(Foto: ABR)
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Os incidentes de carácteres golpistas acontecidos no dia 8 de janeiro em Brasília, na Esplanada dos Ministérios e na Praça dos Três Poderes, quando uma turba insana e selvagem, a usar roupas verdes e amarelas, a empunhar bandeiras do Brasil e a acreditar em uma tomada de poder pela força, quando entraram como vândalos ou bárbaros nas sedes do Executivo, do Legislativo e do Judiciário, tem uma característica ancestral que remonta ao golpismo no Brasil: o Exército como fomentador e, o pior, garantidor de desmandos, insubordinações e ambição desmedida pelo poder, ao ponto dos espaços limítrofes aos quartéis em inúmeros estados da Federação se tornarem incubadoras de golpistas por quase três meses, uma gente feroz e fanatizada que não aceitou o resultado da eleição vencida por Lula do PT.
As evidências e as investigações, assim como as conversas de bastidores em âmbito federal levam a crer que os generais e os coronéis, da ativa e da reserva, de maneira direta e indireta se tornaram, vergonhosamente, cúmplices e apoiadores de uma tentativa violenta de golpe de estado contra um governo empossado legitimamente pelas urnas soberanas, na pessoa do presidente Lula, recentemente eleito e que derrotou, não apenas seu opositor politicamente e moralmente violento, o fascista Jair Bolsonaro, mas, sobretudo, derrotou o status quo representado pelo poderoso e rico Estado brasileiro, cujos generais, juízes, procuradores e policiais, sendo que muitos deles estão ainda a se alinhar politicamente e ideologicamente com o fascismo implantado, brutalmente, no Brasil, a partir do golpe contra a presidente legítima e constitucional Dilma Rousseff, o que acarretou a prisão covarde e injusta de Lula e, consequentemente, ocasionou ao País e ao seu povo uma das mais graves crises institucionais e econômicas da história do Brasil, que se tornou um País isolado e por isso transformado lamentavelmente num pária em termos globais.
Contudo, voltemos aos ninhos de cobras que se alastraram por todo o País em forma de acampamentos de bolsonaristas em áreas de quartéis do Exército, muitos deles ignorantes no que concerne à soberania das urnas, das questões que martirizaram o povo brasileiro com o aumento exponencial da violência e da miséria, além de crimes sistemáticos contra os direitos da sociedade civil conquistados há décadas, além do vilipêndio contra o estado de direito e a democracia, somado à desconstrução criminosa do Estado nacional em todos seus segmentos e setores, com maior gravidade no meio ambiente, nos programas de inclusão e proteção social e a ter como a cereja do bolo a entrega indiscriminada de estatais importantes para o desenvolvimento do País, bem como estratégicas para a proteção dos interesses do Brasil.
A verdade é que os generais e os coronéis se deixaram levar pelos cantos das sereias e se submeteram aos ditames e caprichos de um tenente reformado como capitão, que tentou realizar ações e atos violentos no final da década de 1980 por causa de questões financeiras ou pecuniárias por considerar baixos os salários pagos aos militares. Para voltarem ao poder político e civil, no papel de tutores que jamais foi concedido pela democracia brasileira aos militares, os oficiais generais, ambiciosos e essencialmente autoritários, porque a verdade é que jamais reconheceram o poder civil estabelecido pela Constituição de 1988, viram em Bolsonaro a ponte para que retornassem ao poder republicano e federal após longos 30 anos a ficarem dentro dos muros das casernas, o que, obviamente, tais situações nunca lhes agradaram.
Inquietos e insidiosos, arrogantes e prepotentes, assim como jamais punidos em tempo algum por seus crimes do passado, os militares brasileiros, diferentemente dos argentinos, uruguaios e chilenos, só para ficar nesses três países sul-americanos, não foram processados em massa e muito menos julgados, realidades essas que acarretaram um sentimento de impunidade que se transformou em empoderamento, tanto político quanto funcional no que dispõe à ousadia e ao atrevimento de perpetrarem, no decorrer dos quatro anos de Jair Bolsonaro e nos dois anos e meio de Michel Temer, ações insidiosas com intenções golpistas, que consolidaram um movimento francamente subversivo, ilegal e, portanto, criminoso, que fora esse tempo todo financiado principalmente pelos empresários do agronegócio e de transportadoras, sendo que empresários de outros ramos se imiscuíram também nessa patuscada violenta e, por sua vez, altamente perigosa para a democracia brasileira e mundial.
Quando falo sobre essas questões que envolvem o Exército, quero ressaltar também que a Marinha e a Aeronáutica são cúmplices dessas ações golpistas, sem, entretanto, generalizar. Por seu turno, o que interessa realmente pontuar e deixar bastante claro que o terrorismo e golpismo bolsonarista foi de uma ousadia sem precedentes, até porque os Estados Unidos, a União Europeia, a Rússia e China e os países que comportam o Mercosul sempre disseram, inequivocadamente, que jamais apoiariam um golpe de estado no Brasil nos anos de 2022 e 2023, já que no ano de 2016, quando aconteceu o golpe bananeiro e a deposição vergonhosa de Dilma Rousseff esses mesmos atores se calaram, ou seja, naquele momento era necessário destruir a poderosa e competitiva indústria da construção, além da indústria naval e, principalmente, realizar a entrega por parte dos golpistas de Michel Temer, dentre eles os militares, do trilionário Pré-Sal.
As empresas estrangeiras e brasileiras colocaram a mão grande e larápia no tesouro da Nação e, a partir daí, não interessava mais ao establishment internacional manter políticos de direita ou de extrema direita no poder, assim como as potências estrangeiras não querem o Brasil dominado por militares sem noção do mundo civil e sua imensa diversidade, além que manter um ditadorzinho terceiro-mundista destrambelhado e radical, a exemplo de Bolsonaro no poder, é pedir para arranjar encrenca em tamanho estratosférico.
Luiz Inácio Lula da Silva irá governar com soberania e força política, mas em minha opinião recuperar o que foi roubado do patrimônio brasileiro, a ter os militares por quatro anos a governar desastrosamente a República, a entregar o patrimônio público e a se locupletarem individualmente, como comprovam seus ganhos financeiros e as indescritíveis mordomias.
Os militares voltaram a governar o Brasil para desgoverná-lo, bem como se mostraram antipovo e antitrabalhadores, antidemocráticos e antinacionais, e, sobretudo, profundamente elitistas no que concerne à luta de classes, a juntarem-se ainda a evangélicos que promoveram e estimularam o atraso e o retrocesso em todos sentidos, bem como se tornaram aliados do Centrão no Congresso Nacional. Os grandões das Forças Armadas ainda se submeteram de forma subserviente ao governo do golpista Donald Trump, pois aliaram-se aos interesses geopolíticos dos norte-americanos em uma conduta que envergonharia até os personagens do Exército Brancaleone. É como se o Brasil não resguardasse mais seus próprios interesses. Lamentável.
Todavia, a intentona golpista fracassou retumbantemente e os vândalos plenos de ignorância estão agora a morar em novo endereço: os complexos prisionais Colmeia (feminino) e Papuda (masculino) localizados no Distrito Federal. A aposta na desordem para efetivar o caos teve como propósito fazer com que as Forças Armadas, principalmente o Exército, entrassem nessa imensa balbúrdia como os “salvadores da Pátria”, para logo, quiçá, interditar o Governo Federal por meio de um golpe, mesmo sendo o Lula presidente da República com mais de 60 milhões de votos e a derrotar a máquina bolsonarista comandada pelos generais, que gastou bilhões e bilhões de reais para que tais militares se mantivessem no poder, juntamente com o capitão cujo apelido desdenhoso e lamentável é Bozo.
Lula, talvez o político mais experiente do País, que enfrentou 580 dias no cárcere de forma altiva e corajosa, pois sequestrado pelo estado brasileiro para não se candidatar a presidente em 2018, enfrentou mais uma vez os sediciosos sem vacilar e de maneira direta e objetiva assinou decreto de intervenção na Segurança Pública do Distrito Federal, bem como logo depois o STF destituiu o governador do DF. Essas ações foram como um soco demolidor no queixo do golpismo somadas às prisões dos delinquentes que depredaram como bárbaros as sedes da República.
As Forças Armadas, notadamente o Exército, ficou em uma situação desditosa e constrangedora, pois passou uma péssima impressão à sociedade brasileira, o que mancha a sua imagem já nada boa, inclusive para os bolsonaristas, que estavam à espera da tomada do poder por parte dos militares e se sentiram frustrados, ainda bem. Na verdade, quando os militares se insurgem para dominar o poder civil (um erro histórico e pernicioso), obviamente que tal processo dantesco não dará certo, porque nunca deu certo na história da República, que se deu início por meio de um golpe contra o imperador Dom Pedro II, em 1889, um ano após a “libertação” dos escravos.
Para encerrar o artigo, lembro da conduta do coronel comandante do Batalhão de Guarda Presidencial (BGP), que “peitou” a tropa de choque da PM para proteger os golpistas que invadiram o Palácio do Planalto, assim como é salutar relembrar a demora do GSI dominado por militares em acionar a reação aos invasores da sede do Executivo, além da leniência do Comando do Planalto em não enviar rapidamente reforços à Esplanada, bem como, volto a sublinhar, que somente aconteceu o quebra-quebra porque o Exército permitiu que suas adjacências se tornassem incubadoras do golpismo e da falta de responsabilidade com a Nação, a democracia, o Estado de Direito e a Constituição.
Lula saiu vitorioso porque foi firme e não permitiu que os golpistas transformassem o Brasil novamente em republiqueta de bananas em total dissonância perante os países democráticos e considerados civilizados. Está mais do que na hora de punir severamente os prepostos do golpismo, do atraso e do retrocesso, de forma que o Brasil também consiga transformar as Forças Armadas em corporações dedicadas aos seus nobres afazeres e obrigações que constam indelevelmente na Constituição. Se militar quer fazer política que entre num partido e concorra aos cargos públicos e eletivos. É seu direito como cidadão brasileiro, mas para por aí.
As Forças Armadas têm de urgentemente se profissionalizar e saber de seu lugar, do seu quadrado, como acontece para todos os segmentos e setores da sociedade civil. Modificar os programas pedagógicos das escolas e cursos dos militares deveria acontecer ontem, pois eles estão ainda paralisados no tempo e na história, em um anticomunismo anacrônico que beira o ridículo e que é usado comumente como plataforma política, a péssima política, de forma que possa até ter algum espaço, se houver oportunidade, para a efetivação de um golpe de estado, sempre terceiro-mundista e bananeiro, o que causa profundo sentimento de humilhação e revolta à grande parte do povo brasileiro.
É lamentável os militares se considerarem “poder moderador”, quando eles não são e nunca foram, porque os chefes dessas corporações têm lado, o lado do status quo, dos ricos e dos poderosos, como sempre, inequivocadamente, demonstraram e comprovaram durante a história. O Exército Brasileiro, em especial, tem de ter como referência os exércitos dos países desenvolvidos e civilizados, que fazem questão de proteger a democracia e se submeter à ordem democrática e às suas constituições. Os generais brasileiros têm de compreender, definitivamente, essas questões para o bem do Brasil e de seu povo. Golpe nunca mais! É isso aí.
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