Lula e bandeira do PT em frente ao Congresso Nacional (Foto: ABR | Divulgação)
“Se ninguém disse que o ativismo de esquerda deve ir para o centro, por que essa gritaria?”, pergunta o colunista Moisés Mendes
Moisés Mendes
Quem tiver talento para produzir tutoriais e mentorias pode começar uma lição com esse título acima: não desista de ser de esquerda. E logo depois acrescentar, com um olhar enviesado de alta sabedoria: para que exista um centro, é preciso que existam direita e esquerda.
A esquerda mal-humorada não irá gostar dessa ideia. Nem a esquerda arrogante, que toma porre de Campari nos Jardins e sai gritando para que a militância, Lula, Haddad e Simone Tebet partam para o enfrentamento com a direita.
Mas alguém precisa alertar uma certa inteligência que faz a cabeça de muita gente: ninguém disse a quadros e militantes das esquerdas que eles devem desistir de refundar raízes, resistir, avançar e afrontar o fascismo. Ninguém disse que não devem mais ser de esquerda.
Então, que continuem fazendo ativismo, com retórica e ação política de esquerda, porque é disso que Lula e todos os que estão no poder, em nome das esquerdas, continuam dependendo. Sejam lulistas.
Alguém precisa pensar e agir com posições até à esquerda do PT e dos demais partidos de esquerda, para que Lula continue tentando se entender com o centro e possa governar.
É simples assim. A esquerda precisa ser forte lá nas bases, para que tenha, como governo, o respeito da direita e possa contar com o centro como aliado no poder.
Parece tudo simplificado demais, mas é a hora de simplificar. A militância segue fazendo o que a esquerda deve fazer, enquanto os que estão no governo tentam se equilibrar na corda bamba. E não há equilíbrio possível nessa corda cada vez mais bamba sem a sombrinha do centro.
Mas essa tarefa de ser esquerda é também dos mandatos, dos que desfrutam das farturas e das hegemonias paroquiais asseguradas pelo fundo partidário e já arrancam na frente de todos, incluindo os prefeitos que contam, tanto quanto seus colegas da direita, com a dinheirama das emendas.
Militância e mandatos precisam se acertar para que não deixem de ser de esquerda e para que parem de cobrar de Lula que ele seja um esquerdista ao falar com Arthur Lira.
São os quadros e seus líderes com ou sem mandato, em Brasília ou Barbacena, e os que vão a campo que devem tentar puxar o governo para a esquerda, enquanto a direita puxa Lula para o seu lado e continua extorquindo.
É o que precisa ser feito por Lula, ao mesmo tempo em que os analistas tentam descobrir, na pizza das prefeituras conquistadas pela direita, quais são as fatias da velha direita, nova direita, do centro e da extrema direita do bolsonarismo sem Bolsonaro.
Parece cansativo, mas essa é uma controvérsia que diverte mais as esquerdas: fazer o fatiamento que ajude a entender qual é o pedaço de cada um nos latifúndios de Kassab, Bolsonaro, Caiado, Valdemar Costa Neto, Tarcísio de Freitas e na fazendola de Pablo Marçal.
Claro que ninguém vai dizer, como dizem as mentorias com alta audiência e alto impacto, que só irão sobreviver os que suportarem o mau tempo. Mas, nessa linha, dá pra dizer que o temporal ainda não passou.
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