajuta é mais uma armadilha para livrar a cara dessa gente que elegeu Bolsonaro e que agora não sabe para onde correr.
Que cada um lute dentro da sua verdade. Que se rompa com essa prática fracassada de se produzir verdades convenientes.
A hora de esticar a corda é agora. O enunciado saiu da boca de um militar decrépito e aterrorizado com o vexame que se erigiu em sua volta.
É movimento popular na veia. É trabalhadores de aplicativos unidos, não donos dos aplicativos covardemente juntinhos.
É hora de o povo responder. É hora do povo preto mostrar como se faz. É hora de as comunidades LGBTQ ensinarem às elites o que é amor e o que é tesão. É hora do PT assombrar os maus perdedores de sempre. É hora de ser feliz, de não ter medo do confronto, de empunhar bandeiras reais, de pedir mais direitos.
Nós sempre temos de pedir mais, mais e mais. Se pedirmos apenas o que queremos de fato, jamais lograremos êxito algum.
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