
(Foto: Reuters/Erin Scott | Marcelo Camargo/Agência Brasil)
"Polarização deve se estender por toda a primeira metade do século XXI", prevê Emir Sader
brasil247.com/
2023 confirmou que o novo século também será um século de guerras. Não há perspectiva de que os conflitos na Ucrânia e em Gaza cheguem ao fim.
A Ucrânia pede desesperadamente aos Estados Unidos que encerrem o apoio militar e a ação da OTAN, pois isso fortaleceria a Rússia. Não seria o fim do conflito, mas um enfraquecimento do governo de Zelensky. A situação torna-se ainda mais séria com a possível expansão do confronto militar entre Israel e Hamas.
Israel reitera sua disposição de intensificar sua ofensiva contra a Palestina, buscando sua destruição. Essa ação resulta no maior genocídio deste século, com condições de se estender para o próximo ano e, provavelmente, para toda a década.
Essa é a base da guerra da nova polarização política entre o bloco liderado pelos EUA e o bloco agrupado em torno dos BRICS. Essa polarização deve se estender por toda a primeira metade do século XXI.
Na América Latina, a situação atual continuará. Foi um bom ano para o Brasil, com o retorno de Lula à presidência, marcando o fim do período de ruptura democrática iniciado pelo golpe de Bolsonaro.
A economia e o emprego voltam a crescer. Contudo, o Brasil ainda lida com a herança do período do golpe contra Dilma Rousseff e Lula. Ele tem que governar sem maioria no Congresso, negociando caso a caso, e sendo forçado a incluir as forças centristas no governo.
Outra herança é um presidente do Banco Central neoliberal que mantém uma taxa de juros muito alta. Lula terá que lidar com essa situação por mais um ano, completando metade de seu governo. A taxa de crescimento da economia continuará impactada por esse fator, o que reduz a taxa de recuperação do crescimento.
O país avança na transição do neoliberalismo para o pós-neoliberalismo, uma longa jornada, mas que deve consolidar um caminho sólido para o Brasil ao longo da primeira metade do século XXI. O retorno de suas políticas sociais clássicas e a incorporação de outras diminuem a desigualdade no país mais desigual do continente.
O Brasil continua sofrendo de isolamento em relação à sua parceira tradicional, a Argentina, que segue um caminho radicalmente oposto. A eleição de Milei significou o retorno da versão mais radical da implementação do estado mínimo.
Caso ele consiga manter-se no governo - o que é duvidoso, dadas as medidas repentinas e extremas de direita que começou a tomar - a Argentina enfrentará um revés radical por muitos anos. Pelo menos, o país viverá uma crise política prolongada, até que consiga se estabilizar em um determinado nível.
México e Colômbia são outros países que alcançaram um certo nível de estabilidade política, resistindo ao neoliberalismo. A existência de dois políticos com grande capacidade de liderança, semelhantes ao Brasil, como López Obrador e Gustavo Petro, é uma condição indispensável para que esses países resistam ao neoliberalismo. A Bolívia é outro país que resiste ao neoliberalismo. É provável que esses países mantenham esse nível ao longo do próximo ano. Mas, se conseguirem se articular com o Brasil, terão melhores condições de resistência.
A América Latina, após várias idas e vindas ao longo deste século, não é mais uma região que, globalmente, é uma exceção, como foi nas duas primeiras décadas do século. Países como Argentina e Uruguai são vítimas da onda neoliberal e dificilmente superarão essa situação este ano. O Equador não é apenas uma vítima do neoliberalismo, enfrentando também uma crise de segurança.
De maneira geral, a situação internacional, e particularmente a da América, pode sofrer mudanças com a eventual eleição de Trump nos Estados Unidos, tanto na política americana quanto na relação desta com o continente.
Desde o surgimento dos BRICS, o mundo está irreversivelmente dividido entre dois blocos. O surgimento dos BRICS é a maior novidade deste século, devendo marcar pelo menos a primeira metade do século XXI.
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