quarta-feira, 9 de outubro de 2024

A ESQUERDA PRECISA SE ATUALIZAR - O culto à erudição na esquerda: quando a revolução se torna seminário

Movimento em defesa da democracia e dos direitos sociais. - Foto: Guilherme Santos/Sul21

A revolução não pode ser como ocorreu nos séculos passados, mas sim, considerar o mundo digital que vivemos hoje

Diogo Almeida Camargos

Como alguém de esquerda, é inevitável perceber que, em muitos momentos, nos perdemos em um universo “cult” e altamente técnico. Enquanto debatemos teorias profundas e complexidades do mundo, certa parte da juventude e as classes populares – que precisam de mudança – se veem alheios a esses discursos. Pior ainda, a esquerda ainda não acordou para o mundo digital, para a linguagem fácil e para dar respostas sem dar voltas e voltas em teorias complexas.

O fetiche da complexidade: quando a revolução vira monografia

A esquerda com sua bagagem intelectual, muitas vezes trata temas essenciais de maneira tão rebuscada que parece estar mais preocupada em impressionar a si mesma e manter um certo status quo do que em se comunicar com a sociedade. O discurso cheio de referências e temas técnicos pode ser fascinante para acadêmicos, mas para a pessoa comum, que lida com a precariedade todos os dias, simplesmente não tem tempo para uma discussão abstrata.

Enquanto falamos de “contradições sistêmicas”, “luta de classes” e “hegemonias de poder”, a direita aparece com promessas simples: “mais segurança”, “mais emprego”, “menos impostos”. São mensagens diretas, que apesarem de serem fantasiosas, são fáceis de entender e atraentes para quem vive a realidade dura do dia a dia, além de caber em um Tweet.

Promessas vazias, votos cheios: a fórmula do sucesso da direita

A direita tem sido extremamente hábil em se apropriar da linguagem da simplicidade e das soluções fáceis e rápidas. Ela oferece respostas diretas, sem enrolação ou discussões teóricas exaustivas para os problemas que as pessoas enfrentam diariamente. Ainda que tais soluções sejam superficiais ou inviáveis racionalmente, elas tocam diretamente nas preocupações cotidianas de parte da população. A fórmula é certeira: quanto mais fácil e direta a mensagem, maior o apelo junto às massas.

Esse discurso simplista não precisa de teorias ou estudos para ser eficaz. Ela explora o medo e o desejo de mudança imediata de forma eficiente, enquanto a esquerda parece preocupar-se em debater como “descontruir o capitalismo globalizado” em mesas redondas, seminários e grupos de estudos. Na prática, enquanto debatemos entre paredes e portas fechadas, a direita está na rede, conquistando corações e mentes com slogans de promessas, que geram uma identificação na camada mais pobre da sociedade. Pois, ora, quem não quer ouvir aquilo que deseja?

Entre citações e slogans: a revolução não acontece no rodapé

Essa diferença de abordagem entre a esquerda e a direita se reflete nas urnas. A esquerda, com sua mensagem intelectualizada e distante, tem dificuldades de mobilizar jovens e classes populares, os mesmos que sofrem com o sistema que criticamos. Do outro lado, a direita, com sua simplicidade e apelo ao emocional, cresce em popularidade, prometendo mudanças imediatas que, embora sejam meras ilusões, são atraentes para os problemas do cotidiano.

A verdadeira revolução que a esquerda tanto quer, infelizmente não vai começar em seminários, mas sim no diálogo direto com as pessoas, não em debates internos que muitas vezes são inacessíveis a população. Pois não querem saber o que pensaram Marx, Lukács, Florestan, entre tanto outros pensadores que são necessários para entender os reais problemas da sociedade brasileira.

A esquerda precisa se atualizar, falar a linguagem digital, se tornar acessível, se conectar de forma verdadeira ao povo, ela precisa tomar as dores diárias do povo. Isso significa estar presente nas comunidades, escutar as necessidades que afligem cada um e cada uma. A revolução não pode ser apenas uma retórica distante, ela deve ser uma prática viva quer reflete as preocupações cotidianas da população. Contudo, a revolução não pode ser como ocorreu nos séculos passados, mas sim, considerar o mundo digital que vivemos hoje.


Diogo Almeida Camargos é formado em Gestão Financeira pelo Centro Universitário Una, certificado em CPC-P, especialista em Direito Penal Empresarial e em Direito Penal Econômico pelo Centro Universitário União das Américas, Master in Business em Governança, Risco e Controles e especialista em Direito Empresarial pela Faculdade Cedin.



 

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