segunda-feira, 6 de dezembro de 2021

A desigualdade está destruindo o mundo

Fontes: sem permissão

Por Francisco Louça
https://rebelion.org/

Cerca de um ano antes de sua morte, o físico Stephen Hawking se perguntou em um jornal britânico qual é o efeito da desigualdade, em uma situação em que "a vida das pessoas mais ricas nas partes mais prósperas do mundo torna-se dolorosamente visível para todos, incluindo os pobres , que tem acesso a um telefone. E dado que já existem mais pessoas com telefone do que com acesso a água potável na África Subsaariana, isso significa que em pouco tempo quase ninguém em nosso planeta superpovoado escapará da percepção da desigualdade.” (The Guardian, 01/12/2016). Essa descoberta dramática tem inúmeras implicações. A principal delas é que a desigualdade, evidenciada pela fluidez da comunicação, acrescenta angústia à punição, principalmente onde as pessoas mais sofrem, como no continente onde há mais pessoas com celular do que com acesso à água. A desigualdade é uma agonia que está destruindo nosso mundo e sua visibilidade reforça a demanda por justiça.

Desigualdade

Thomas Piketty, o economista francês que deu continuidade a uma antiga tradição de estudos sobre a desigualdade de maneira brilhante, lançou um banco de dados sobre muitos países que nos fala sobre nosso tempo. Um dos dados mais impressionantes é a mudança gerada pelo que então se chamava francamente de globalização. O sucesso social desse neoliberalismo pode ser medido nos Estados Unidos: em 1980, a parcela da renda nacional detida pelo 1% mais rico era quase a metade daquela dos 50% mais pobres. Uma grande diferença, em média, já que um rico recebia em um dia o que a metade menos abastada da população ganhava em um mês. Quarenta anos depois, a proporção se inverteu, com o 1% do topo quase dobrando os 50% da base. Foi um furacão de mudança social.

Um estudo recente do Federal Reserve de Chicago realiza o seguinte exercício: Pergunta se os pais de uma criança ganham o dobro do que seu vizinho nos Estados Unidos, que diferença haverá entre a renda de adulto dessa criança e a do vizinho? A resposta é, em média, mais de 60%. Quem vai à frente fica na frente, esqueça a mobilidade social. No Brasil, a diferença é de 70%, na França 41%, na Alemanha 32%, mas na Dinamarca apenas 15%. Pior ainda na China: o coeficiente de Gini, dados oficiais, é de 0,47 (a média da OCDE, como a portuguesa, é de 0,35). A desigualdade tem genealogia, mas histórias diferentes.

O custo social da poluição

A Cúpula de Glasgow, em seu flagrante fracasso, teve a virtude de produzir informações atualizadas sobre os riscos de poluição. Aprendemos que, com a política atual, o aumento da temperatura do planeta chegará a 2,9º C e que, mesmo com as metas proclamadas mas não obrigatórias, aumentará 2,4º C, falhando o objetivo que não pode ser perdido. Aqui também há um histórico de desigualdade: o 1% mais rico gera 70 toneladas de emissões poluentes per capita, em média, enquanto os 50% mais pobres produzem uma tonelada per capita. A emissão produzida pelos mais ricos é trinta vezes o limite que restringiria o aumento médio da temperatura a 1,5 ° C. Mais uma vez, aqui está a equação de Hawking: a desigualdade é dolorosamente visível e está piorando.

Há uma consequência dessa fratura social e suas implicações, como essas formas de vida que promovem a poluição. É uma ingovernabilidade que surge de obstáculos sistêmicos a soluções razoáveis ​​e bloqueia a política de transição energética e ambiental, perdida no labirinto de interesses financeiros dominantes. Essa tendência só será exacerbada nas guerras por água e energia, ou nas formas de apartheid social, que defendem a desigualdade como uma condição inexpugnável e moribunda.

Francisco Louça. Economista e ativista do Bloco de Esquerda de Portugal, é membro do Conselho de Estado.


Tradução: Enrique García

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