terça-feira, 18 de junho de 2024

Evangélicos no Poder


Bancada Evangélica no Congresso Nacional

Nonato Menezes

O número de evangélicos neopentecostais no Brasil é um nicho eleitoral potencialmente importante. Hoje podemos observar que seu número e poder é tão grande que eles constituíram uma bancada própria no congresso nacional, a poderosa Bancada Evangélica. E mais, não é só no Congresso que os evangélicos detêm poder, em vários legislativos do país, tanto municipais quanto estaduais, os evangélicos políticos estão organizados e têm peso político extraordinário na hora das decisões destas casas. Como exemplo basta que se olhe a conquista desta semana da bancada evangélica junto ao governo do poderoso Estado de São Paulo que conseguiu conquistar a isenção de impostos em certas transações comerciais.

Neste cenário, passadas as eleições, temos que nos perguntar: como lidar com esses 42 milhões de brasileiros majoritariamente de ideologia conservadora de direita e de extrema-direita? Que estratégias usar para ter o apoio dessa gente sem ter que enveredar pela “Teologia da Prosperidade” e sem se aliar ao discurso traiçoeiro que usa Deus como isca para aliciar, dominar e acumular riqueza?

Não são perguntas de respostas simples. Tão pouco são questões a serem desprezadas, justamente porque, mesmo num governo progressista, não há como ignorar esse grupo social, nem os deixar à margem das decisões estratégicas do governo.

Antes de opinar sobre o tema, recorrer um pouco à História dos evangélicos no Brasil é necessário, ainda que seja através de fragmentos dela.

A inserção do pentecostalismo no Brasil tem seu início na década de 1970, logo depois de surgir nos Estados Unidos, com a fundação de várias novas igrejas, as pentecostais. Para chegar entre nós, este movimento religioso contou com a contribuição não só das igrejas americanas, mas até do Estado ianque que tinha interesses políticos e econômicos e usava sua religião para atingi-los.

Neste processo o governo americano se utilizou de vários instrumentos do Estado, entre eles a Cia, que se envolveu ativamente na ação de inserção e implantação da referida corrente evangélica no Brasil, fato que é de amplo conhecimento público. As fontes de informações são diversas, entre elas se destacam os relatórios dessa agência que ajudam a esclarecer suas ações e seus métodos escusos. Vale ressaltar que neste caso, os documentos indicam que o objetivo específico da ação era o de combater a Teologia da Libertação que estava dominando as igrejas cristãs católicas na América Latina e substitui-la pelo neopentecostalismo, objetivando implantar, no Brasil, uma ideologia político-religiosa muito mais alinhada com os interesses americanos de colonização cultural e política da América Latina.

Em que pese as igrejas protestantes tradicionais de origens europeias, mas sobretudo da América estarem no Brasil desde os fins do século XIX, a chegada das evangélicas neopentecostais se, e de forma acelerada, inicia a partir da década de 1970.

Apoiados ideológica e politicamente pelo governo americano e pela CIA, os evangélicos desenvolveram e sustentam seu crescimento orientados pelo ideário da doutrinação alienante e da prosperidade econômica. A prosperidade que viria da fidelidade aos seus líderes e da fé cega no “Senhor”, que passou a ser vendida como caminho promissor e inarredável para a “conquista” material, ainda que às custas do sacrifício dos fiéis, das mentiras repetidas mais de mil vezes e dos muitos apelos ordinários dos embusteiros da fé.

Foi por esse caminho que chegamos até aqui. Numa construção que revela, de fato, o que os evangélicos têm produzido e estão disputando e que não confere com o que tem sido prometido por eles. O que percebemos com certa clareza é a pobreza material sendo mantida entre os fiéis paralela à vida nababesca de suas lideranças e uma feroz disputa pelo poder político construída, invariavelmente, com discursos e métodos nazifascistas.

Como ressalva e não como pedido de desculpas, esclareço o que percebo no mundo evangélico aqui no Brasil. Não é o exercício pleno da Religião, centrado no apego subjetivo à Fé em busca de afago às carências da alma, envolvida em sentimentos de contrição. Vislumbro, porém, a prática evangélica como fenômeno cultural, empresarial, político e de identidade, com seus rituais que chamam atenção pela extravagância, pela pieguice, pela obediência cega e crença exacerbada no discurso traiçoeiro de suas lideranças caricaturais.

Ao alcance dos nossos olhos o que se apresenta, com os exemplos e pelos fatos, é a exploração da fé dos inocentes, dos carentes de subsistência mínima e de desejos luminosos de conforto. Exploração que, em essência, se assemelha a exploração dos trabalhadores no quesito relativo às estratégias de manipulação das consciências.

Eis, portanto, um pouco da troça que alumia a prática e o discurso evangélico, travestidos de intensões imaculadas, arrastadas pela Fé intransigente em Deus e na prosperidade.

Quem busca apoio político dessa gente, seja para se eleger e ou para governar, deve ir afiançado de que não está dando um pulo no escuro. Mas deve saber de antemão que qualquer apoio que vir a ter, só será possível mediante renúncia, inclusive, de princípios. O que não é nada fácil para quem, ao longo da história, defende bandeiras progressistas de natureza civilizatória.

É nesse terreno que o Governo Lula está a trançar seus feitos e seus projetos, inclusive com acenos teológicos e, certamente, com boas intensões. Ainda que o presidente não tenha em mente que esta é uma estratégia de alto risco, cabe lembrar aqui o que mais os evangélicos precisam, já que a maioria está nas camadas populares. Essa gente necessita de casa, comida, atendimento à saúde, educação e renda. Justiça se faça em reconhecer que este governo vem atuando precisamente, também, em prol dessa população, o que, aliás, já lhe rende os atributos para merecer qualquer apoio, exceto, claro, dos que se extasiam com a miséria alheia.

O que pode valer como aviso, certamente insuficiente, que fiquem atentos o governo e os partidos progressistas quando quiserem apoio e tiverem que se alinhar ao discurso farisaico e à prática nada santa dos embusteiros da fé.

 




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