
(Foto: REUTERS/Sergio Moraes)
Por Moisés Mendes
Tem muita gente boa achando que faz sentido a proposta de Paulo Guedes de permitir e estimular a distribuição de sobras de alimentos a pobres e miseráveis.
Guedes quer transformar restos em política de governo. Podem dizer, e alguns dizem, que boa parte do que é desperdiçado poderia alimentar muita gente. Claro que pode.
Todo lugar que produz ou distribui alimentos, em especial os entrepostos de hortigranjeiros, poderiam contribuir para aplacar a fome de famílias que não conseguem comprar o que comer.
Mas não dá pra imaginar que a distribuição de sobras de restaurantes da classe média e dos ricos possa ser transformada em política alimentar. Não pode.
Nenhum governo no Brasil das desigualdades tem o direito de reafirmar as realidades dos desiguais com a distribuição do que os outros não comem porque estão empanturrados.
O que um governo precisa fazer é criar políticas de suporte social, econômico e financeiro para que as pessoas tenham acesso ao que comem. Mas não com sobras.
Dar às sobras o status de política alimentar não é apenas uma crueldade, é uma ideia nazista que trata pobres e miseráveis como inferiores. Os pobres não podem ser submetidos ao constrangimento de aceitar restos de comida com o carimbo do governo.
O interessante é que o próprio Paulo Guedes é uma sobra. De toda a geração de economistas neoliberais dos anos 90, ele talvez seja um dos mais medíocres,
Ninguém conhece um texto com alguma reflexão relevante assinado por Paulo Guedes. Ele foi o que sobrou para Bolsonaro.
Paulo Guedes é um resto do pensamento que caducou no mundo todo e ainda prospera no Brasil porque teve um Bolsonaro para acolhê-lo.
Bolsonaro também é um resto que alimenta a direita desde o fim do banquete oferecido pelos tucanos.
A direita brasileira, que vive de sobras há muito tempo, tem que comer o que lhe oferecem em tempos de escassez.
E o que há no momento é a comida oferecida pela extrema direita. Bolsonaro é quem dá de comer à direita brasileira.
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