
Jair Bolsonaro, Luís Roberto Barroso e Donald Trump (Montagem)
"O endosso a essa tese conspiratória alucinada e completamente absurda é semelhante aos sinais em código que Trump emitia durante seus discursos, celebrados pelos defensores das teses de QAnon como uma espécie de culto", diz Pablo Ortellado
Professor do curso de Gestão de Políticas Públicas da EACH-USP, Pablo Ortellado lançou um alerta em sua coluna no jornal O Globo deste sábado (17) sobre a teoria da conspiração criada pela milícia digital bolsonarista de que o ex-ministro do governo Lula, José Dirceu, teria um vídeo de sexo do ministro Luis Roberto Barroso, presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), e estaria fazendo chantagem para fraudar as eleições em 2022.
Segundo Ortellado, ao embasar a tese – comparada ao QAnon de Donald Trump nas eleições nos EUA – com publicação nas redes sociais, Jair Bolsonaro estaria dando um sinal aos apoiadores para propagarem a “tese conspiratória alucinada”.
“O endosso a essa tese conspiratória alucinada e completamente absurda é semelhante aos sinais em código que Trump emitia durante seus discursos, celebrados pelos defensores das teses de QAnon como uma espécie de culto. O método é chamado de “apito de cachorro”, uma sinalização que só os iniciados compreendem”, afirma.
O QAnon foi responsável pela criação e propagação da fake news de que Trump teria descoberto uma ampla rede de tráfico de crianças para cometer canibalismo e pedofilia que envolvia o partido Democrata, adversário nas eleições de 2020.
“A tese estapafúrdia foi exposta num fórum de internet anônimo por alguém que dizia ser um funcionário público de alto nível e que adotava o pseudônimo QAnon”, lembra Ortellado.
Segundo o filósofo, o envolvimento de Bolsonaro diretamente na propagação da fake news sobre Barroso e Dirceu – e que envolveria até o médium João de Deus – é motivo para lançar um alerta para 2022.
“É difícil determinar o momento em que uma teoria da conspiração está tão disseminada que é preciso começar a combatê-la, sem o risco de, ao fazê-lo, involuntariamente ajudar a difundi-la. Acredito que o endosso do presidente e o empenho da máquina de propaganda bolsonarista me autorizam a emitir o alerta”, afirma.
Entenda
No dia 4 de julho, Bolsonaro fez um tuite embasando uma teoria da conspiração criada pelo gabinete do ódio e que circula em grupos bolsonaristas que envolve suposta “bissexualidade” do ministro do STF ao médium João de Deus, preso por estupro, e o ex-ministro da Casa Civil do governo Lula.
A tese nasceu de um texto atribuído a “João Macedo Costa – Jornalista Político”, que não tem referência nenhuma nas rede sociais. Na narrativa, com erros crassos de português, Barroso teria um “apartamento de luxo” em Miami, custeado pelo médium João de Deus, onde viveria “sua vida miserável de bissexual”. Segundo a narrativa, Dirceu – que é identificado como Daniel – teria um vídeo de pedofilia de Barroso e estaria chantageando o ministro para fraudar as eleições em 2022, dando vitória a Lula.
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Jornalista, editor de Política da Fórum, especialista em comunicação e relações humanas.
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