Lula (Foto: Ricardo Stuckert)
"Seguindo um costume antigo: faz tempo que acompanho o modo como a nossa mídia se submete à pauta da direita", afirma o jornalista Flávio Aguiar
Por Flávio Aguiar
(Publicado no site A Terra é Redonda)
Devagar com o andor, que quem aqui escreve nem é santo, mas nem tem pés de barro. Se pensas, quem me lê, que vou desancar a possível pré-pré-candidatura de Alckmin a vice de Lula, te enganaste redondamente. Se pensas que vou defender a possível pré-pré-candidatura de Alckmin a vice de Lula, estás quadradamente enganado. Nem uma nem outra.
Vou defender o que Lula está fazendo agora, ao agitar a pré-pré-candidatura de Alckmin a vice de sua pré-candidatura. Agora: estamos no apagar das luzes de 2021, em meio a um afundamento da imagem política do Ku-Klux-Koyzo e a uma tentativa de levantamento da candidatura do Marrequinho da Lava-Jato ao posto de Marreco ou até Marrecão da “terceira via”.
Não há “terceira-via”. O Marreco não passa de uma segunda via do KKK. Mais grata, talvez, à frente financeira-banqueira-rentista-agrobusiness-burguesia – quimiodependente-dos-favores-do-Estado-ressentidos-da-classe-média-milicalha-saudosa-da-ditadura-com-ou-sem-pijama, mídia corporativa golpista, etc. Resta saber se vai ser vendável para o Povão, a começar pelos que confundem pagamento de dízimo para pastor com compra de benesses no futuro céu.
Mas esta segunda via ganhou as manchetes, as páginas, os podcasts, as colunas, os favores e o piscar de olhos das mídias corporativas e dos anexos no mundo virtual. E seguindo um costume antigo ganhou um espaço enorme nas telas da nossa mídia, aquela de esquerda, ou progressista, ou o que seja. Na nossa mídia ainda não caiu a ficha de que aceitar a pauta do inimigo, mesmo que para falar mal dela, favorece o inimigo e faz propaganda dele.
Seguindo um costume antigo: faz tempo que acompanho o modo como a nossa mídia se submete à pauta da direita. Uma pessoa idiota do bolsonarismo diz um impropério besta em qualquer lugar do globo: bumba! bomba! isto vira manchete e ganha espaço imensurável em vários dos nossos meios. O MST distribui milhares de cestas básicas a populações carentes no país inteiro: vira quase uma nota de pé de página.
E este é apenas um exemplo. Porque há milhares de exemplos, desta retórica da vitimização que se justifica pela “necessidade da denúncia”. Uma obsessão sado-masoquista, com perdão da expressão. Porque em geral a “denúncia” vem em espetáculo solo, sem comentário, sem contextualização, sem análise, apenas sublinhando o descalabro – mas também o empoderamento dos desequilibrados em nosso próprio meio e espírito.
Houve um período de exceção, com o sucesso da viagem de Lula à Europa social-democrata. Mas foi exceção. Agora, neste final de ano ocupado pelo pré-2022, não deu outra. Durante algum tempo, no nosso meio, só dava KKK, Marreco ou terceira ou quarta via, para discutir se isto ou aquilo era o possível ou o impossível da direita.
Um único fato político rivaliza esse preito no nosso espaço político e também no deles, o dos comentaristas da direita, apalermados e furiosos com este anúncio: o da possibilidade da formação de uma chapa Lula-Alckmin.
Se a chapa vai se criar ou não, é outra história. O fato é que o lançamento do tema na arena do Coliseu sangrento da nossa política e da deles comprovou, para mim, que o Lula é o político mais sagaz que temos desde Vargas e também de Brizola.
Terá meu voto, se chegar lá, com ou sem este, aquele ou aqueloutro vice. Digo “se chegar lá” porque tenho certeza de que em algum recanto sinistro se trama algo muito radical contra ele. Te cuida, Baiano.[1]
Nota
[1] Para quem não saiba: apelido do Lula quando era militante do Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo.
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