quarta-feira, 9 de dezembro de 2020

Pátria atiradora

Fernando Brito

Pronto, o governo já definiu um dos pontos essenciais de sua política econômica e, como há dinheiro sobrando, liberou de impostos a importação de revólveres e pistolas.

Com isso, o povo está livre para importar uma Glock ou uma Sig Sauer ou, quem sabem um modelo mais modesto, que se pode comprar por pouco mais de 300 dólares, nos EUA, o modelo de “Pátria Atiradora” tão caro a Jair Bolsonaro.

É claro que nós, da oposição, como chatos que somos, vamos torcer o nariz: como é que um país que está em crise fiscal, que quer cortar isenções fiscais até da cesta básica pode liberar de impostos a importação de máquinas de matar?

É que nós somos anacrônicos, ainda achamos que comer, vestir, educar os filhos e netos e outras bobagens são fatores de progresso e desenvolvimento, esquecendo que a morte é a principal ferramenta de ajuste fiscal, não é?

Vejam como este caso da pandemia é prova disso: até o final do ano, teremos perto de 200 mil mortes. Considerando que 80% delas é de gente idosa, provavelmente aposentada, basta calcular a economia que se faz com as suas “fraquejadas” fatais: 180 mil, multiplicados por um salário mínimo – mil reais – dá R$ 180 milhões por mês e, com o 13°, R$ 2,34 bilhões por ano… Bilhões!

Com um pouquinho mais de baleados, um tanto mais de aidéticos que ficaram sem exame de HIV, umas vítimas de estradas sem pardais e alguns outros mortos de fome, de frio, e mais outras coisas que se providencie, veja só que economia fantástica se poderia produzir.

Além, é claro, de aliviar os serviços públicos e liberar mais habitação para os que, por enquanto, continuam vivos: a cova é habitação definitiva, com apenas 2 metros quadrados, espaçosa e mais confortável do que a que estavam no mundo.

E ainda tem a segurança pública: para que pagar policiais, viaturas, coletes a prova de bala, se dois ou três tiozinhos, de revólver na mão, teriam dado jeito naquela exército de Criciúma, de fuzis e bazucas?

Basta não ser maricas porque, afinal, todo mundo vai morrer um dia, talquei?

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