quinta-feira, 16 de março de 2023

A queda do Silicon Valley Bank, outra expressão da crise capitalista

Fontes: uit-ci.org

Por José Castillo
https://rebelion.org/

Na sexta-feira, 10 de março, o Banco do Vale do Silício faliu. Ele desencadeou um tremor durante todo o fim de semana e uma queda acentuada nos preços dos bancos nas bolsas de valores de todo o mundo. Um novo sinal de um capitalismo imperialista em crise crônica. Seja qual for o resultado deste episódio, os grandes capitalistas tentarão fazer com que a classe trabalhadora e os povos do mundo paguem pelo gaiteiro.

O Silicon Valley Bank era uma entidade financeira especializada em financiar empresas de tecnologia, tanto grandes corporações quanto startups menores e emergentes. Foi o 16º maior banco dos Estados Unidos. Sua falência é a segunda maior da história dos Estados Unidos (a maior, em 2008, foi a do Lehman Brothers, no auge da crise naquele momento).

Mais da metade das empresas de tecnologia da região do Vale do Silício, no estado da Califórnia, tinham dinheiro depositado no referido banco, incluindo a grande maioria das chamadas “startups”.

Perante os rumores sobre a queda do banco, houve uma corrida entre quinta-feira e sexta-feira passada, onde foram levantados 42.000 milhões de dólares. Finalmente, o Yankee Federal Reserve acabou declarando falência. A Federal Deposit Insurance Corporation dos Estados Unidos, entidade estatal, ficou como "liquidante" e encarregada dos 175 bilhões de dólares em depósitos. O problema é que os depósitos são garantidos apenas até $ 250.000 por conta, cobrindo apenas 7% disso.

Por que havia tantos grandes depósitos nas contas do Banco do Vale do Silício? Porque a maioria pertencia a novas empresas de tecnologia, as chamadas startups. Uma startup é uma empresa nova, geralmente pequena, que, por estar localizada no campo das novas tecnologias, aspira crescer muito rapidamente. Recorrem ao capital de terceiros, sejam eles especuladores, outras grandes empresas ou bancos. Muitas vezes, as startups têm dificuldade em obter financiamento de bancos mais tradicionais, pois não atendem aos requisitos de segurança. O Silicon Valley Bank era um banco especializado em dar esses créditos de “risco”.

As startups normalmente não ganham muito: elas pagam seus funcionários e outras contas com o dinheiro que arrecadam vendendo ações para investidores de risco. E eles guardam o dinheiro excedente coletado em algum lugar. Muitos deles tinham em contas do Banco do Vale do Silício, já que foi o mesmo banco que lhes concedeu empréstimos que outros grandes bancos negaram.

Uma bolha desinflando

O que aconteceu foi um novo capítulo dos típicos estouros de bolhas especulativas. Em 2021, essas empresas de capital de risco de tecnologia levantaram US$ 330 bilhões em financiamento. Tudo em um contexto onde, após a pandemia, eles estavam se expandindo rapidamente. Mas então aconteceu que seus negócios não eram tão lucrativos e começaram a encolher (uma das manifestações disso é a demissão de centenas de milhares de trabalhadores de todas as empresas do setor de tecnologia). Ao mesmo tempo, o Federal Reserve começou a aumentar as taxas de juros para tentar baixar a inflação, tornando o crédito mais caro.

O Silicon Valley Bank, por sua vez, colocou os depósitos em sua posse em títulos do Tesouro de 40 anos. Quando o Federal Reserve aumentou a taxa de juros, os títulos antigos, com taxas mais baixas, perderam valor e seu preço começou a cair. Os depositantes de empresas de tecnologia, diante do fato de seus negócios não serem lucrativos, tentaram sacar seu dinheiro dos bancos. Mas o banco não podia pagá-los: só tinha em troca os títulos desvalorizados. O Silicon Valley Bank tentou vender suas próprias ações para levantar dinheiro, mas elas também começaram a cair. Foi aí que ocorreu a tourada e a falência.

A falência do Silicon Valley Bank é consequência, então, da elevação das taxas pelo Federal Reserve, que, com o objetivo de baixar a alta inflação ianque, está disposta a caminhar para uma recessão. Com taxas altas, o dinheiro fica mais caro e escasso, e isso desencadeia corridas como a que acabou com o Banco do Vale do Silício. Mas também é consequência do esvaziamento da bolha especulativa das empresas de tecnologia, com cada investidor tentando desesperadamente resgatar seu dinheiro.

bancos descontrolados

Uma pergunta pertinente é por que o Silicon Valley Bank foi autorizado a assumir tal exposição ao risco, jogando com os depósitos de seus clientes, colocando-os em títulos que acabaram perdendo valor. A resposta é que, em 2015, o governo de Donald Trump havia desarmado quase todas as regulamentações que haviam sido criadas na crise de 2008 para evitar que isso se repetisse. Foi justamente Greg Becker, presidente do Silicon Valley Bank, o principal lobista no Senado ianque para reduzir a regulamentação dos bancos com capital inferior a 250 bilhões de dólares (naquela época, todos os bancos com ativos superiores a 50 bilhões de dólares estavam sujeitos a controles fortes). À medida que os controles diminuíram, centenas de bancos, incluindo o Silicon Valley Bank,

A falência do Silicon Valley Bank afetou um grande número de empresas de tecnologia de diversos portes, que, se não receberem o dinheiro de volta, não têm condições nem de pagar os salários deste mês. É o caso da Roku (dispositivos de streaming de baixo custo), Circle (tecnologia de gerenciamento de pagamentos eletrônicos), Roblox (plataforma de jogos online), BlockFi (empréstimo de criptomoedas), Compass Coffee (cafeteria online), Camp (loja de brinquedos online), Axsome Terapêutica (farmacêutica), Rippling (gestão de pagamentos), entre as mais importantes.

Primeiro passo para outra rachadura?

A queda do Silicon Valley Bank é, sem dúvida, a que mais fez barulho. Mas anteriormente já havia ocorrido a falência do banco especializado em criptomoedas Silvergate e nesta segunda-feira o próprio Federal Reserve teve que declarar o fechamento do Signature Bank.

Na segunda-feira, as cotações de todos os bancos das principais bolsas do mundo caíram, temendo um efeito de contágio. Filiais dos afetados começam a aparecer fora da área das empresas do Vale do Silício. Empresas de tecnologia de Israel e da Índia parecem envolvidas. Também na Grã-Bretanha, onde surgiu que o HSBC teria adquirido a filial britânica do Silicon Valley Bank por apenas uma libra esterlina.

Buscando evitar que o pânico se alastrasse, houve uma declaração conjunta do Federal Reserve, do Tesouro e da Federal Deposit Insurance Corporation, garantindo que todos os depósitos seriam pagos. O próprio presidente ianque, Joe Biden, teve que sair em defesa do sistema bancário, afirmando que haveria novas regulamentações, questão difícil de implementar com a atual composição do Congresso americano. No entanto, nenhum desses anúncios conseguiu trazer tranquilidade, e a incerteza continuou no fechamento dos principais mercados nesta segunda-feira.

Não podemos prever se já estamos enfrentando um novo colapso do tipo que o capitalismo imperialista experimentou em 2008, ou se os grandes banqueiros, governos imperialistas e organizações financeiras internacionais conseguirão controlar a situação. O que podemos afirmar é que o que está acontecendo não é mais do que mais um capítulo de uma crise crônica do capitalismo imperialista que já dura meio século com inúmeras situações desse tipo, muitas das quais culminaram em crises globais agudas. E que em todos os casos começaram com o estouro de bolhas especulativas geradas por lucros fictícios, dado o fato concreto de que as taxas de lucro continuam caindo no capital produtivo. Há trilhões de dólares investidos em finanças, ações, especulação imobiliária, em novos negócios de tecnologia totalmente superdimensionados ou na ascensão e queda das criptomoedas. Que a qualquer momento pode explodir. E então, como sempre, será que os trabalhadores e os povos subjugados do planeta pagarão pela crise.

Tudo isso é mais um exemplo de por que o capitalismo não vai mais longe, já que só tem a oferecer crise, fome, miséria e pilhagem. É mais necessário do que nunca que os trabalhadores governem, no caminho do socialismo

José Castillo, líder da Esquerda Socialista, seção argentina da UIT-CI

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