sexta-feira, 21 de maio de 2021

Venda da Eletrobras ou apagão, o que virá primeiro?



O projeto de “pré-privatização” da Eletrobras, aprovado ontem na Câmara dos Deputados, felizmente, tende a ficar parado – ou em marcha lenta – no Senado, onde o rolo compressor bolsonarista não é tão forte quanto a máquina de maldades pilotada por Arthur Lyra.

Mas não é só por isso: para retardar o impacto da privatização nas tarifas de energia, o projeto coloca todo o peso da carga sobre o setor industrial – o que também acaba transferindo preços ao consumidor – e aposta no mesmo mecanismo furado a que Fernando Henrique apelou para “resolver” os problemas do apagão de 2001: a construção, a toque de caixa de usinas termelétricas a gás, que acabaram tendo de ser assumidas pela Petrobras e que vão na contramão da redução de emissão de gases com que o país se comprometeu.

E não é tudo: como o projeto define as áreas de implantação das térmicas – Norte, Nordeste e Centro -Oeste – em áreas com menor malha de gasodutos e adensamento de linhas de transmissão, tudo isso é custo de investimento e investimento é coisa que mingou no país em níveis apavorantes. A Folha, hoje, mostra dados que revelam que estes baixaram ao nível dos anos 60/70 , ainda que os juros negativos, em tese, devessem estar empurrando o capital para inversões produtivas.

Para por aí? Não, mesmo. Entramos na estação da seca com níveis muito baixos nos reservatórios e a sombria perspectiva de chegarmos ao final do ano com apenas 10 a 20% de reservas para a produção de energia, mesmo com uma demanda que se estagnou por conta da “marcha-lenta” da economia.

Professor da UFRJ, Adílson de Oliveira, especialista em energia, diz que estamos “em contagem regressiva para um apagão:

— Daqui a cinco ou seis meses, não teremos capacidade para abastecer o mercado. Só não estamos em racionamento agora por causa da pandemia de coronavírus, que deu uma estagnada na economia

As térmicas estã0 produzindo 26% da carga elétrica demandada pelo país, o dobro do que faziam no ano passado. São a fonte de energia que mais cresce, com 45,3% da potência instalada que entrou em operação no ano passado.

Nossa ainda maior fonte de eletricidade, a hidráulica, no ano passado, respondeu por apenas 1,23% da energia agregada ao pais.

A matriz elétrica brasileira, que já foi mais de 70% hidráulica, está em 58% e caminha para perder essa hegemonia nesta década, e é ela, disparado, a de geração mais barata e, por isso, a de menor custo.

Um novo governo, que esteja disposto a reverter o processo de desindustrialização brasileiro, terá de reverter este “meter o dedo” bolsonarista no setor de energia.

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