domingo, 2 de outubro de 2022

A "batalha final" não termina neste domingo

Comício de Lula em Sergipe, 18 de junho de 2022. Foto de Ricardo Stuckert.

VALÉRIO ARCARY
https://jacobinlat.com/

Uma diferença dramática nos votos decidirá se esta eleição vai ou não para o segundo turno. Mas o bolsonarismo não deixará de existir com a derrota e busca contestar o resultado eleitoral. Portanto, o desafio para a esquerda, tanto a moderada quanto a mais radical, é promover mobilizações de massa para derrotá-las nas urnas e nas ruas.

Aúltima semana da campanha antes da primeira rodada de 2022 foi a mais complicada e intensa. Foi condicionado pela expectativa do resultado de hoje. O momento pede prudência e coragem.

Vimos, por um lado, a pressão da mídia comercial burguesa exigindo, até o último minuto, compromissos de Lula com algum tipo de defesa do tripé da estratégia fiscal liberal: superávit primário, metas de inflação, câmbio flutuante e privatizações . Mas, por outro lado, o contexto é de incrível paradoxo político. Todas as pesquisas recentes confirmam o favoritismo de Lula. Não há mais espaço para dúvidas. A diferença média é de pelo menos dez milhões de votos. Impossível vencer. A maioria dos eleitores de Bolsonaro, uma proporção muito maior do que sua atual militância neofascista, acredita que Bolsonaro vencerá. Eles não têm dúvidas porque desprezam, ignoram e desprezam as pesquisas. Eles estão convencidos de que os institutos que realizam as pesquisas manipulam os resultados,

Essa expectativa é completamente fantasiosa, irreal, delirante. Mas como podemos explicar isso? Baseia-se em uma confiança inabalável em Bolsonaro. Um seguimento, uma fé, uma certeza, um empenho imenso. Portanto, existe o perigo de Bolsonaro convocar sua base social mais exasperada para as ruas para contestar sua derrota. O Ministério da Defesa anunciou uma investigação paralela. Esse movimento não foi feito para confirmar a contagem do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), mas para contestá-la. Ninguém pode saber de antemão até onde ele estará disposto a ir. Mas é sempre melhor levar em conta o pior cenário possível para não se surpreender. Isso significa que devemos nos preparar para sair às ruas para comemorar a vitória, mas também para defendê-la.

Ocultação calculada

Os líderes da extrema direita obviamente sabem que vão perder, mas estão mentindo. Eles mentem com insolência, equilíbrio e insolência. Optaram taticamente por ir às eleições sabendo, desde o início, que a possibilidade de perder era muito alta. Daí a duplicidade do discurso. Uma dissimulação calculada.

Organizaram uma campanha pela reeleição, mas ao mesmo tempo chantagearam os Tribunais Superiores e intimidaram a esquerda com ameaças de golpe. Sua estratégia sempre foi manter vivo o movimento político neofascista que conta com o apoio de um terço da população. Bolsonaro provavelmente está preparando um discurso em que repetirá a acusação de que foi vítima de fraude.

Eles querem se preservar porque temem o destino das investigações que podem levá-los à prisão. Querem liderar a oposição a um futuro governo Lula. Mas a sorte está lançada. Não é mais razoável esperar outro resultado que não uma derrota para Bolsonaro, embora permaneça incerto se Lula obterá a maioria absoluta dos votos válidos ou não no primeiro turno. Espero que sejamos poupados da terrível turbulência do que será uma campanha de quatro semanas até o segundo turno.

Cabeça fria, coração quente

Até domingo teremos um aumento da tensão política nas ruas com possibilidade de desentendimentos, confrontos violentos e, infelizmente, até desentendimentos fatais. O ápice da situação ocorrerá hoje, principalmente após o anúncio do resultado, quando é esperado o pronunciamento de Bolsonaro. Até lá, teremos as pesquisas diárias e as paixões que despertam as oscilações de uma ínfima diferença de votos que condiciona uma decisão antecipada para o primeiro turno.

Será decisivo não responder às provocações e manter a calma. Aqueles que têm interesse em criar confusão, desordem e confusão são os fascistas. Nossa palavra de ordem deve ser o máximo de calma e cabeça fria. Devemos agir com inteligência tática para que o menor número possível de pessoas seja contaminado pelo medo. O medo pode levar uma parte da população a não ir às urnas, por medo de distúrbios no caminho para as sessões eleitorais.

A vantagem de Lula está concentrada nas camadas populares, e nossa responsabilidade é que elas possam se expressar livremente. Mesmo assim, apesar do clima carregado, é provável que a abstenção seja mais ou menos a mesma das últimas eleições, em torno de 20%. A hora da vitória será a mais doce. Mas isso não diminui a necessidade de defendê-lo.

Aos 47 minutos do segundo tempo

Uma diferença mínima e dramática de votos decidirá se esta eleição vai ou não para o segundo turno. Mínimo significa que poderia ser, neste ponto, até menos de 1%. Dramático, porque um segundo turno garante mais quatro semanas de campanha.

A possibilidade de Bolsonaro reverter a inferioridade em que se encontra hoje é nula. Mas, uma segunda rodada pode acontecer, infelizmente. Se assim for, essas quatro semanas serão uma eternidade. Estejamos cientes de que eles serão preciosos para a consolidação do movimento neofascista.

O bolsonarismo não deixará de existir se Bolsonaro perder as eleições. O desafio para a esquerda brasileira, tanto a moderada quanto a mais radical, é contar com a mobilização das massas populares para derrotá-las.


VALÉRIO ARCARY
Historiador, militante do PSOL (Resistência) e autor de O Martelo da História. Ensaios sobre a urgência da revolução contemporânea (Sundermann, 2016).

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