sexta-feira, 4 de outubro de 2024

Os cenários com Marçal que puxam a extrema direita para um pesadelo

Pablo Marçal (Foto: Reprodução/YouTube/CNN Brasil)

“O confronto entre Nunes e Marçal seria devastador para o bolsonarismo ainda tutelado por Bolsonaro”, escreve o colunista Moisés Mendes

Moisés Mendes

O melhor cenário de segundo turno em São Paulo é o que está quase pronto, com Boulos contra Marçal. É o que pode salvar a cidade e as melhores expectativas para 2026. Porque Boulos derrotaria Nunes no primeiro turno e Marçal no segundo. Abalaria Bolsonaro, Tarcísio e toda a extrema direita.

Como Bolsonaro e Tarcísio irão se comportar, depois dos ataques ao ‘arregão e traidor’, num segundo turno de Marçal contra Boulos? Seria divertido acompanhar o dilema diante da única possibilidade de vitória relevante do fascismo, não só contra Boulos, mas muito mais contra Lula.

Mas o cenário mais espetacular, o mais terrivelmente tentador, seria o duelo de Marçal com Nunes. Esse embate iria expor os subterrâneos do bolsonarismo, numa guerra interna suja e com danos devastadores e imprevisíveis.

O enfrentamento Marçal x Nunes provocaria situações impagáveis do ponto de vista do entretenimento. O que Bolsonaro faria, sabendo que, se entrasse na briga por Nunes, poderia ser atacado pela base raiz que está do outro lado, fiel ao cara do PRTB?

Vale para Tarcísio de Freitas, o único bolsonarista que apostou tudo no prefeito até agora. O governador dobraria a aposta num segundo turno, se o cenário não fosse tão confortável para Nunes como mostram hoje as pesquisas, e se o bolsonarismo pró-Marçal contestasse esse apoio?

O impacto de um confronto entre os dois provocaria a fragilização das bases do bolsonarismo, defensor da manutenção da tutela de Bolsonaro. Segundo o Datafolha, Marçal tem o apoio de 51% dos que votaram em Bolsonaro. Nunes tem apenas 32%.

Na pesquisa anterior, de setembro, Marçal tinha 43%. Entre uma pesquisa e outra, no debate no SBT ele disse que mulher não vota em mulher. A rejeição entre as eleitoras cresceu para 59%, mas o ex-coach conseguiu o que pretendia: fortaleceu o engajamento dos machos bolsonaristas.

A conta de chegada mostra que pode ter saído ganhando, com o crescimento para 24% das intenções de voto, empatando com Nunes e a dois pontos de Boulos. Marçal apostou tudo no alargamento da sua base bolsonarista.

Os machos deram a Marçal o que as mulheres tiraram: 60% dos que votam nele são homens. A rejeição geral do eleitorado, de 53%, é o custo a ser enfrentado mais adiante.

Num segundo turno, hoje ele perderia para todos, para Boulos, Nunes e Tabata. Mas um segundo turno contra Nunes não seria medido por réguas da normalidade, coisa que inexiste no cenário brasileiro há muito tempo.

Um duelo Nunes x Marçal pode até ser vencido com facilidade pelo prefeito. Mas com danos para Tarcísio e Bolsonaro. Vencer não é a única questão a ser considerada.

Bolsonaro, derrotado no Rio com o anunciado fiasco de Ramagem, ficaria avariado em São Paulo na guerra contra uma figura hoje mais temida do que Boulos entre boa parte dos que se consideram donos do bolsonarismo.

A ascensão de Marçal ameaça Bolsonaro, os filhos dele, Valdemar Costa Neto, o PL, o que sobrou dos tucanos, o velho MDB, o poder dos pastores evangélicos, Malafaia e os planos mais ambiciosos de Tarcísio.

Além de Ricardo Salles, Carla Zambelli e Nikolas Ferreira, que já embarcaram no trio elétrico desencapado de Marçal, outros poderiam debandar do bolsonarismo tutelado por Bolsonaro, apostando talvez nem tanto no curto prazo da eleição à prefeitura, mas em Marçal como construção de uma alternativa para 2026.

A prosperidade prometida por Marçal sensibiliza crentes de todas as religiões, e não só os neopentecostais, engaja os jovens de classe média (coisa que o inelegível nunca conseguiu) e oferece noção de perspectiva para a direita.

Até a criança que deu o relógio de pulso a Marçal, e que ele cita a todo momento, sabe qual é o resumo do drama de Bolsonaro. Seus eleitores, que vieram com o líder até aqui, dizem que Marçal é em São Paulo, mais do que Ramagem no Rio, a expressão do bolsonarismo.

O arregão e traidor, rejeitado e esnobado por Bolsonaro e pela família, atacado por Malafaia e Tarcísio, esse arregão é o verdadeiro bolsonarista, dizem os eleitores. A extrema direita raiz agarra-se a Marçal, e não a um sujeito frouxo e vacilante do velho MDB.

É preciso que um confronto Nunes x Marçal fique apenas na imaginação. Mas é tentador imaginá-lo como pesadelo para o bolsonarismo.


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