segunda-feira, 9 de novembro de 2020

A ignorância ao alcance de todos, por Izaías Almada

Jornalistas brasileiros a viver no exterior e a se tornarem especialistas sobre a geopolítica internacional e nossa política interna, arrotando conhecimentos que só eles têm sobre chineses, russos e norte americanos...

            Por Izaias Almada
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A ignorância ao alcance de todos

por Izaías Almada

Com tantos acontecimentos sérios e mal explicados à nossa volta, como as eleições norte americanas – não nos enganemos com o candidato proclamado vencedor – e as brasileiras, covid-19, desemprego e um senhor de sobrenome Guedes, estupros em Santa Catarina e incêndios na Amazônia, para citar alguns, é natural que nos esqueçamos de que o ano de 2020 vai chegando ao seu final já como candidato a um dos possíveis piores anos do início do século XX. Para nós, brasileiros, com certeza.

Assuntos e fatos para comprovar a tese não faltam. Cada leitor poderá fazer a sua lista como quiser.

Em meio à diversidade de acontecimentos e notícias tão disparatadas ao redor do mundo, dividimo-nos entre receber as informações quer pela mídia tradicional ou pela mídia alternativa (já nem sei se é possível tal designação) e em ambas nos confrontamos cotidianamente com as chamadas “fake news” e as várias tentativas de denunciá-las ou desmascará-las.

Digerimos também as notícias verdadeiras que são assimiladas como tal ou mesmo postas em dúvida pelos que fazem das mentiras um meio de manter privilégios, de enriquecer da noite para o dia, de arranjar aquele famoso e surrado jeitinho de dividir para governar.

Nesse caminhar pantanoso e repleto de armadilhas surgem os especialistas e os filósofos, profissão – pelos vistos – em moda no Brasil atual que, atuando dentro dos cânones da chamada liberdade de expressão, do direito de divergir e das conquistas democráticas vai deitando falação sobre todo e qualquer assunto, transformando a percepção da realidade à nossa volta num emaranhado de conceitos abstratos, teses falsamente acadêmicas, defesas do indefensável, exaltação da cultura exógena, do culto à artificialidade, da submissão ao imponderável à citação de teses e conhecimentos fora de contexto.

Jornalistas brasileiros a viver no exterior e a se tornarem especialistas sobre a geopolítica internacional e nossa política interna, arrotando conhecimentos que só eles têm sobre chineses, russos e norte americanos…

Filósofos a cagarem regras sobre ética aristotélica num dia e sobre dialética marxista no outro para a massa ignara, essa que forma um exército de desempregados, ou para aqueles que procuram desesperadamente levar o pão para a casa ou enfrentar as filas nas agências da Caixa Econômica Federal à espera de receber seu “auxílio emergência”.

Pastores, com a bíblia na mão, quando não estão a brigar com satanás, a venderem por mil reais sementes que curam o Covid-19, repetindo como papagaios versículos dos Evangelhos que nem eles mesmos entendem, fazendo o mercado da fé disputar clientes com o mercado financeiro.

Cansados com a confusão propositalmente criada, deixamos a cada dia que passa de lutar para que o saber seja uma conquista de todos e nos deixamos iludir pela prática da ignorância ao alcance de todos.

Será que daqui a um mês e meio teremos condições de desejar um feliz ano novo a quem quer que seja?

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