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Lula em palestra bancada pela Globo
A juíza Gabriela Hardt, substituta de Sergio Moro na 13ª Vara Federal de Curitiba, mandou arquivar a investigação sobre as palestras de Lula.
A Polícia Federal não encontrou indício nenhum de crime. O Ministério Público Federal concordou.
“Todavia, a autoridade policial concluiu não haver indícios nesse sentido, com o que concordou o MPF. Por tais motivos, o bloqueio integral de tais valores não mais se sustenta”.
Pagamentos feitos pelas contratantes sustentaram a deflagração da 24ª Fase da Operação Lava Jato em 2016, que resultou na condução coercitiva de Lula.
O Jornal Nacional começaria aí um show que levou anos — para terminar numa nota de 30 segundos sobre a inocência do ex-presidente.
Curioso é que uma das conferências foi bancada pela emissora. Eu escrevi sobre o caso na época:
Como a Globo dá a notícia de que pagou por uma palestra de Lula que, como outras que ele realizou, está sendo investigada pelo Ministério Público Federal?
Da mesma maneira com que lidou com o escândalo da Fifa e com a participação no exílio dourado de Mirian Dutra: fazendo de conta que não é com ela. Como a emissora é intocável, dá um nota protocolar e a Justiça finge que está tudo bem.
O MPF anunciou que as entidades que bancaram conferências de Lula serão investigadas. As contratações se deram através da L.I.L.S., com sede em São Bernardo do Campo, sociedade com Paulo Okamoto, presidente do Instituto Lula.
Entre as companhias que pagaram para ouvir Lula falar estão a Odebrecht, Camargo Corrêa e Helibrás.
Embora a lista completa esteja disponível desde agosto, a ideia é criar a sensação de que “aí tem” e criminalizar qualquer coisa relativa a Lula.
Há poucos meses, o colunista Carlos Alberto Sardenberg, âncora da CBN e comentarista de economia do Jornal da Globo, no qual serve de escada para William Waack, fez uma crítica ao palestrante num artigo.
“Não é apenas o ex-presidente, mas o líder de um partido que permanece no governo, sobre o qual ele exerce notória influência. Além disso, o contratante conhecido neste caso, a Camargo Corrêa, tem notórios interesses neste governo e na sua política”, escreveu.
“E fez doações ao PT e ao Instituto Lula. É por isso que não bastam os contratos e as notas fiscais dadas pela empresa L.I.L.S. contra os pagamentos da empreiteira. Ok, foram pagamentos formais e legais, mas: para quem foram as palestras? Onde? Quem mais patrocinou? Governos? Empresas? Quais? Em quais circunstâncias?”
Sardenberg aponta o dilema ético desse tipo de evento. Compara com a atuação de Bill Clinton. “Ocorre que ele não é apenas ex-presidente, mas marido de Hillary, que ocupou o cargo de secretária de Estado no governo Obama, e é candidatíssima a presidente dos EUA. Assim, quem contrata Bill podia e pode estar querendo mais do que ouvir uma boa conversa.”
Maravilha. Faz sentido.
Mas o jornalista poderia dirigir esse questionamento a algum de seus colegas ou a seus chefes. Em 2013, a Infoglobo, guarda chuva corporativo que abriga O Globo, Extra e Expresso, pagou todos os custos de um colóquio de Lula na Fecomercio-RJ.
Sempre tem uma explicação. Numa breve nota oficial, a Globo afirma que “participa de iniciativas que contribuem para o desenvolvimento e a promoção do Rio de Janeiro”.
Também diz que divulgou o evento “em seus jornais” — sem que se levante, de resto, nenhuma questão sobre o conflito de interesses presente no fato de um grupo de mídia noticiar um acontecimento bancado por ele mesmo. Vide Fórmula 1, Rock in Rio etc.
Toda a explicação é pela metade. Nada é esclarecido. Fica tudo por isso mesmo.
Desnecessário lembrar que Sardenberg, ao saber que a Globo está na lista de bancadores de palestras de Lula, nunca mais voltou ao assunto.
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