quarta-feira, 5 de julho de 2023

“Banco Central independente” é um fetiche das elites brasileiras.


Nonato Menezes

Há duas fontes primordiais que animam parte das elites brasileiras. Uma é através do enriquecimento enviesado, conseguido nas curvas da sonegação de impostos, na exploração desmedida da mão-de-obra, no uso e abuso das Instituições do Estado em benefício próprio, entre outras. O fetiche é, também, uma importante fonte de satisfação de parte dos nossos “escolhidos”. No labirinto dessas almas que o fetiche vagueia como aquilo que “se atribui poder sobrenatural, mágico e se presta a culto”, o "Banco Central independente" parece beber pouco da primeira fonte, mas extravasa seus efeitos da segunda.

A primeira fonte é de conhecimento público. Foi e ainda costuma ser transparente e com reincidência histórica; como crime, inclusive.

Os fetiches das elites brasileiras deitaram sombras em nossa História. O glamour no uso e abuso de hábitos e artefatos da cultura francesa, falar Inglês diante do espelho e enaltecer a culinária suíça, belga, entre outras, ainda é motivo de culto, somados e aceitos com vigor e vassalagem aos valores do Império ianque.

De alma marcada pelos fetiches, a elite nativa se esbalda em posar de milionária. Mansões, Jatinhos, iates, carros de preços exorbitantes marcam esse sentimento. Ainda é de lembrar os gestos de nobreza exibidos por Eike Batista, quando expôs, em sua mansão de R$ 20.000.000,00, um Lamborghini de mais de R$ 2.000.000, na entrada de seu palácio, ocasião em que o mesmo descansava de milionário do petróleo no Brasil. Um rico que deu certo por pouco tempo, mas deixou a mensagem que repercutirá por longo tempo sobre como as elites brasileiras entronizam os seus fetiches.

Deixar aos olhos, também, é externar privilégio que cogita da moradia e do uso do espaço público. É comum, em nossas grandes e médias cidades, condomínio de alto luxo dividindo a paisagem com favelas, sombreando barracos e palafitas com nababescas varandas que parecem exalar o bafo de quem se sente “escolhido” e a soberba de quem olha a miséria alheia sob o prisma da incompetência individual.

Ser rico aqui e morar no exterior se repete como alimento dessa carência. Morar alhures e exibir como fetiche é um dos sentimentos de riqueza que parece acalentar várias almas, na medida em que seu alcance se limita a poucos, dando inegável sentido de exclusividade.

Talvez esse sentimento, como magia e culto ao poder, também, emoldure o ‘Banco Central independente’ como um dos fetiches de mais forte simbologia por parte da elite brasileira. Sua abrangência institucional e sua representação de poder econômico e poder político deve divinizar quem nele se debruça para controlar e ordenar suas ações.

Ter prerrogativas sobre as regras da Política Monetária e influir, muitas vezes de maneira decisiva, no vai-e-vem do Sistema Financeiro é importante demais para ficar fora do alcance dos interesses e das vaidades dos seletos afortunados da Nação. Assim, o que deveria ser dependente do Poder Público, está caprichosamente a serviço de uma minoria, para arregimentar e proteger riquezas, bem como para alimentar os fetiches da parte mais obtusa das elites brasileiras, como magia e culto ao poder.

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