domingo, 15 de novembro de 2020

Lula errou ao dizer que Tatto foi consultado sobre apoio a Boulos? Por Joaquim de Carvalho

             Publicado por Joaquim de Carvalho
Edição incorreta, mas coerente com o jornalismo de intriga

Lula confirmou hoje cedo que Tatto foi perguntado por Gleisi Hoffmann sobre o pedido para retirar sua candidatura em favor de Guilherme Boulos.

Para ele, a decisão de Tatto de manter a candidatura foi soberana.

Para petistas como Válter Pomar, Lula errou. Com as urnas ainda abertas, a declaração desmobiliza a militância que trabalha pela candidatura do PT.

Pomar disputou a presidência do PT em novembro do ano passado, e teve quase 12% de apoio dos delegados. Gleisi ficou com 72%.

É preciso considerar:

1) A manifestação de Lula foi em resposta à pergunta de uma jornalista, não foi fala espontânea.

2) Lula não é dirigente partidário e, portanto, tem um grau de liberdade maior ao fazer suas declarações.

3) Lula está, politicamente, acima do PT.

4) Sua declaração parece ser já um aceno para 2022, para uma frente ampla de esquerda que derrote Bolsonaro.

A imprensa aproveitou para fazer uma edição incorreta da fala de Lula.

O jornal O Globo, por exemplo, forçou a barra ao escrever no título:

“Lula diz que decisão do PT de não apoiar Boulos em SP foi ‘exclusivamente’ de Tatto”.

Não foi isso que Lula disse.

Tatto foi consultado. Se concordasse em retirar sua candidatura, seria o primeiro passo para apoio a Boulos.

Mas, naturalmente, um partido como o PT depende de decisões de instâncias internas.

Ao contrário do que diz a mídia, não é o dedo do Lula que decide o melhor caminho a tomar.

Se dependesse dele, o candidato do PT à prefeitura de São Paulo seria Fernando Haddad. Mas o ex-prefeito não quis.

Aparentemente, preferiu se guardar para 2022.

A candidatura de Haddad em São Paulo, segundo avaliação interna de pessoas próximas a Lula, seria importante para atrair apoios, como o do PSOL ou do PCdoB.

Hoje, na disputa por uma vaga no segundo turno, o que se estaria discutindo é o voto em Haddad.

Mas, como águas passadas não movem moinho, os partidos democráticos devem aprender uma lição.

A primeira é que, em política, toda batalha é importante, para ocupar espaços e consolidar uma mensagem. Não se deve fugir de nenhuma delas.

É preciso ouvir mais as bases partidárias, com prévias em locais onde não houver consenso bem definido pela candidatura A ou B.

Tatto foi escolhido de acordo com a regra do jogo definida pelo PT, mas não foi por prévia, como em 1988, quando Luiza Erundina ganhou eleição.

No caso de São Paulo, é evidente que o eleitor de classe média simpatizante do PT, em geral, fez a opção por Boulos e Erundina neste pleito.

Se houvesse prévia, o comportamento poderia ser outro. Outro aspecto a ser destacado é que Lula reforçou mais uma vez o respeito às escolhas partidárias.

Lula disse que Tatto era soberano para decidir retirar ou não a candidatura. Jogo jogado. Que cada um vote hoje de acordo com o que considere melhor para São Paulo.

De qualquer forma, fechada a urna, é preciso costurar rapidamente uma aliança para derrotar a direita em todas as cidades, não só o bolsonarismo, mas a direita como um todo, que é irmã envergonhada dos bolsonaristas.

As alianças têm que ser fechadas rapidamente, já que o tempo entre o primeiro e o segundo turno será menor do que em outras eleições — duas semanas apenas.

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