Fontes: Página/12 (Argentina) [Imagem: Van em Umbaúba em que Genivaldo de Jesús Santos foi assassinado após ser imobilizado por tropas da PRF que o forçaram a inalar fumaça tóxica dentro do veículo. Créditos: Power 360 (Brasil)]
Dois fenômenos se agravaram dramaticamente no Brasil nos últimos três anos: a fome e a violência praticada pelas forças de segurança pública.
A soma da inflação, que se mantém acima de 12% ao ano, à perda de poder aquisitivo em geral, mas especialmente aguda nas camadas de menor poder aquisitivo, que gira em torno de 10%, fez com que 36% das famílias brasileiras – o que significa mais da metade da população total, de 212 milhões – entraram no que analistas e especialistas chamam de “insegurança alimentar”. Ou seja, desde alimentos insuficientes em bases mínimas até a fome direta.
Este quadro acentuou-se principalmente a partir de 2021. Se em 2014 o número de famílias em estado de “insegurança alimentar” nos seus diferentes níveis rondava os 17%, no final de 2021 tinha saltado para 36%. E com isso supera a média mundial, que é de 35%.
Entre os 20% que compõem a parcela mais pobre dos brasileiros, 75% dizem que em 2021 faltou dinheiro para comprar comida.
Os dados correspondem a levantamentos realizados antes da invasão da Ucrânia por tropas russas, que provocou um novo – e forte – aumento de preços, principalmente de combustíveis e alimentos.
Se ao longo de sete meses de 2021 o governo da extrema- direita Jair Bolsonaro concedeu “auxílio emergencial” a pouco mais de 39 milhões de famílias, agora chega a 17,5 milhões, ou seja, menos da metade.
Além da fome, outro fenômeno crescente no governo Bolsonaro atinge, de forma dramática, justamente a parte mais pobre dos brasileiros: a violência das forças de segurança nas favelas cuja população aumentou significativamente com a derrocada econômica.
Esta semana houve outro massacre em uma favela do subúrbio carioca, com a morte de 23 pessoas.
Desde agosto de 2020, ou seja, em menos de dois anos, pelo menos 330 civis foram mortos em 74 supostos confrontos entre supostos criminosos e forças de segurança pública somente no Rio.
A repetição de “suposições” se justifica: parte substancial dos mortos não tinha nenhum tipo de antecedentes criminais, e é difícil imaginar um “confronto” como o mais recente, na favela do Cruzeiro, em que morreram 23 habitantes e nenhum deles morreu, os mais de 150 policiais ficaram feridos.
Neste último caso, dos 23 mortos, 16 foram identificados. Destes, sete –quase metade– não tinham antecedentes criminais. Um deles era um rapaz de 16 anos, morto por uma facada, e não por um tiro.
Outra vítima foi uma cabeleireira de 42 anos, atingida dentro de sua casa por uma “bala perdida”, ninguém sabe se foi baleada por traficantes ou pela polícia. Outro tiro foi um ex-soldado da Marinha que trabalhava em um negócio na "favela". Não havia nenhuma arma ao lado de seu corpo.
Foi o segundo maior massacre no Rio. A anterior ocorreu em 2021, também em uma “favela”, e deixou 28 mortos. Entre as vítimas estavam traficantes de drogas, mas uma parte considerável eram moradores, todos trabalhadores e em sua maioria negros.
Outra ação policial brutal – registrada em vídeo que circula pelo país – ocorreu em Umbaúba, no estado de Sergipe.
O motorista de uma motocicleta, que sofria de esquizofrenia, foi atropelado por policiais militares. Assaltado, ele foi amarrado e jogado no porta-malas de um caminhão de patrulha. Sua esposa se aproximou e, gritando, disse aos homens uniformizados que seu marido estava doente.
Enquanto o prisioneiro se mexia no porta-malas, os agentes dispararam spray de pimenta dentro do veículo fechado para “acalmá-lo”. Resultado: o homem de 38 anos morreu asfixiado.
Diante do massacre do Rio, Bolsonaro - instigador da corrida armamentista que destruiu o já complicado sistema de segurança pública brasileiro - elogiou os "heróis" que garantiram a paz dos "homens de bem", criticou a mídia por não compartilhar seus aplausos e prometeu ficar atento.
Sobre o cidadão asfixiado no porta-malas de um carro-patrulha, ele disse que antes de comentar ia “descobrir” o que aconteceu.
Parece que nenhum de seus conselheiros e filhos pensou em lhe mostrar o vídeo do assassinato cometido pela polícia.
Assim, negros e pobres que vivem em favelas continuarão sob a eterna ameaça de morte dos agentes de segurança pública que nada mais fazem do que atirar em vez de prender os culpados e dizimar os inocentes. Tudo sempre sob os aplausos presidenciais.
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