Sergio Moro e Jair Bolsonaro, agora de costas um para o outro, foram parceiros na obra de destruição de um paísImagem: Marcos Oliveira/Agência Senado; Fernando Frazão/Agência Brasil
Ricardo Kotscho
Apenas quatro anos atrás, os dois eram figuras menores no cenário político nacional.
Em 2016, um era juiz de primeira instância no Paraná e dava início à Operação Lava Jato, mas ninguém lhe dava muita atenção.
O outro era deputado folclórico do baixíssimo clero, um ex-tenente insubordinado, reformado como capitão, que resolveu se candidatar a presidente da República, mas ninguém o levava a sério.
Dois anos depois, o deputado virou presidente e o juiz se tornou seu ministro da Justiça.
Não foi nada combinado, ao que parece, mas aconteceu.
Para que isso se tornasse possível, derrubou-se um governo, "com o Supremo, com tudo", quebrou-se o sistema político-partidário e grandes empresas, prendeu-se o candidato favorito nas eleições de 2018 e se instalou uma nova ordem em nome do combate à corrupção, com o apoio dos generais, do mercado e de grande parte da mídia.
E assim chegamos ao final de 2020, sem vacinas e sem governo, com a economia e as instituições em frangalhos, o Judiciário e o Congresso desmoralizados, a pandemia fora de controle, contaminando e matando milhares de brasileiros todos os dias, a tropa de choque do Centrão de volta ao poder e o meio ambiente em combustão.
Em conflito com a China, a União Europeia e o novo governo americano, viramos párias na política internacional e motivo de deboche na mídia do mundo inteiro.
Agora, cada qual segue em caminhos separados: um já está em campanha pela reeleição, para completar o serviço de não deixar pedra sobre pedra, enquanto o outro acaba de assinar contrato milionário com uma consultoria americana para salvar as empresas brasileiras que ajudou a destruir.
Nem o mais alucinado roteirista de Hollywood seria capaz de criar um enredo como esse, em que 212 milhões de habitantes assistem impavidamente à destruição do seu país, correndo risco de vida, diante da inépcia do governo, que anuncia o início da imunização só para março e adia a compra de vacinas e seringas. Negacionismo e fundamentalismo matam.
Até lá, mantida a média atual de 775 óbitos por dia registrados em 24 horas, morrerão mais 44.545 brasileiros, como alerta hoje meu velho amigo Ascânio Seleme, em sua coluna no Globo.
"Difícil dizer quantas exatamente, mas muitas das dezenas de milhares de mortes que vão ocorrer nos primeiros meses do ano que vem devem ser atribuídas às estúpidas diretrizes políticas de Bolsonaro, obedecidas cegamente pelo imprevidente ministro Eduardo Pazuello", escreve o colunista.
Em hospitais de São Paulo e do Rio, e em várias outras regiões do país, crescem as filas para quem aguarda uma vaga em UTI, e o sistema público de saúde já ameaça entrar em colapso.
Em Washington, onde vai morar, o ex-juiz Sergio Moro talvez tenha mais sorte de ser vacinado, deixando para trás um cenário de terra arrasada.
Entramos no modo salve-se quem puder.
Vida que segue.
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