Omar dos Santos
As mulheres da minha aldeia
Quando a natureza imaginou minha aldeia, não regateou generosidade e bom gosto, admirou tanto sua criação que lhe deu o lindo nome de Pindorama, e mais, até veio morar aqui.
Engrinaldou sua nova moradia com verdes e frondosas matas e florestas, encheu lagos e rios caudalosos, floridas serras, chapadas repletas de segredos, tudo coberto por um céu azul e profundo onde brilha o Cruzeiro do Sul.
Contudo isto, o que me deslumbra em minha aldeia, o que ela tem de melhor são suas filhas, todas fornidas de formosura, bravura e sagacidade ímpares.
São Evas, Marias, Anas, Dandaras, Felipas, Antonietas, Carolinas, Dulces, Zildas, Luízas, Marieles, Carmens... Todas heroínas e portadoras da mais inquebrantável determinação.
São morenas, louras, negras, brancas, ruivas; um verdadeiro calidoscópio.
Nos momentos em que graves perigos e grande escuridão ameaçam o povo, elas tomam o leme em suas mãos e demonstram a mais genuína sabedoria para aportar a esta nau em um porto seguro. São as Evas que hoje dão outro rumo a esta Terra de Pindorama.
São elas que:
honram a toga que vestem;
sustentam a dura lida do campo;
fazem do bisturi instrumento de salvar vidas;
garantem o sucesso das empresadas;
cuidam das casas de outras mulheres com se delas fossem;
escrevem no quadro negro o caminho seguro para os filhos do Brasil;
não temem a câmera ou o microfone;
mantêm limpas as ruas e praças de nossas cidades;
ostentam com orgulho e retidão a farda da segurança de todos;
dignificam a arte de fazer a boa política;
mas, acima de tudo, conseguem resistir a estafante dupla jornada de todas os dias de suas vidas.
Um esfuziante viva a todas as mulheres do Brasil!
Foram elas que com força e vontade tão próprias, foram e são capazes quebrar os grilhões da escravidão impostos ao gênero pelo secular e carcomido patriarcalismo, que as tinham como propriedade.
Espero viver o bastante para ser governado pelas mulheres de minha aldeia. É só o que quero.
Omar do Santos
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