Moro e Deltan, tornem-se no que são!
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Que maravilha, caíram as máscaras! Enfim, Deltan Dallagnol e Sérgio Moro, os chefetes da “Operação Lava Jato”, despiram-se de suas fantasias.
Não se engane, nobre e especulativo leitor: a Lava Jato não pretendeu combater a corrupção. Deltan e seu séquito atuaram ideologicamente a fim de retirar da corrida eleitoral você-sabe-quem. Após isso, nada mais fizeram. Sumiram do mapa.
Os áulicos da República de Curitiba, coalhada de bolsonaristas e antipetistas, abandonaram seus postos e picaram a mula. Alguns, inclusive, para escritórios de ponta na advocacia criminal. O outrora guardião-mor da moral nacional, Deltan Dallagnol, escafedeu-se assim que a força-tarefa caiu em desgraça, aparecendo de quando em vez nalgum tuíte enfadonho e vazio, como do estilo. A coisa, é óbvio, perdera o encanto. A missão estava cumprida.
Enquanto juízes, promotores e procuradores faziam seu trabalho de forma digna, sóbria e silenciosa por este país-continente, em rincões esquecidos, um grupelho virava manchete dia após dia, concedia entrevistas, ia a convescotes, deixava-se fotografar em poses cafonas de falsos heróis, dava palestras e sermões, pagava outdoor de autoelogio.
A essa gente, e a todos do Ministério Público brasileiro, a sempre atual lição de Cordeiro Guerra:
“Não lhe compete, contudo, mudar a ordem jurídica, substituir-se a ela, pois a lei tem uma longa história e traduz a experiência multissecular de homens afeitos ao trato da coisa pública. Entretanto, há quem pretenda, de boa ou má-fé, exigir do Ministério Público ou do Poder Judiciário a reforma das leis que têm simplesmente que aplicar com inteligência, probidade e firmeza […] A função do Ministério Público é promover o bem comum através da ordem jurídica estabelecida na Constituição e nas leis do país […] No exercício de suas atribuições o Ministério Público só deve conhecer, dentro da lei, o limite do possível e jamais ficar aquém do necessário […] para acusar, é preciso ter caráter, firmeza e veracidade, probidade, uma integridade acima do comum, e, ainda, cultura, servida pela experiência de um espírito arguto e atento às realidades do seu tempo e do seu meio” (A arte de acusar, Forense Universitária, 1989, p. 41).
Para trás, Deltan e Moro deixaram um país arrasado e um histórico continuado de estupro das regras e princípios processuais, além de um Ministério Público em frangalhos e nas cordas.
Quo vadis, domine? Bem, agora a dupla dinâmica resolveu se aventurar em outros campos, quiçá a carreira política. Moro se filiará ao Podemos nos próximos dias; suspeita-se que Deltan, já fora do MPF, também concorrerá a algum cargo eletivo. Quem sabe possam fazer uma dobradinha e postular a própria Presidência da República! Ótimo, seja como for, estarão no campo em que há muito já deveriam estar.
Ambos, óbvio, não o fazem pela “vontade de mudar o país e combater a corrupção”; tudo vem muito bem calculado. Ninguém deixa uma profissão, com ótimo salário, assim, da noite para o dia. Moro ganha um bom dinheiro hoje na advocacia (que ironia, não?!); Deltan não jogaria toda uma carreira para o ar se não tivesse seus planos já bem definidos.
Quem sabe uma boa ponta em algum escritório de advocacia? Não custa também lembrar que a exoneração manda ao arquivo os inúmeros procedimentos administrativos que tinha contra si no Conselho Nacional do Ministério Público e que lhe poderiam render – justa ou injustamente – gravíssimas punições, até mesmo a demissão do cargo.
Para Moro e Deltan, a Lava Jato – como já se disse tantas vezes – era apenas um projeto de poder, e um projeto de poder que passava por criminalizar a política e sobretudo a esquerda. “Ah, mas ela prendeu e investigou gente do centro e da direita”. Quem? Eduardo Cunha, Gedel Vieira, Temer, Aécio? Bateram em defuntos, nada mais. Tudo para manter uma pretensa aparência de imparcialidade. Há quem acredite na legitimidade dessa “operação”. Há quem acredite em cloroquina, terra plana, duendes e milagres.
Deltan, em suas redes sociais, disse, com seu messianismo pueril e monótono de sempre: “Tenho várias ideias sobre como posso contribuir e serei capaz de avaliar, refletir e orar sobre essas ideias […]” Essa gente, definitivamente, perdeu todo e qualquer pudor.
Como bem dito pelo Grupo Prerrogativas em nota divulgada hoje:
“Esses dois cínicos personagens, que se notabilizaram por um conúbio promíscuo, mediante o qual fraudaram escancaradamente garantias processuais básicas, durante a chamada Operação Lava Jato, agora exibem à luz do sol seus verdadeiros propósitos. Os pretextos de “combate à corrupção”, “Brasil justo para todos”, “lei que deve valer para todos” e até “amor ao próximo”, utilizados por esses farsantes, na verdade sempre constituíram veículos de busca de interesses pessoais, à custa da destruição de empresas nacionais e da condenação de inocentes, numa tenebrosa deformação das funções da magistratura e do Ministério Público”.
Tempos esquisitos, estes, donde só nestas terras pessoas públicas tão medíocres poderiam alcançar o estrelato, tomando de assalto todas as esferas desta adoecida República. Gente inculta, provinciana e dissimulada, aspirando tão somente à fama efêmera e barata. Pobres e podres de espírito.
Ambos, Deltan e Moro, deram azo a um falso combate à corrupção, que, como bem mencionado por Jessé de Souza, “surge no Brasil como testa de ferro universal de todos os interesses inconfessáveis que não podem se assumir enquanto tais”. O lavajatismo uniu o que existe de pior: o fanatismo religioso e o moralismo messiânico.
Ao tomarem caminhos outros, prestam um bom serviço à moralidade pública, pois desnudam de vez e sem vergonha os interesses outrora inconfessáveis, embrulhados na capa do cinismo, do oportunismo e do engodo.
A inesgotável alienação do nosso povo sofrido aceitou de bom grado a cruzada moralista da dupla, a da “guerra à corrupção”, a mesma cantilena que já levou o país ao caos no passado e a 21 anos de sombras de uma ditadura civil-militar, e que em 2018 nos legou o bolsonarismo.
Fossem os dois bons leitores – o que não são – teriam em conta os inconvenientes da grandeza e os conselhos de Michel de Montaigne:
“Esforço-me por ser paciente e moderar meus desejos. Em verdade, posso ambicionar e desejar […] entretanto, nunca ocorreu desejar posições eminentes e de comando; não é o que viso: amo demais a mim mesmo. Quando sonho com ampliar minha importância, meus objetivos não se elevam muito alto […] a simples ideia do poder abafa-me a imaginação”.
A Deltan Dallagnol, “terrivelmente” religioso e frequentador da Igreja Batista, cabe o bom sermão que Deus dá ao Diabo, pela pena genial de Machado de Assis, no conto “A igreja do Diabo”:
“Tu és vulgar, que é o pior que pode acontecer a um espírito da tua espécie. Tudo o que dizes ou digas está dito e redito pelos moralistas do mundo. É assunto gasto; e se não tens força, nem originalidade para renovar um assunto gasto, melhor é que te cales e te retires”.
De minha parte, Deltan, alívio imenso por não tê-lo mais como colega. Creio que os inúmeros soldados anônimos deste incansável Ministério Público, respeitadores das leis e da Constituição e que não fazem desta maravilhosa instituição um mero trampolim para inconfessáveis ambições, carregam neste instante semelhante sentimento.
Vade retro!
Paulo Brondi – Promotor de Justiça. Ministério Público do Estado de Goiás
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