quarta-feira, 4 de janeiro de 2023

Notícias do Moedor de Carne imposto pelo OTANistão

Vladimir Putin, guerra na Ucrânia, Planeta e a Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan), liderada pelos EUA (Foto: Reuters)

Em algum canto de seu panteão particular, Palas Atena, a deusa da Geopolítica, está se divertindo imensamente com o espetáculo

Por Pepe Escobar

Ninguém jamais perdeu dinheiro se aproveitando das ilimitadas tolices cuspidas pelo veado coletivo pego pelos faróis também conhecidos como a mídia convencional do Ocidente – que chega ao ponto de agraciar com o título Pessoa do Ano um ator canastrão, megalomaníaco e movido a cocaína, representando o papel de um chefe guerreiro.

O incessante e vagabundíssimo desfile de analistas militares do Ocidente vem agora "avaliando" que os primeiros alvos de um próximo ataque conjunto Rússia-Belarus contra o buraco negro 404, antes conhecido como Ucrânia, serão Lviv, Lutsk, Rivne, Zhytomyr, e por que não incluir Kiev na mistura, formando um segundo eixo.

O Estado-Maior russo vem monitorando atentamente toda a ação, e talvez venha a seguir o conselho dos tais "analistas".

No entanto, alguns fatos nunca mudam. O fato número Um é a OTAN como uma ficção criada pela imaginação – extremamente avariada – do coletivo ocidental. Se as coisas piorarem – como esperam e imploram aos céus os guerreiros de poltrona straussianos/neo-con – a Rússia poderá facilmente derrotar a OTAN inteira como se ela mal existisse.

O que, é claro, exigiria uma mobilização maciça da Rússia. Na atual situação, a Rússia talvez pareça frágil em alguns locais, uma vez que foram ativados apenas 100.000 homens, contra possivelmente um milhão de soldados ucranianos. É como se Moscou não estivesse exatamente seduzida pela ideia de "ganhar" – o que talvez seja o caso, de uma forma bastante tortuosa.

Mesmo agora, Moscou ainda não mobilizou tropas suficientes para ocupar a Ucrânia – o que, em tese, seria imperativo para "desnazificar" completamente a quadrilha de Kiev. O conceito operativo, no entanto, é "em tese". Moscou, na verdade, está ocupada em demonstrar uma teoria totalmente nova – apesar do fato de que umas poucas almas exaltadas vêm vendendo a ideia de que Putin deveria ser substituído por Alexander Bortnikov, do Serviço Federal de Segurança russo.

"Não sobrará nada do inimigo"

Com seu arsenal de mísseis hipersônicos, a Rússia conseguiria destruir, em uma questão de horas, toda a infraestrutura da OTAN: pontes, portos, aeroportos, e também todas as usinas de energia elétrica, os depósitos de petróleo e gás e as instalações da Rotterdam de petróleo e gás natural. Todo o equipamento de produção de energia espalhado pelo OTANistão seria arrasado. A Europa ficaria sem acesso a recursos naturais. Um império pasmo e confuso ficaria incapacitado a transferir tropas, quaisquer tropas, para a Europa.

E mesmo assim, as provocações continuam na mesma intensidade. Moscou culpou Kiev pelo recente ataque contra a base aérea Engels-2 por drones Tu-141 ucranianos. Kiev, como seria de se esperar, negou qualquer responsabilidade. Mas o mais importante foram as mensagens estratégicas de Moscou aos Estados Unidos/OTAN, com Putin flertando com a ideia de que, mais cedo ou mais tarde, a resposta subirá muito de tom caso os armamentos fornecidos pelos Estados Unidos/OTAN a Kiev vierem a ser usados para atacar território sensível da Federação Russa.

A atual doutrina russa chega a permitir que Moscou responda com ataques nucleares. Afinal, a base aérea Engels-2 abriga bombardeiros com capacidade nuclear, ativos estratégicos da maior importância.

É certo que os drones foram lançados por agentes infiltrados em território russo. Se eles tivessem vindo de fora da Rússia e interpretados como mísseis nucleares, eles poderiam ter desencadeado o lançamento de centenas de mísseis nucleares russos contra o OTANistão.

Putin expressou-se de maneira – ominosamente – clara, na cúpula do Conselho Econômico Eurasiano, realizada em Bishkek, no Quirguistão, há uma semana:

"Posso garantir-lhes que, após o sistema de alarme precoce receber um sinal de ataque de míssil, centenas de nossos mísseis estarão no ar (...) É impossível interceptá-los (...) Nada sobrará de nosso inimigo porque é impossível interceptar centenas de mísseis – o que atua como uma forte dissuasão".

Não, é claro, para a gangue straussiana-neocon corroída pela estupidez que na realidade manda na "política" externa dos Estados Unidos.

Não é surpresa que fontes de inteligência russa de grande confiabilidade tenham estabelecido que os mísseis que atingiram a Engels-2 foram lançados de uma distância próxima, embora o regime de Kiev deseje fazer acreditar o contrário.

O que converte a charada em uma farsa dadaísta – com um Império estonteado e confuso, ainda ligado ao maníaco de Kiev que continua acreditando que os S-300 ucranianos que atingiram a Polônia vieram da Rússia. O que mostra que o mundo inteiro – e não apenas Washington – é refém do maníaco "Pessoa do Ano", dotado do poder – virtual – de provocar uma guerra nuclear generalizada.

O Napoleão Vermelho chegou

Enquanto isso, no terreno, a Rússia embarcou com força total na Estratégia das Operações Profundas. Em diversos locais da extensa fronteira, eles atacam os pontos que têm maior possibilidade de mobilizar as parcas reservas ucranianas escondidas na segunda linha de defesa. Quando essas forças de reserva passam a avançar, por péssimas estradas, através das terras desertas e lamacentas, para ir em socorro das unidades da linha de frente, batalhões inteiros são massacrados.

Os russos nunca penetram muito fundo na terceira linha – onde o comando e os controles talvez estejam localizados. O que está em jogo é a guerra de exaustão da Estratégia de Operações Profundas, saída diretamente do manual de instruções do lendário "Napoleão Vermelho", o Marechal-de-Campo Mikhail Tukhachevsky.

A Rússia salva soldados, pessoal e equipamentos. Todo esse esquema funciona às mil maravilhas em terrenos difíceis, onde os veículos atolam em estradas chuvosas. Essa tática do "enxague e repita", todos os dias, por meses a fio, levou a (pelo menos) 400.000 baixas ucranianas. Podem chamar a isso de a epítome da Guerra de Exaustão.

Os historiadores se deliciarão com o fato de que o cenário se assemelha à Batalha de Agincourt – onde onda após onda dos Cavaleiros Franceses (desempenhando o papel hoje representado pelos ucranianos e mercenários da Polônia e da OTAN), lançavam-se morro acima em direção aos arqueiros e cavaleiros ingleses, que se mantinham parados, deixando vir os ingleses e atingindo seguidamente a segunda linha.

A diferença, é claro, é que os russos vêm empregando as táticas da Guerra de Exaustão todos os dias, há mais de seis meses, enquanto Agincourt foi uma única batalha, travada em um único dia. Quando esse moedor de carne tiver terminado, toda uma geração de ucranianos e poloneses terão ido ao encontro de seu Criador.

O mito inventado pelo coletivo ocidental de uma "vitória" ucraniana contra a guerra de exaustão travada pela Rússia não se qualifica sequer como um delírio cósmico. Trata-se mais de uma péssima piada de efeitos letais. A única saída seria se sentar à mesa das negociações agora, antes que o martelo (a próxima ofensiva russa) caia sobre a bigorna (a atual linha de frente).

Mas a OTAN, é claro, como o Estulto Stoltenberg continua a lembrar ao mundo, não quer saber de negociações.

O que, em um certo sentido, pode ser uma bênção, uma vez que a OTAN pode acabar quebrada em mil pedaços e totalmente humilhada no terreno, apesar de todos os seus planos belicistas.

Andrei Martyanov foi impecável ao rastrear a total degradação econômica, moral, intelectual e – principalmente militar – do coletivo Ocidental, encharcado de mentiras e usando péssimos truques de relações públicas, e sua "estarrecedora incompetência em absolutamente todos os setores".

Durante todo esse tempo, a Rússia se prepara "para mais uma derrota", como a retomada ad totalidade do Donbass, e então... quem sabe o quê. Uma vitória rápida para a Rússia seria uma perda, porque a OTAN continuaria existindo. Não, a Rússia tem que acertar o ritmo para que a OTAN seja sugada para dentro do moedor de carne.

Em algum canto de seu panteão particular, Palas Atena, a deusa da Geopolítica, está se divertindo imensamente com o espetáculo. Ah, espera, ela reencarnou, e seu nome agora é Maria Zakharova.

(Tradução de Patricia Zimbres)

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