segunda-feira, 12 de outubro de 2020

Brasil é um dos “novos pobres da América Latina”, diz a Economist

Brasil é um dos “novos pobres da América Latina”, diz a Economist. Foto: Reprodução

Da revista The Economist.

Quando a pandemia atingiu Piura, uma cidade no norte do Peru, Daniel Zapata tinha um emprego de meio período em uma empresa de pesquisa de mercado. Os 250 soles (US$ 70) que ele ganhava a cada mês pagavam as taxas de um curso de três anos em administração de empresas. A recessão acabou com tudo isso. A empresa fechou e Zapata, que tem 20 anos e mora com os pais e uma irmã, abandonou o curso. A família recebeu 760 soles (US$ 210) em ajuda emergencial do governo do Peru. Com o fim do bloqueio, eles agora devem contar com a renda de sua irmã como professora e com a pensão de seu pai de anos trabalhando em uma fábrica têxtil. Tendo vivido na camada mais baixa da classe média, Zapata está olhando para o abismo da pobreza. Ele espera pouco das eleições gerais em abril. Os políticos “apenas brigam em vez de trabalhar”, diz ele.

A recessão da Covid-19 está destruindo anos de progresso na América Latina na redução da pobreza e da desigualdade. Os economistas estão começando a mapear o quão grande é o impacto social da pandemia. Muitos governos impuseram longos bloqueios. Isso afetou especialmente a metade dos latino-americanos que trabalham na economia informal. Muitos países, como o Peru, compensam parte da renda perdida expandindo programas de ajuda aos pobres. Isso ajudou, mas não o suficiente, e o esforço pode não ser sustentável.

A economia da região deve contrair 9,1% este ano, segundo a Comissão Econômica da ONU para a América Latina e o Caribe. Isso significa que 45 milhões de pessoas voltarão à pobreza (elevando o total para 37% da população). A taxa de desemprego aumentou 2,2 pontos percentuais para 11% em nove países para os quais existem dados disponíveis, relata a Organização Internacional do Trabalho. A receita de salários na América Latina caiu 19,3%, em comparação com uma média global de 10,7%.

Essas estimativas pressupõem que todos perdem uma porcentagem semelhante de sua renda. Nora Lustig, uma economista argentina, e sua equipe da Tulane University, em Nova Orleans, usaram pesquisas domiciliares para descobrir quais grupos perderam mais renda e receberam mais do governo no Brasil, México, Colômbia e áreas urbanas da Argentina, que juntos respondem por dois terços da população total da América Latina. Eles acham que os maiores perdedores serão as classes médias-baixas da região, porque os programas de assistência social proporcionam um piso de renda para muitos dos pobres. Embora mulheres, afrodescendentes e indígenas tenham maior probabilidade de perder renda, elas recebem mais ajuda do governo.

Lustig acredita que o ano pode terminar com até 21 milhões de novos pobres nesses quatro países. O impacto é muito maior no México do que no Brasil, por causa das políticas governamentais contrastantes. O presidente do México, Andrés Manuel López Obrador, afirma ser de esquerda e seu slogan de campanha foi “Primeiro, os pobres”. No entanto, ele fez pouco para ajudar os mais pobres. O presidente do Brasil, Jair Bolsonaro, é de extrema direita. Mas seu governo fez um pagamento emergencial de US$ 107 por mês durante cinco meses, dos quais 53 milhões de pessoas se beneficiaram. O pagamento foi prorrogado, embora em valor inferior. A pobreza pode até diminuir ligeiramente no Brasil, enquanto no México haverá pelo menos 10 milhões de novos pobres.

O colapso vai durar. Embora a pandemia esteja finalmente começando a diminuir na região, pelo menos por agora, e muitas economias tenham se reaberto, a demanda continuará deprimida porque as empresas e os trabalhadores estão mais pobres. Pesquisadores do Banco Interamericano de Desenvolvimento descobriram que em recessões anteriores, quando o PIB se contraiu em 5% ou mais, o desemprego levou em média nove anos para retornar ao nível anterior.

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