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Originalmente publicado por BLOG DO MOISÉS MENDES:
Por Moisés Mendes
Não são poucos os que erraram ao prever que Bolsonaro seria um governante dedicado a atitudes e ações bizarras nos costumes, na ciência, nas relações internacionais, no meio ambiente e até nas relações políticas convencionais.
Bolsonaro seria grotesco, mas sem o poder de destruir as instituições. Seria o patrono da Damares, da Terra plana, dos garotos espalhadores de mentiras, dos blefes do golpe e das guerras imaginárias com a Venezuela.
Mas não esperavam que o sujeito fosse fazer o que faz com a universidade pública. Achavam que iria caçar professores e estudantes, encomendar dossiês, ameaçar com o fim da estabilidade do servidor e destruir as áreas dedicadas às ciências humanas.
Mas não seria capaz de tomar o controle das universidades. Engaram-se porque achavam que a universidade seria maltratada, vilipendiada, mas não sequestrada.
Bolsonaro invadiu as universidades de um jeito que só os antigos resistentes da ditadura conheciam. Os militares usaram emissários para perseguir e expurgar professores, servidores e estudantes.
Tem gente achando que hoje o expurgo é coisa inimaginável. Como achavam que era no início da ditadura.
Será mesmo? Sem reação articulada, os poucos que resistirem serão caçados como foram os que a ditadura conseguiu tirar do campus da UFRGS no final dos anos 60.
Os que se expõem agora, ainda sem o apoio decidido da maioria, não correm os mesmos riscos dos expurgados?
Perguntem ao professor Claudio Accurso como foram os expurgos. Falem com outros cassados. Desta vez, alguns que não viveram aquela época dizem que não será assim, por isso e aquilo. Será do jeito de Bolsonaro.
Talvez não com expurgo, mas com o método da humilhação, da transformação de professores em servidores de segunda linha encostados em algum canto. Ah, mas não pode. Não?
No ano passado, na inauguração do memorial aos que resistiram e sofreram os expurgos dos anos 60, o reitor Rui Oppermann, reeleito pela comunidade acadêmica, mas desprezado por Bolsonaro para comandar a UFRGS, disse o seguinte;
“As novas gerações precisam ter presente que esta universidade resistiu e resistirá a qualquer tirania e a qualquer ditadura.
Resistimos e resistiremos”.
Que a UFRGS seja defendida principalmente pelas novas gerações.
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Já contei há muito tempo e conto de novo. Aí por volta de 1970, um professor expurgado da UFSM vivia refugiado em Alegrete.
Vendia pecúlios da Sul América. Eu comprei dele, aos 18 anos, um plano de aposentadoria.
Devo ter pago por um ano, no máximo, e depois desisti de ficar velho. Me lembro do rosto, do jeito e da pastinha daquele homem triste.
Só depois fui me dar conta da ironia. Um servidor de quem tiraram o direito de contar com um futuro tentava sobreviver vendendo promessa de futuros aos outros.
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