Jornalista e historiador Tariq Ali (Foto: Octavio Nava/ Flickr)
Jornalista e historiador afirmou que, apesar do crescimento da extrema-direita, a esquerda ainda não foi derrotada e analisou a tensão entre EUA e China. Assista
Por Camila Alvarenga, do Opera Mundi - No programa 20 MINUTOS INTERNACIONAL desta quinta-feira (21/10), o fundador de Opera Mundi, Breno Altman, entrevistou o escritor, jornalista e historiador Tariq Ali, que falou sobre uma tendência de desmoralização da esquerda provocada pelo fim da União Soviética e uma guinada capitalista da China na época, cujos efeitos se sentem até hoje.
“Depois do colapso da URSS ficou a impressão de que não havia mais nada, nenhuma outra alternativa. O socialismo foi desmoralizado, então teríamos que nos acomodar dentro do capitalismo”, explicou.
Entretanto, as eleições, primeiro de Hugo Chávez na Venezuela, e depois de outros governos progressistas na América Latina mostraram que a esquerda "não foi destruída". "Não vivemos num mundo em que a esquerda é triunfante, mas ela está presente”, declarou o historiador.
Agora, com a pandemia, Ali destacou que a esquerda voltou a ganhar força, pois os dogmas do neoliberalismo tiveram de ser abandonados, já que “foi visto que a forma que o capitalismo usava para destruir as pessoas já não funciona”.
Apesar disso, o historiador não acredita que apenas essa situação será suficiente para reposicionar o socialismo como uma alternativa, principalmente se baseado em outros exemplos históricos, como a crise de 2008.
“No fim das contas, o capitalismo terá de ser derrotado por algum tipo de revolução. Se não, seguirá assim, se reformando. O capitalismo não é um sistema que se implode sozinho”, argumentou.
Extrema-direita sem extrema-esquerda
Mesmo com as consecutivas crises do capitalismo, não se vê o surgimento de partidos de extrema-esquerda, como tem ocorrido com o lado conservador — que ele não classificou como fascista, mas como “grupos de extrema-direita experimentais”.
Segundo o historiador, muitos partidos comunistas se fundiram com outros partidos progressistas ou de centro, falhando, assim, em realizar mudanças estruturais quando chegavam ao governo. Como exemplo, Ali citou o Bolsa Família.
“O resultado disso foi pessoas que votavam na esquerda, votando no centro ou na extrema-direita. Por quê? Eles sentem que sua persistência os decepcionou. A Marine Le Pen [na França] não fala só sobre imigração, ela fala sobre emprego. Então as pessoas não sabem o que fazer, tentam um partido e veem como eles atuam, depois votam em outro e veem a diferença. São muito voláteis”, ponderou.
China e EUA
Para falar sobre a relação entre a China e os EUA, Ali começou analisando a China, que descreveu como um país com “um capitalismo de Estado sob controle do Partido Comunista, não é um capitalismo normal”.
Ele reconheceu a estratégia da China de primeiro crescer e se tornar autossuficiente para depois implementar o socialismo de fato, mas alertou para a divisão de classes que se cria a partir dessa estratégia.
“O padrão que criaram foi de que não existe nenhum problema em ganhar dinheiro. É uma certa despolitização do país. E os políticos estão cientes disso, só não podem deixar que saia do controle. E com Xi Jinping não sei se melhora, não acho que reviver o nacionalismo seja uma boa ideia. Existem outras maneiras de se fortalecer”, refletiu.
Abordando a relação do país asiático com os EUA, o historiador disse duvidar sobre o surgimento de uma nova Guerra Fria, já que não são dois sistemas em disputa: “O que incomoda os EUA é a combinação de independência econômica e soberania política da China. O que está se formando é um severo conflito na esfera econômica”.
Esse conflito, na opinião dele, se dará pela “chantagem” ou outras formas de softpower, “mas os chineses têm capacidade para responder aos ataques”.
Ali ressaltou que Joe Biden não vai mudar a política imperialista dos EUA e isso já está mais do que claro, por exemplo com acordos como o Aukus, uma aliança militar entre Austrália, Reino Unido e EUA no Pacífico, criado para pressionar a China.
“Para mim essa é uma chantagem de alto nível para forçar a China a aumentar seu orçamento em defesa. Vimos essa armadilha sendo colocada para a União Soviética, foi o que levou à sua crise econômica e queda. A China vai ter que aumentar mesmo seus gastos, mas eles não devem cair na armadilha que está sendo colocada para eles”, afirmou.
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