
Bassolma Bazié [*]
A minha presença neste honroso fórum das Nações Unidas, em nome do Burkina Faso, país dos homens justos, não visa erguer muros de lamentação. Também não estou aqui para lhes fazer um discurso conveniente. Mas antes recebi o mandato, como sacrifício, de lhes dizer que a mentira do Estado, a hipocrisia diplomática, a bulimia do poder, a busca frenética de lucros, o espírito demoníaco de dominação e exploração do Homem pelo Homem são as verdadeiras pragas que arruinam as nossas vidas, para toda a sociedade, incluindo a nossa organização, as Nações Unidas. Em nome de Sua Excelência o Capitão Ibrahim TRAORÉ, Presidente da Transição, Chefe de Estado, recebam as saudações fraternais do Povo e do Governo do Burkina Faso.
Em nome do povo burquinense, curvo-me respeitosamente à memória dos grandes líderes do mundo que nos fizeram sonhar e ter esperança numa sociedade humana justa e equitativa através do seu compromisso, determinação e espírito de sacrifício. Menciono em particular:
- Fidel CASTRO de Cuba;
- Patrice Emery Lumumba do Congo;
- Kwamé N'Nkrumah de Gana;
- Modibo KEITA do Mali;
- Ruben Um Nyobé e Félix Moumié dos Camarões;
- Sylvanius OLYMPIO de TOGO;
- Che Guevara da Argentina;
- Martin Luther King e Malcolm X dos Estados Unidos da América;
- Nelson Mandela da África do Sul;
- Jomo Kenyatta do Quénia;
- Amílcar Cabral da Guiné Bissau e Ilhas de Cabo Verde;
- Marien Ngouabi do Congo Brazzaville;
- Capitão Noël Isidore Thomas SANKARA de Burkina Faso;
Etc.
Esses líderes foram em sua maioria executados de forma violenta e outros assassinados. O seu único crime foi cada um deles encarnar os sonhos, as ambições, a esperança das pessoas feridas, violadas, violadas e saqueadas!
Senhor Presidente,
Sua Excelência o Senhor António Guterres, Secretário-Geral das Nações Unidas (ONU);
Sua Excelência o Senhor Joe Biden, Presidente dos Estados Unidos;
Sua Excelência o Senhor Dennis Francis, Representante Permanente de Trinidad e Tobago junto às Nações Unidas, eleito Presidente da 78ª Sessão da Assembleia Geral.
Sua Excelência o Senhor Luiz Inácio Lula da Silva, Presidente da República Federativa do Brasil;
Permitam-me repetir aqui partes dos seus respectivos discursos proferidos nesta mesma plataforma na abertura desta 78ª sessão:
Primeiro: “Estamos num mundo de cabeça para baixo! Cadáveres cobrem as praias onde descansam multimilionários”;
Segundo: “Estamos numa encruzilhada. Temos uma causa comum: deixar aos nossos filhos um mundo com um bom clima social”;
Terceiro: “Apesar das dificuldades, podemos superá-las; O que falta não é capacidade, mas vontade política. Caso contrário, poderemos trazer progresso e paz para todos”;
Quarto: “Há dissonância entre os discursos e as práticas, os factos. O Conselho de Segurança da ONU está paralisado. A ONU deve assumir as suas funções para um mundo unido e equitativo de acordo com os princípios estabelecidos na Carta. Isso exige que tenhamos coragem de lutar contra as desigualdades.”
A quinta-essência das expressões destas quatro altas personalidades significa claramente que as desigualdades no mundo são intencionais, mas com um mínimo de coragem e vontade política podemos, se não erradicá-las, reduzi-las à sua expressão adequada!
Na verdade, todos os anos há discursos acompanhados de promessas e compromissos. São provas da dissonância entre os discursos e os factos sobre estas questões de princípios contidos na Carta das Nações Unidas, entre eles a justiça, a igualdade, a dignidade, a integridade, o direito à autodeterminação, a soberania dos Estados, a inviolabilidade do território e respeito pelo direito internacional. É o que está a acontecer na Líbia, no Sahel (precisamente no Níger) e na crise entre a Rússia e a Ucrânia.
Em primeiro lugar, na Líbia, depois desta catástrofe torrencial, milhares de vidas foram perdidas. Para pintar as nossas consciências com uma tranquilidade transparente, cada Nação apressa-se a apresentar a sua compaixão, a sua solidariedade. Sem dúvida é para dar a impressão de que vivemos em sociedade e que defendemos valores.
A honestidade intelectual recomenda e a história das consciências reflete que devemos apresentar as nossas mais sinceras desculpas ao povo líbio por ter estado, coletiva e individualmente, através de passividade condenável ou através de cumplicidade ativa e inaceitável, ao lado dos algozes que foram o primeiro desastre antropogénico na Líbia.
Foi esta catástrofe que deixou a Líbia de joelhos, saqueando-a e matando o seu guia, antes que as águas da inundação chegassem a pranteá-la ainda mais. E, infelizmente, na vanguarda desta catástrofe humana estava a ONU sob a resolução 19-70 e o silêncio culpado ou mesmo a cumplicidade da CEDEAO e da União Africana. Esta intervenção macabra, com a França de Nicolas SARKOZY no comando, liquidou o guia líbio, coronel Muammar Gaddafi, em 20 de outubro de 2011. Se as condolências ao povo líbio tivessem um mínimo de bom senso e sem hipocrisia, esta diplomacia macabra jamais teria existido. Algo semelhante ocorreu em torno do caso do Níger para criar uma segunda Líbia.
A seguir, como prova de que as relações internacionais estão contaminadas por uma elevada hipocrisia diplomática, desprovida de consciência, de moralidade, de dignidade, de integridade, de justiça e portanto de paz, são sempre as mesmas gesticulações num alinhamento escandalosamente mortal que se movem como feras em torno das suas presas feridas para devorá-las.
Hoje fizemos a infeliz observação de que, contrariamente aos discursos profissionais e de boa fé proferidos neste alto fórum das Nações Unidas, no qual se pedia o respeito pela Carta das Nações Unidas e pelo direito internacional, aos dirigentes que representam o povo irmão do Níger foi-lhes praticamente proibido o acesso à sede das Nações Unidas.
O Burkina Faso condena veementemente esta manobra sórdida baseada em práticas medievais.
Evidentemente, isto só pode ser feito por mentes que perderam um valor essencial para qualquer vida harmoniosa em sociedade. Portanto, vamos mais longe ao dizer que a ONU não deve, em caso algum, ser um instrumento nas mãos de qualquer país.
Os líderes panafricanistas que lutaram pela unidade africana, os nossos avós que caíram com dignidade sob as balas assassinas dos colonos, os dignos filhos africanos que se sacrificaram pela honra no continente e que lutaram ferozmente contra o tráfico de escravos e o neocolonialismo, tiveram o sonho dos guerreiros, que é perturbado ao saber que um punhado de crianças perdidas da África sustém o Níger como se fosse um novelo de algodão para o invasor lhe ateie fogo.
Sim, querido continente africano, alguns dos seus filhos decidiram humilhá-lo e difamá-lo através das mentiras flagrantes do Estado, a começar pelo Níger. Por isso, lanço um apelo vibrante e solene ao povo senegalês, beninense, nigeriano, ganense, chadiano, marfinense, comoriano, guineense e a todos os povos de África para que se mobilizem mais na fraternidade e solidariedade africanas para evitar que os imperialistas incendeiem Níger como no caso da Líbia.
Senhor Presidente da 78ª Sessão da Assembleia Geral;
Senhor Secretário Geral da ONU;
Personalidades ilustres nos respetivos graus, títulos e categorias;
Insisto neste fórum da ONU e perante todo o mundo que a CEDEAO, a União Africana e a ONU devem imperativamente transformar-se em verdadeiras organizações dos povos em vez de estruturas de uma minoria de Chefes de Estado. Não devem ser usados ou instrumentalizados para desestabilizar países irmãos através do assassinato dos seus líderes. Só a este preço a Carta das Nações Unidas e o direito internacional terão significado!
Finalmente, falando da Carta das Nações Unidas e do Direito Internacional, o conflito entre a Rússia e a Ucrânia é mantido e desejado por outras potências.
Assim, vários países ocidentais, particularmente os Estados Unidos e a União Europeia, têm prestado todo o tipo de apoio, em particular apoio militar. As populações civis ucranianas que se voluntariam, algumas das quais até pilotam tanques, são felicitadas e tratadas como patriotas.
O Mali, o Níger e o Burkina Faso enfrentam uma guerra que lhes é imposta pelo imperialismo sob a proteção de terroristas de todos os tipos (AQIM, DAESH, JNIM, etc) que semeiam o terror e a desolação. Apesar da existência desta mesma Carta das Nações Unidas com os seus princípios de igualdade e justiça, por um lado, e por outro, o mesmo direito internacional invocado neste fórum da ONU, existe claramente um vazio abissal na gestão das questões. Na verdade: Tomando o caso do Burkina Faso, as populações civis que enfrentam as incursões bárbaras e assassinas de terroristas decidiram colaborar com as Forças de Defesa e Segurança (FDS). Estas populações assim envolvidas, formadas e supervisionadas pelas FDS são denominadas Voluntários para a Defesa da Pátria (VDP). Assim, no Burkina Faso temos 58.000 VDP, dos quais 42.000 VDP comunitários e 16.000 VDP nacionais lutando em todas as frentes ao lado das FDS, por elas treinados, supervisionados e dirigidos. Atuam apenas sob as instruções e supervisão das FDS e de acordo com os textos regulamentares para proteger as suas vidas e bens. São estes os patriotas que certos chefes de Estado da CEDEAO e da União Africana, recorrendo à instrumentalização das potências capitalistas imperialistas, tentam fazer acreditar à comunidade internacional que são milícias: esta é a mentira descarada do Estado!
Senhor Presidente;
Se a comunidade internacional fosse honesta e sincera no seu compromisso com o terrorismo, não continuaria a envolver as populações civis e a treinar para garantir as suas próprias defesas. Falando da falta de franqueza por parte desta comunidade internacional, aqui estão alguns exemplos:
Em primeiro lugar, quando o Mali, o Burkina Faso, o Níger e outros países se organizaram nas suas fronteiras comuns, unindo forças para enfrentar o terrorismo, a França surgiu do nada para impor o seu instrumento, o G5 Sahel.
Hoje, a CEDEAO, que subitamente tem uma força de intervenção para restaurar as democracias, anunciou uma contribuição de 2 mil milhões de dólares. Mas desde a criação deste G5 Sahel até à sua própria vaporização, esta CEDEAO só poderia gastar 25 milhões de dólares. Onde está a seriedade na defesa da vida humana preconizada pela Declaração Universal dos Direitos Humanos e dos Povos?
Em segundo lugar, Burkina Faso sofre sanções cínicas após o golpe de Estado de 30 de setembro de 2022. Esta nebulosa chamada Comunidade Internacional, sob o impulso da França, com os seu lacaios locais na África, tentou primeiro nomear um Primeiro Ministro em Burkina Faso – em vão. A seguir passaram – em vão – à imposição de ministros em postos estratégicos dentro do governo burkinês. E finalmente negociaram a manutenção das relações para que o Capitão Ibrahim TRAORE implemente tudo o que eles decidirem, condição sine qua son de uma desejada duração no poder.
Tendo-o também recusado, em nome dos melhores interesses do seu Povo, uma avalanche de medidas repressivas, ameaças, tentativas de golpe e manobras imorais está a desenvolver-se nos laboratórios criminais. E, infelizmente, todas estas manobras e missões macabras são pilotadas por marionetas controladas remotamente por personagens nos salões presidenciais africanos.
Por isso mesmo esta famosa iniciativa de Acra sem Mali não durou muito.
Em terceiro lugar, além dos cortes nas ajudas e do cancelamento dos acordos de formação das nossas Forças de Defesa e Segurança (FDS), assistimos ao bloqueio do nosso material militar encomendado com o suor dos nossos compatriotas, sempre sob o impulso da França.
Por exemplo, para os vetores aéreos necessários ao controle e defesa do território, tínhamos um contrato com o Brasil para o qual a Licença de Armamento deveria vir da Bélgica, e o sistema de Navegação e Tiro bem como as Câmaras dos Estados Unidos de América. Estes meios hoje estão bloqueados de forma falaciosa e cínica. Os senhores estão a falar sobre Defesa dos Direitos Humanos neste fórum da ONU, portanto, convido-os a que nos entreguem imediatamente as nossas armas para a defesa e proteção das nossas populações maltratadas. De qualquer forma, estão solenemente informados e, se nada for feito, a história os responsabilizará por não terem ajudado pessoas em perigo.
Senhor Presidente da Assembleia Geral;
Senhor Secretário Geral da ONU;
Queridas personalidades sempre dotadas de um mínimo de bom senso;
Este panorama sombrio desta comunidade internacional é caracterizado pela não assistência a um Estado vítima do terrorismo, pela hipocrisia internacional, pela supremacia de alguns poderes dentro da ONU, pela cumplicidade na pilhagem de África, etc. Não seria uma razão para esta comunidade internacional [ir] perante o TPI?
Numa palavra, nossa segurança será garantida primeiro por nós mesmos e por mais ninguém.
À questão da presença da WAGNER em Burkina Faso, cantada por uma certa imprensa controlada a partir do Eliseu, responderei: Sim, Senhor Presidente, somos os WAGNER de Burkina Faso! Sim, estes corajosos FDS e VDP são os WAGNERs do Burkina Faso!!
Por isso, do alto desta Tribuna das Nações Unidas, que engrandece o sacrifício de cada patriota em nome do interesse nacional, saúdo calorosamente a memória de todos aqueles que tombaram com armas nas mãos e exalto a coragem e a integridade daqueles que continuam de pé, lutando até ao sacrifício pela vitória do nosso povo e pela salvaguarda da nossa Pátria.
Em vez de nos ajudarem a deter esta hemorragia humana, são acusações falaciosas, mentiras descaradas do Estado envoltas numa diplomacia de hipocrisia e ameaças veladas que nos dizem com quais parceiros estar e que ações tomar. Dizemos que não!
Em nome da mesma Carta das Nações Unidas e do Direito Internacional que todos vós evocais aqui nesta Tribuna, o povo africano em geral e o povo saheliano em particular estão resolutamente empenhados em assumir absoluta e plenamente a sua emancipação total para um verdadeiro progresso social. Assim, o Burkina Faso ligará soberanamente as suas associações a quem quiser e comprará os seus meios de defesa a quem quiser! Quer um país se chame Rússia, Irão, Turquia, Azerbaijão, Cuba, Nicarágua, Coreia do Norte, Burkina Faso, ele poderá comprar e vender livremente os seus produtos sem intermediário e muito menos autorização de ninguém. E isso, sem importar o que aconteça!
Senhor Presidente da Assembleia Geral;
Senhor Secretário Geral da ONU;
Queridas personalidades sempre dotadas de um mínimo de bom senso;
Ainda falando de hipocrisia e de mentiras de Estado, nesta questão da luta contra o terrorismo em geral e no Sahel em particular, há outros factos que certamente não ignoram e dos quais tenho a certeza: Em primeiro lugar, no Sahel temos perto de dez mil soldados de exércitos estrangeiros compostos principalmente por soldados franceses, mas também por soldados americanos, alemães, italianos, etc. com as armas, os equipamentos de voo e de vigilância mais sofisticados do mundo e, apesar de tudo, ninguém vê colunas de centenas de terroristas movendo-se ao serviço da desolação e da morte, muitas vezes com armas inimagináveis.
No Mali, no Níger e no Burkina Faso não existem fábricas de armas ou munições. Então, quem recruta esses terroristas? Quem os treina? Quem os contrata permanentemente? Quem os alimenta e com que meios? Acredita nesta filantropia em nome da qual os ocidentais enviarão os seus soldados ao Sahel para morrerem pelo bem dos sahelianos? Se assim for, o que justifica as irritações e outras gesticulações diplomáticas assim que a França é instruída a retirar-se militarmente?
A verdadeira razão são os recursos subterrâneos do Sahel! Com efeito, a Assembleia Nacional Francesa aprovou a lei n°057-7-27 de 10 de Janeiro de 1957, publicada no diário oficial da República Francesa em 12 de Janeiro de 1957, criando a Organização Comum das Regiões do Sahara (OCRS) que reúne partes do Mali, Burkina Faso, Níger, Mauritânia, Argélia, etc. Esta área não tem igual no mundo em termos de riqueza do subsolo. Por exemplo, o lençol freático mais importante vai da Mauritânia à Somália, passando pelo Mali, Argélia, Líbia, Níger, etc. O jornal Le Monde de 23 de julho de 1957 estimou o potencial anual de produção do Saara entre 6 e 7 milhões de toneladas de petróleo. Além desses recursos naturais, temos urânio, ouro, cobalto, zinco, diamante, lítio, cobre, etc.
Se vocês, ocidentais, amam tanto os sahelianos a ponto de levarem para lá os seus soldados para morrerem em nome da democracia, da liberdade, dos direitos humanos e da paz, por que é que todo o continente africano, que tem 1,3 mil milhões de habitantes e, portanto, o segundo mais populoso continente, com 30.415.873 km2, e 54 Estados não têm assento permanente no Conselho de Segurança com direito de veto? Isto não vai além de um crime de Estado, um crime da ONU?
Chega então da grosseira mentira diplomática que consiste em dizer que estas potências imperialistas vêm ao Sahel para defender a Democracia e os Direitos Humanos.
Falando em Direitos Humanos, lembro-vos que a primeira Carta do Mundo sobre esta questão dos Direitos Humanos é a de KURUKAN FUGA de 1236 em Mandé, actual Mali.
Portanto, deixemos que os moralizadores expansionistas mantenham a sua retórica de respeito pelos direitos humanos de geometria variável para os terroristas que supervisionam.
Em segundo lugar, a África não gosta de comparar os mortos! É rude fazer isso! Por isso, curvo-me respeitosamente à memória de todas as nacionalidades que perderam a vida em África em geral e no Sahel em particular. Assim, relativamente às saídas aleatórias, condescendentes e infelizes do Presidente da República Francesa, Emmanuel Macron, que muitas vezes beiram o ridículo enquanto se glorificam numa hipotética condescendência para com os povos africanos, imponho-me o dever de lhe dar uma pequena lição de história em sua própria história. É por isso que as salas de aula são pensadas para que as crianças aprendam e cresçam bem, em vez de se dedicarem a outra coisa correndo o risco de se perderem para sempre. Mas, para começar, gostaria de salientar que nenhum povo africano se opôs ao povo francês: portanto, Não existe sentimento anti-francês em África e nunca existirá graças à nossa lendária hospitalidade e amor ao próximo. O povo africano rejeita a condescendência, a arrogância, a insolência, a complacência, o paternalismo, a pilhagem dos seus recursos e o crime organizado.
Na verdade, à sua memória, Sr. dos nazistas. Como lembrete temos:
“17.000 malianos morreram durante as duas guerras mundiais. Uma dívida de sangue que a França parece ter escondido", ver o livro de Bakari KAMIAN, professor associado da Universidade Sorbonne:
- "Das trincheiras de Verdun à igreja de São Bernardo: 80.000 combatentes malianos em ajuda à França (1914-1918) ) e 1939-1945”. (Edições KARTHALA./ 2001. Trechos: 343-345);
- “…Mortes para França (Página 343) Tabela 20: veteranos na AOF, 1952 e 1959;
- Página 344, Tabela 21: Veteranos sudaneses das duas guerras:
- Total de vítimas do Mali, Burkina Faso e Níger: 82.208 combatentes caídos;
- Total geral da AOF: 154.519 combatentes. Cf. Fonte: Henri LIGER, Relatório de fim de missão na AOF, Dakar, 13 de julho de 1950, Arquivo do Senegal, símbolo 4 D 68 (89) – ver Apêndice V.
Então, em 17 de Novembro de 1986, François Mitterrand, então presidente francês, em resposta ao Capitão Thomas SANKARA disse: “A África foi saqueada. Falei sobre matérias-primas. Eu deveria ter falado sobre homens! Durante séculos, vos explorámo humanamente: roubamos os vossos homens, as vossas mulheres, os vossos filhos. Nós vos usámos. Entendo vossa recusa, vossa rebelião e aprovo vossa luta. Você está certo em recusar ser um continente sacrificial. Chegou o momento em que vocês mesmos devem desenvolver as vossas economias com base nos vossos ativos e no seu vosso povo. E o dever destes países que beneficiaram indevidamente do trabalho africano é devolver á África uma parte do que lhes foi tirado ao longo dos últimos séculos”. Na verdade, a África sempre foi fortemente saqueada, mas continua rica em população, em valor e riqueza mineral. Como amostra:
Ao falar sobre estes recursos minerais, a África representa:
30% das reservas minerais do mundo;
40% das reservas de ouro;
33% das reservas de diamantes;
80% das reservas de coltan (telefones);
60% das reservas de cobalto (baterias);
55% das reservas de urânio, etc.
É pela defesa firme desta África que a juventude africana se levanta mais do que nunca.
Sr. MACRON, você ainda precisa de um pouco de história para lembrá-lo?
Finalmente, muito antes desta lamentável e, portanto, infeliz partida do Presidente francês Emmanuel Macron, ele, como tantos outros dos seus colegas políticos, atacou a maternidade africana e também neste momento gostaria de lembrar que a Alemanha tem aproximadamente 83 milhões de habitantes e área de 347 mil km2 voltada para o Congo, que tem 95 milhões de habitantes numa área de 2.345 mil km2; A Bélgica tem 11 milhões de habitantes numa área de 30.000 km2 em comparação com o Gabão que tem 2,5 milhões de habitantes em 267.000 km2; A França tem aproximadamente 68 milhões de habitantes em 672.329 km2, em comparação com a Namíbia, que tem 2,5 milhões de habitantes em 825.000 km2.
É com tudo isto que Aimé Césaire (Paz à sua alma) disse: “África é o único continente do mundo onde as populações cantam, dançam e aplaudem aqueles que os empobrecem, os matam à fome e os torturam. A desgraça da África é ter tombado com a França!
Certamente que o Ocidente violou, violou e roubou África. Qual é a nossa quota-parte de responsabilidade como líderes africanos? Não somos nós, os líderes africanos, aqueles que estão dispostos a ser pisoteados? Na verdade, abandonamos a nossa identidade para não sermos nada. Nossos nomes desapareceram para dar lugar a outros nomes importados que não cabem na nossa realidade. Precisamos recuperar nossa cultura. Imitamos copiando o Ocidente na monogamia, e hoje querem que acreditemos que contravalores e atitudes não naturais se enquadram no âmbito da liberdade! Não haverá questão de homossexualidade em nossa casa!
Senhor Presidente;
O que acaba de ser descrito são os tópicos profundamente infelizes de uma ONU hoje resumidos apenas em modo formal:
- 1,2 mil milhões de pessoas estão atoladas na pobreza;
- 2 mil milhões de dólares em armas;
- 20 vezes o orçamento da ONU para a energia nuclear;
- Em questões de desenvolvimento, África recebe 34 mil milhões de dólares do FMI e do Banco Mundial, em comparação com 160 mil milhões de dólares do Ocidente;
- a paralisia do Conselho de Segurança da ONU;
- a paralisia da Organização Mundial do Comércio;
- o aumento das tensões após o reposicionamento geoestratégico;
- a Organização Mundial do Comércio (OMC) está bloqueada;
- O Fundo Monetário Internacional (FMI) e o Banco Mundial (BM), que funcionam como verdadeiros usurários;
- a Organização Mundial da Saúde (OMS), que é cada vez mais dominada por empresas farmacêuticas comerciais, dando assim prioridade comercial, em vez de social, a vacinas como a vacina contra a COVID-19;
- a ONU, que se torna cada vez mais uma sombra de si mesma devido às tentativas de torná-la refém por parte de um conglomerado de potências internacionais, ofuscando assim a clareza e a seriedade na sua tomada de decisões;
- etc.
Consequentemente, o povo africano em geral e o povo do Sahel em particular lutarão vigorosamente para que a CEDEAO, a União Africana e mesmo as Nações Unidas sejam instituições verdadeiramente ao serviço dos povos do mundo para a sua profunda emancipação e verdadeiro progresso social. Porque são os fracassos destas organizações, a sua falta de sinceridade, as suas decisões clientelistas e de geometria variável, o encobrimento da manipulação constitucional da sua parte de crimes, a promoção do mau governo, os saques, a desorganização social e a corrupção que conduzem inevitavelmente à golpes de Estado que, portanto, nada mais são do que consequências.
Então, vamos enfrentar as causas e as consequências desaparecerão por si mesmas. Mas se continuarmos com este jogo de enterrar a cabeça na areia, com a diplomacia da hipocrisia, as mentiras descaradas do Estado, o crime organizado, os ajustes constitucionais e a criação de lacaios à frente dos nossos Estados africanos, incluindo a ONU! corre o risco de não escapar de um golpe de Estado! A bom entendedor bastam poucas palavras!
Neste sentido e para assumir o controlo do seu destino, o Mali, o Níger e o Burkina Faso assinaram a Aliança dos Estados do Sahel, abreviadamente AES.
A AES é uma arquitectura para proteger os nossos países baseada no tratado revisto da autoridade de desenvolvimento integrado da região de Liptako-Gourma. Tendo em conta a situação de segurança e, sobretudo, a falta de franqueza na parceria, trata-se de confiar nos nossos próprios recursos, de tentar congregar os nossos meios e de trabalhar para eliminar descontinuidades nos espaços de manobra operacional.
Senhor Presidente;
Digo-vos com força e firmeza, em voz alta e inteligível que:
Em primeiro lugar, nós, africanos, somos fundamentalmente democráticos. Como prova disso, o nosso apego à dignidade humana transcende a democracia! Portanto, o que rejeitamos é menos democracia do que “a armadilha da democracia” que nos foi armada. Assim, a democracia eleitoral provou ser um meio de controlar os nossos Estados através do jogo das cadeiras de líderes que muitas vezes são impostores, corruptos, ladrões e violadores da Constituição porque são alheios ao único interesse válido dos nossos Estados Africanos.
Em segundo lugar, somos nós, africanos, hoje reconhecidos na nossa DIGNIDADE COMO HOMEM, no sentido de “Um Homem é igual a um Homem”? A resposta, sem dúvida, é NÃO, além das circunstâncias adequadas para nos adormecer e nos escravizar melhor! Triste para o continente negro, cientificamente reconhecido como o berço da humanidade, mas na realidade humilhado, colocado sob controle dominado!
Da falsa independência às guerras fratricidas, da democracia eleitoral à ajuda tendenciosa, das guerras predatórias ao terrorismo maliciosamente fabricado, mantido e injectado nos nossos países africanos, especialmente no Mali, no Burkina Faso e no Níger, há apenas uma constante: somos dominados, eles mantêm o “pé no nosso pescoço”, como foi o caso do nosso infeliz irmão George Floyd nos Estados Unidos. Isso é democracia? E há defensores desta concepção estreita de liberdade para justificar intelectualmente a escravatura e a barbárie contra o nosso povo que luta pela sua dignidade e soberania em nome de um princípio paradoxal de liberdade que, em última análise, assassina a liberdade. Ó Liberdade, que crime não cometemos em seu nome!
É por isso que agora decidimos dizer NÃO! NÃO a todos estes “amigos que nos desejam o bem” a ponto de nos ameaçarem com guerra para impor a sua amizade! Adaptaremos esta democracia tão brandida e cantada pelos Lobos em Pele de Cordeiro, para organizarmos, por nós próprios, a liderança política adequada ao nosso povo com vista à sua FELICIDADE. Sim, a emancipação total e o verdadeiro progresso social do nosso povo constituem o objectivo de todas as acções, sejam elas políticas, económicas, socioculturais e/ou de segurança.
Em terceiro lugar, os povos africanos em geral e os do Sahel em particular descobriram cadeias de alienação económica, de segurança e sociocultural materializadas em acordos secretos com a França e estão empenhados em quebrá-las para a sua verdadeira emancipação. São elas, entre outras: a dívida colonial, não vamos fechar os olhos e pagá-la enquanto deixamos as nossas populações morrer de fome, sede e doenças; A questão monetária, portanto, o franco CFA (franco das colônias francesas da África) não é uma propriedade africana. A nível jurídico, “propriedade” é “o direito de usufruir e dispor das coisas da maneira mais absoluta” (artigo 544 do Código Civil Francês). A França tem, portanto, uma patente sobre o franco CFA; Portanto, possui o franco CFA e aluga-o aos estados africanos de língua francesa. O que também é curioso é que as notas produzidas pela França para a África Ocidental diferem das da África Central no seu valor monetário sob o mesmo nome de franco CFA. O único documento que reconhece o Franco CFA é o Decreto nº 45-0136, de 26 de dezembro de 1945, cujos signatários foram: Charles De Gaulle, Presidente do Governo Provisório; Réné PLEVEN ministro das Finanças e Jacques SOUSTELLE; a prioridade dos interesses e das empresas francesas nos mercados públicos e nos concursos públicos; o direito exclusivo de fornecer equipamento militar e treinar oficiais militares das colônias; etc.
Em quarto lugar, ninguém aplaude um golpe de Estado, mas se ignorarmos que estes golpes são muitas vezes consequências de uma má governação e de alterações constitucionais para obter mandatos adicionais, sempre haverá alguns. Portanto, tenhamos a lucidez de lutar contra as causas reais, exigindo ao mesmo tempo o respeito pelas regras democráticas e uma governação virtuosa.
Quinto, o povo africano não se opõe ao povo francês. Mas é antes a política francesa, cheia de condescendência, que é rejeitada. Na verdade, a França, ao recusar repatriar o seu embaixador rejeitado no Níger, viola o direito internacional, em particular os parágrafos 1 e 2 do artigo 9 da Convenção de Viena sobre Relações Diplomáticas de 1961. Ao decidir sobre a proibição de artistas do Burkina Faso, do Mali e do Níger em França, isto é um grave mal-entendido sobre a importância cultural como motor do equilíbrio familiar, comunitário e até nacional. O artista é um médico psíquico.
Ao declarar que não querem desempregados, imigrantes, ladrões, etc. Em França, nós em África em geral e no Sahel em particular, não queremos os produtores de desempregados e ladrões através da pilhagem cínica dos nossos recursos.
A minha mais sincera gratidão aos povos do mundo e a todas as personalidades de todos os níveis que compreendem e acompanham o Burkina Faso, o Mali e o Níger nesta escalada certamente difícil mas sacerdotal no caminho da emancipação plena, expressão da dignidade, da honra, da liberdade, igualdade, prosperidade, Justiça e, portanto, Paz.
Dada a situação enfrentada pelo Burkina Faso, o governo do Burkina Faso implementou ações enérgicas através da adoção de um novo plano de desenvolvimento, o Plano de Ação para a Estabilização e Desenvolvimento (PA-SD 2023-2025), e os seus quatro eixos prioritários que são:
A luta contra o terrorismo e a restauração da integridade territorial;
A resposta à crise humanitária;
Reconstrução do Estado e melhoria da governação;
Reconciliação nacional e coesão social.
Estes esforços visam oferecer melhores condições de vida à população burkinabe. Embora saudemos todos os parceiros de todo o mundo que nos apoiam, convidamos fortemente aqueles que ainda têm dúvidas ou estão paralisados por relatórios com conteúdo falso a serem bem-vindos no Burkina Faso, desde que a parceria se enquadre na visão da Transição resumida nestes quatro eixos.
Viva a ONU!
Viva a 78ª sessão da Assembleia Geral!
Viva o povo em luta!
Viva a solidariedade entre os Povos!
Viva a África Livre!
Viva a Aliança dos Estados do Sahel!
Viva Burkina Faso, terra de homens íntegros!
ATÉ À VITÓRIA, SEMPRE!
Pátria ou morte, venceremos!
25/Setembro/2023Ver também:https://www.youtube.com/watch?v=LoqZ2zxS_U8 (íntegra deste discurso)[*] Representante do Burkina Faso na 78ª sessão da Assembleia Geral da ONU.A versão em castelhano encontra-se em albagranadanorthafrica.wordpress.com/2023/09/28/burkina-faso-leccion-de-historia-del-pais-de-los-hombres-rectos/. A tradução foi feita a partir da versão em castelhano, a qual tem deficiências. O original pode ser ouvido no YouTube.Este discurso encontra-se em resistir.info
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