segunda-feira, 15 de novembro de 2021

Onde deveria estar a diferença entre o jornalismo de esquerda e de direita?, por Rogério Maestri


Onde deveria estar a diferença entre o jornalismo de esquerda e de direita?

por Rogério Maestri
https://jornalggn.com.br/

O mundo está muito confuso, a extrema-direita fazendo propaganda da liberdade de opinião e de divulgação de ideias e parte da esquerda querendo que essa liberdade seja suprimida pelo judiciário em nome de uma palavra que nem consegue ser definida corretamente, as “fake News”. Porém essa confusão começa a se expandir para terrenos muito mais pantanosos e verdadeiramente cruéis.

No dia de ontem sem querer assistir, presenciei uma das emissões “jornalísticas” mais cruéis tipo “mondo cane” feita por um canal que muitos consideram ser um canal no mínimo “progressista” e no máximo de esquerda. Na tradição da esquerda há um determinado pudor em apresentar coisas que apesar de darem audiência e muitos “likes” e “mensagens pagas” poupam os que assistem esses programas de apresentar tragédias pessoais mesmo de pessoas de direita e muito menos de esquerda, ou seja, a ética jornalística não permite que a exploração da tristeza e do luto das pessoas sejam utilizados como mecanismos de ganho de dinheiro. Pois bem, com a confusão reinante em que vemos cada dia um presidente da república falar sobre assuntos pessoais dele mesmo, cultuar falas que incitam a violência e perder completamente a capacidade de discernimento até que ponto a liturgia do cargo permitiria, vi algo muito parecido com programas popularescos que foram iniciados na TV pelo “Homem do sapato branco” o jornalista Jacinto Figueira Jr., que começou sua trajetória de programas sensacionalistas desde a década de 60 onde ele inaugurou esse gênero. Ele começa na TV Cultura com em 1963 com os programas “Fato em Foco” e “Câmera Indiscreta”, onde vai aprofundando o gênero “mundo cão” para desenvolvê-lo mais profundamente o personagem em 1966 em “O Homem do Sapato Branco” na TV Globo para essa penetrar no público de baixa renda.


Seguindo a trilha de Jacinto vem figuras de Márcia Goldschmidt, Ratinho, José Luiz Datena e mais dezenas de outros. O segredo dos programas é explorar a desgraça da população pobre e ignorante expondo suas desgraças e tristezas aumentando a empatia dos espectadores. Desde Jacinto alguns desses apresentadores aproveitam essa imprensa, que está abaixo da chamada “imprensa marrom”, pois as emoções da imprensa escrita que as emoções eram preenchidas pela imaginação dos leitores e por algumas fotos muitas vezes mal tiradas, levava o leitor aos seus piores instintos e finalmente aproveitar politicamente promovendo na imensa maioria dos casos sentimentos punitivistas grosseiros de extrema direita.

Porém a grande novidade é que a “imprensa marrom” chegou a imprensa “progressista”, como essa é mais intelectualizada e não se propõe, até o momento, usar o povo com fins políticos a pautas de esquerda, se agiu de forma, mais pérfida e sorrateira, ou seja, usando o luto e o sofrimento da perda de sua companheira de um militante de esquerda de décadas como uma forma de aumentar seus “likes” e comentários pagos de seus assistentes. Ou seja, um velho e forte militante de esquerda, calejado por perseguições políticas de mais de meio século, foi aberto as câmaras durante meia hora para que ele falasse o que quisesse. Como esse valoroso camarada acostumado a lutar contra a repressão física e mental, resistiu o máximo que ele pode mesmo estando totalmente debilitado não somente pela morte de sua companheira, mas como pelo convalescimento de uma séria infecção pelo Covid. Sobrepondo discursos sólidos que é esperado de um militante de esquerda de longa data, lágrimas escorriam de seus olhos, que com força e valentia ele procurava detê-las. Ou seja, viu-se assim como um explorador da ignorância do povo pobre brasileiro, que é também um forte, sujeitou-se esse homem de grande estatura meia hora de desnudamento e de oscilações entre a emoção e a razão. Nada diferente que se vê num pobre e bem mais inculto brasileiro, a única diferença era que enquanto os sucessores mais legítimos de Jacinto Figueira Jr. rastejam na política pela direita, os algozes do nosso personagem rastejam pelo “progressismo”.

Escrevi esse texto para ir contra esse tipo de jornalismo de exploração da miséria tanto na direita quanto na esquerda, pois os “personagens”, não estão representando, estão simplesmente expondo suas dores ao público em geral, para que espertalhões ganhem com isso.

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