terça-feira, 14 de maio de 2024

É boa a vida das quadrilhas de fake news


Dinheiro e enchentes no Rio Grande do Sul (Foto: Agência Brasil I Ricardo Stuckert)

“Os poderosos que produzem e divulgam mentiras nunca foram alcançados pelo sistema de Justiça”, escreve o colunista Moisés Mendes

Moisés Mendes

Uma informação para estragar o ânimo dos otimistas com a chance de enquadramento dos disseminadores de fake news sobre a tragédia gaúcha: a lista de criminosos da CPI da Covid tem 79 nomes, e 29 são citados por incitação ao crime e propagação de mentiras na pandemia.

Não há um só indiciado pelo Ministério Público. Nenhum dos 29 apontados como propagadores de farsas e incitadores de crimes contra a saúde pública foi alcançado pelo MP. E não só eles. Todos os outros 50 listados no relatório, pelos mais variados delitos, estão impunes.

Todos são manezões. Não há manezinhos na relação de criminosos identificados pela CPI, que em outubro de 2021 entregou seu relatório ao Ministério Público.

Não há nada, nada, nada que indique que essa inércia será alterada, três anos depois da instalação da CPI. Nada. Nenhum gesto. Nenhuma manifestação do MP.

Há apenas o vago compromisso do novo procurador-geral, Paulo Gonet, junto a ex-membros da CPI, de que pode vir a reexaminar os casos dos que tinham ou ainda teriam foro privilegiado e foram enfiados em gavetas por Augusto Aras.

Mas é preciso lembrar que os sem-foro, e que são a maioria, também continuam impunes. Generais, coronéis, civis protegidos por Bolsonaro, diretores da clínica Prevent, vampiros vendedores de vacinas e de cloroquina, todos estão impunes.

Consta da lista, como aparece em outras investigações, o mais famoso ativista de extrema direita do mundo empresarial durante o governo Bolsonaro, o autoproclamado véio da Havan.

Está impune e de volta ao palco, vestido de novo com a fantasia que Moraes caracteriza como verde periquito, agora como benemérito dos salvamentos no Rio Grande do Sul.

Aclamado como herói por ter emprestado dois helicópteros, não se sabe se os mesmos aparelhos sob investigação do TSE porque teriam sido usados na campanha de 2022 da eleição do senador bolsonarista catarinense Jorge Seif.

Além do dono da Havan, Bolsonaro, os filhos de Bolsonaro, os militares que trabalhavam para ele e o tutelavam, os intermediários de negócios escabrosos, todos estão impunes. Porque todos são poderosos.

São manezões, como também são muitos dos que disseminam fake news para sabotar as ações de socorro às vítimas das cheias. São protegidos por escudos que o sistema de Justiça não consegue romper.

O sistema não consegue chegar a Jair, Flavio, Eduardo e Carlos Bolsonaro, Eduardo Pazuello, Braga Netto, Onyx Lorenzoni. Elcio Franco, Bia Kicis, Carla Zambelli, Osmar Terra, Fabio Wajngarten, Carlos Wizard. Porque são poderosos. Como são os donos da Prevent.

Só a chinelagem do bolsonarismo, por outros motivos variados e em casos esparsos, já foi condenada por fake news. Enquanto as corporações das redes sociais e seu amigão Arthur Lira enrolam e desafiam MP e Judiciário, como se esse não fosse um problema deles.

Alguns dos disseminadores de fake news sobre as cheias já pediram desculpas pelo que disseram. Cometem o crime, acionam as hienas, ficam bem com as facções do fascismo, são aplaudidos e depois fingem recuar. E saem gargalhando.

Não há nada indicando que algum otimismo, por mais tênue que seja, possa se sustentar hoje ao lado do esforço do governo para punir os disseminadores de notícias falsas.

O ministro da Secom, Paulo Pimenta, o homem mais forte de Lula na gestão da crise gaúcha, cumpre bem seu dever de anunciar que os criminosos serão alcançados. Mas não depende só do governo a missão de pegá-los.

Espera-se que a Polícia Federal cumpra seu papel de identificar e reunir provas contra os mentirosos. A PF já cumpriu bem sua tarefa em outros casos, mas nada avançou.

Não temos, para citar outros exemplos, nenhum sinal que possa ser percebido como efetivo em relação aos bloqueios de estradas pelos golpistas, aos atentados contra as torres de transmissão de energia e à disseminação do golpe, mesmo depois da eleição, em reuniões e mensagens de zap por empresários e figuras em cargos públicos.

Pensar que agora será diferente é buscar a proteção da esperança. Mas não há como regar esperanças nessas circunstâncias e com esse histórico desolador. Os propagadores de fake news podem vencer de novo.

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