sábado, 7 de novembro de 2020

Sem qualquer capacidade de diálogo internacional o Brasil ruma para a ruína, por Ion de Andrade

As políticas econômicas e externa levadas adiante pelo governo só podem ser entendidas pela lógica da subordinação do interesse nacional ao interesse americano.

          Por Ion de Andrade
Foto PR

Sem qualquer capacidade de diálogo internacional o Brasil ruma para a ruína

Não escapará da derrocada nem a indústria, nem o agronegócio

por Ion de Andrade

As forças do mercado são cegas, essa máxima pode parecer uma frase de efeito, mas não é. Ilustra isso a questão da renda de emergência, (e da renda mínima que deveria substituí-la) cujos efeitos, para além de evitar a miséria de milhões de brasileiros, têm sido extremamente benéficos em primeiro lugar para o “mercado”, por um aumento no volume de vendas que produz aquecimento dos negócios. A rede de supermercados já identificou a queda nas vendas em decorrência do seu progressivo encerramento…

Note-se que para o mercado, essa renda que termina por encher o bolso dos oligopólios que mandam na economia, não sai do bolso das empresas. Isso significa que a política de arrocho dos salários e da renda promovida por Guedes et caterva, que dá aos empresários essa “saciedade” imediatista de gastar menos com a folha salarial, tem na renda emergencial ou na mínima uma compensação pelo Estado que, através dos impostos faz rodar essa espécie de fordismo canalha no qual o empresário arrocha o trabalhador diretamente mas recebe de graça um mercado promovido pelo Poder Público. Em lugar de apoiar essa ideia unanimemente e com unhas e dentes, sequer entendem. Forças cegas, são incapazes de compreender que o problema orçamentário é que tem que se resolvido e a renda mínima assegurada e que isso coincide com a necessidade de sobrevivência de milhões.

Portanto embora possa parecer simples para quem costuma olhar para a economia e para a sociedade de forma sistêmica, o que vamos enunciar aqui pode ser complexo demais para o dito mercado, cuja cegueira imediatista só não é maior do que a ganância.

Ora, as políticas econômicas e externa levadas adiante pelo governo só podem ser entendidas pela lógica da subordinação do interesse nacional ao interesse americano. Vejamos, por que é que o meio ambiente está sendo ostensivamente agredido? Servem a quê os recordes de destruição da Amazônia, do Pantanal, a liberação da pesca no Parque de Fernando de Noronha, ou a tentativa de acabar com as restingas e mangues? Há quem ache que é do liberalismo e que isso serve para incrementar a economia, como se a portentosa produção agropecuária brasileira estivesse realmente precisando disso, mas não está. O próprio agronegócio, já anunciou que não precisava da Amazônia. Então a que serve?

Serve a criar na Europa nojo suficiente do Brasil para inviabilizar o acordo da União Europeia como Mercosul, aliás conseguiram. Mas em que é que isso beneficia os Estados Unidos? Aqui os agentes do mercado, se lerem, terão que fazer um esforço de compreensão adicional: Exceto o Mercosul, o grande produtor agrícola capaz de alimentar a Europa são… suspense… os Estados Unidos, bingo! Sem o acordo com o Mercosul a Europa cai nos braços sim do agronegócio… americano.

E por que é que temos que entender que as ridículas provocações com a China são de encomenda dos Estados Unidos? Porque a Soja do Brasil concorre com a dos… suspense… Estados Unidos! As políticas de estado não são casuais, são propositais. Os efeitos não são imediatos, mas eles vêm e isso é claro como água, no médio e longo prazos. A China, aliás, que também já entendeu o jogo, está se esorçando para ampliar o seu mercado de Soja. Um dos países beneficiários é a … Argentina.

E por que as nossas brigas com a Argentina devem também ser entendidas como de encomenda? Porque isso torpedeia o nosso maior mercado para a indústria… e quem se beneficia com a nossa derrocada industrial…. suspense… os Estados Unidos e colateralmente a China e a Europa.

E súbito o jogo muda, e o Presidente da República do Brasil deixa de poder representar o país também… suspense… nos Estados Unidos. Portanto, a única porta até aqui aberta de diálogo dessa que já foi a sexta economia do mundo está se fechando porque sim deu Biden.

Olhemos à volta nas nossas relações internacionais:

O presidente e o Brasil não têm interlocução com a China, que por encomenda dos Estados Unidos vem sendo continuamente desrespeitada;

Não tem interlocução com a Alemanha, importante parceiro comercial do Brasil e país com laços profundos com o nosso;

Não tem interlocução com a França desde que o governo na pessoa do seu mandatário mais alto (e de ministros) desrespeitou nada menos do que a pessoa da primeira dama daquele país;

Não tem interlocução com a Argentina, parceiro comercial estratégico para o Brasil, de quem a China está ampliando a compra de Soja e se tornou deles o primeiro parceiro comercial, roubando de nós essa importante condição para a consolidação de União Sul-americana também desmontada pelo atual governo.

E agora também perdeu a condição de ter interlocução com o governo americano!

Os agentes do mercado deveriam entender que em língua de gente isso representa um xeque mate. Se pudéssemos construir uma linha do tempo antevendo de que será feito o comércio exterior do Brasil e sua economia nos dois anos que faltam ao governo Bolsonaro teríamos que incluir:

– A ruína do acordo do Mercosul com a Europa e a incapacidade (e desinteresse) brasileiro de remediar (e até de reconhecer) esse desastre;

– A queda das importações do Brasil à China, não somente de Soja, mas certamente de metais, substituídas pela de países conduzidos com inteligência e pragmatismo (e não com subserviência e arrogância);

– A preferência da Argentina pela China e o ganho de poder de barganha do nosso parceiro comercial para conosco, a quem a China que não é besta nem nada, oferecerá, com o intuito de se tornar independente de nós, inúmeras recompensas comerciais (e pode fazê-lo) e

– Uma previsível rejeição por parte do governo americano que acentuará o isolamento do Brasil e talvez promova retaliações comerciais que funcionarão como um desfecho final ao suicídio comercial e político perpetrado por políticas que em lugar de beneficiar o país visaram beneficiar aos… suspense… Estados Unidos. Sim, pois melhor do que reduzir o tamanho e a capacidade de diálogo do Brasil no cenário internacionais, em bases consensuais e bilaterais como agora, será rifar o Brasil promovendo retaliações pesadas em áreas estratégicas que poderão anular décadas de trabalho e perdas multibilionárias.

Porém, o grande responsável por isso tudo é… suspense… o M E R C A D O “brasileiro”! Cujo olho gordo foi maior do que a barriga!

Portanto, se os senhores, barões do Brasil, se agregarem um mínimo de bom senso, verão que esse governo, no curto horizonte de dois anos, onde ainda estaremos enfrentando a pandemia de Covid-19, por sua total subserviência aos interesses americanos e incapacidade de diálogo com tradicionais parceiros do Brasil representa a ruína do nosso país. E não teremos no governo advogados à altura para enfrentar os desafios que se anunciam.

Eis o presente que a nação recebeu dos senhores.

Finalizo esse artigo trazendo também o fato de que além de ter trazido prejuízos imensos à cadeia nacional do petróleo, à engenharia civil nacional, à indústria naval e à de máquinas, a política belicosa desse governo de ameaçar a integridade de países vizinhos, o que nunca foi a tradição do Brasil republicano, trouxe para a geopolítica do que sempre tivemos como um espaço comum com países irmãos, a América do Sul, a presença de um player mundial: a Rússia.

É um desastre completo e a vitória de Biden poderá ser para esse governo, o ferrolho que faltava.

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